Recordo os aniversários da infância, que mais se assemelhavam a encontros comunitários. Naquela época, não nos importávamos com os presentes, mas com a possibilidade de saborear uma Coca-Cola – algo raro, mesmo aos domingos durante o almoço em família. As crianças da rua eram sempre convidadas a participar daquele momento festivo.
Hoje, no playground do condomínio, uma criança perguntou à mãe se poderia ir à festa realizada no salão de festas, logo ao lado – a celebração da família de um de seus amiguinhos. A mãe respondeu que ele não poderia ir, pois não havia sido convidado, e logo acrescentou: "Vamos subir, vamos à praça aqui do lado."
Assim, a criança passou em frente à festa e ao pula-pula, quando seus coleguinhas o chamaram: "Vem para a minha festa!" Ele, então, replicou: "Minha mãe vai me levar à praça."
Fico imaginando como, hoje em dia, a cultura dos condomínios se tornou tão privativa que, mesmo morando no mesmo prédio, muitos sequer conhecem os vizinhos imediatos. Na nossa infância, até mesmo quando um parente falecia, nos reuníamos em casa e pessoas de todas as ruas se juntavam para se despedir daquele que um dia fez parte do nosso cotidiano. As mães preparayvam café e bolo para receber a todos, e acompanhávamos, em cortejo, o sepultamento dos entes queridos até o cemitério.
O mundo vem mudando consideravelmente, e as relações humanas parecem se restringir a círculos cada vez mais reduzidos.
Por Carlos Lima: Educomunicador e professor
Foto: Afonso Pimenta, 1988
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