A escola é um dos principais espaços de formação humana e social. É ali que crianças, adolescentes e jovens experimentam, diariamente, o desafio da convivência com o outro – com suas diferenças, limites, histórias e afetos. No entanto, é também nesse território que emergem conflitos, tensões e, muitas vezes, expressões de raiva, violência e agressão.
Esses sentimentos, quando não compreendidos e mediados, podem romper vínculos, gerar exclusões e comprometer a saúde emocional da comunidade escolar. Por isso, pensar a Convivência Escolar vai muito além da disciplina: trata-se de construir, de forma intencional e coletiva, um ambiente de escuta, acolhimento e respeito.
É nesse cenário que a Educomunicação se apresenta como uma aliada estratégica. Ao promover práticas de diálogo, escuta ativa e expressão criativa, a Educomunicação oferece caminhos para ressignificar emoções intensas e promover relações mais saudáveis.
Raiva não é inimiga – é um pedido de cuidado
A raiva, por exemplo, é uma emoção legítima. Ela sinaliza que algo nos fere, nos inquieta ou nos ameaça. O problema não está em senti-la, mas em como lidamos com ela. A escola precisa ser um espaço que ensine – por meio de projetos, mediações e vivências – que sentir raiva não precisa culminar em violência ou agressão. E a Educomunicação pode ser essa ponte.
Com oficinas de rádio, programas de podcast, produção de vídeos, criação de jornais comunitários e jornal mural, participação de agencias de notícias Imprensa Jovem, os estudantes encontram linguagens e meios para expressar o que sentem, refletir sobre seus conflitos e propor alternativas. Falar sobre o que incomoda, dramatizar situações do cotidiano, escrever cartas abertas ou criar campanhas de convivência são práticas que fortalecem vínculos e criam repertório emocional e social.
Escuta, expressão e empatia: bases para uma cultura de paz
Projetos educomunicativos também ajudam a identificar situações de bullying, preconceito, discriminação e violência simbólica. Ao escutar a voz dos estudantes, suas dores e narrativas, a escola amplia sua capacidade de acolhimento e intervenção.
Um exemplo disso é o uso de dramatizações ou podcasts em que os próprios alunos contam histórias de superação de conflitos, propondo caminhos de reconciliação. Esses relatos têm um forte potencial de empatia, pois falam com a linguagem dos pares e ativam sentidos de pertencimento e solidariedade.
Educomunicação para transformar relações
Integrar Educomunicação à pauta da Convivência Escolar é reconhecer que os conflitos fazem parte da vida em comum, mas que eles podem ser enfrentados com diálogo, criatividade e participação.
Ao estimular a produção midiática como ferramenta pedagógica e relacional, a escola passa a não apenas ensinar conteúdos, mas também a mediar afetos, formar cidadãos críticos e construir um ambiente onde a paz seja um projeto coletivo.
Em tempos de tantas polarizações e expressões de intolerância, transformar a escola em um espaço de escuta e expressão genuína é, mais do que nunca, um ato de resistência e de esperança.
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Imagem: Reprodução G1
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