terça-feira, 27 de maio de 2025

Como os projetos de Educomunicação podem apoiar as aprendizagens em Língua Portuguesa




O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é um indicador criado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) que mede a qualidade da educação nas escolas públicas brasileiras. Ele é calculado a partir de dois componentes principais:

1. Desempenho dos estudantes em avaliações padronizadas (como a Prova Brasil/Saeb), especialmente em Língua Portuguesa e Matemática.

2. Taxa de aprovação escolar, ou seja, o fluxo escolar (sem reprovações ou abandono).

Como os projetos de Educomunicação podem apoiar as aprendizagens em Língua Portuguesa

Os projetos de Educomunicação, como o Imprensa Jovem, podem contribuir diretamente para a melhoria dos índices de Língua Portuguesa ao promoverem atividades práticas de leitura, escrita, oralidade e interpretação de textos. Veja como:

1. Produção de conteúdos reais

Estudantes escrevem roteiros, reportagens, entrevistas, resenhas e artigos de opinião.

Essas práticas desenvolvem habilidades de escrita autoral, coesão e coerência textual, fundamentais na prova do Saeb.

2. Leitura crítica e interpretação

Analisar notícias, campanhas midiáticas e diferentes gêneros textuais estimula o pensamento crítico e a interpretação de textos, habilidades centrais em Língua Portuguesa.

3. Oralidade e argumentação

Gravação de podcasts, vídeos e entrevistas favorece a expressão oral, organização de ideias e argumentação, que são avaliadas nas práticas pedagógicas de Língua Portuguesa.

4. Engajamento e protagonismo

A motivação dos estudantes aumenta quando produzem algo significativo para a comunidade. Isso melhora o engajamento com os conteúdos curriculares, inclusive os de Língua Portuguesa.

 5. Trabalho interdisciplinar e colaborativo

A Educomunicação integra múltiplas áreas do conhecimento, promovendo aprendizagens significativas e contextualizadas, o que potencializa o desempenho dos estudantes.

Por Carlos Lima

Foto : Imprensa Jovem 


domingo, 25 de maio de 2025

O Canto do Sabiá: Infância, Encanto e Identidade

Todos os dias, as crianças da escola são recebidas com cantoria. Com minha turma, começamos a manhã em roda — como um ninho redondo e aconchegante — , onde cantamos juntos diferentes canções.

Acredito que a musicalização é um momento precioso, cheio de possibilidades para contribuir com o desenvolvimento integral das crianças. Além das tradicionais canções infantis, apresento a diversidade dos ritmos que compõem a nossa cultura. Por isso, levei para a nossa roda o samba de coco e a catira, ritmos cheios de história e identidade. Nessas músicas, um personagem especial aparecia: o pássaro sabiá.

A presença do sabiá nas letras despertou a curiosidade dos pequenos — muitas crianças passaram a acreditar que todos os pássaros vistos durante as brincadeiras no parque eram o sabiá-laranjeira. Foi bonito ver como a música se estendeu para além da roda, despertando o olhar atento, a imaginação e o encantamento com a natureza ao redor. Esse despertar para o sabiá virou pesquisa: conhecemos canções como as do Mestre Suassuna. Descobrimos ali outra paixão — a capoeira — , tornando nossas rodas de musicalização momentos de construção de identidade por meio da história, das culturas e do movimento.

O sabiá, com seu canto doce e inconfundível, é uma das aves mais queridas do Brasil. Entre suas muitas espécies, destaca-se o sabiá-laranjeira, escolhido como símbolo nacional por sua presença marcante e pela beleza do seu canto, que ecoa ainda antes do amanhecer, anunciando o novo dia com delicadeza.

Poetas e músicos se inspiraram em sua melodia serena, eternizando o sabiá como símbolo de memória, natureza e liberdade. Apesar de sua origem nas matas e florestas, ele se adaptou com graça à vida nas cidades, onde continua encantando territórios periféricos, como os parques da nossa escola. E, ao ouvir o canto de resistência nas vozes das crianças — “que povo é esse que sabe se defender, que povo é esse que sabe se defender?” — com a marcação das palmas e todos em roda no jogo da capoeira, entoando a música Sabiá cantou, senti, naquele instante, a inspiração que daria origem a minha escrita.

Acredito em uma escola que, como o ninho de um sabiá, acolhe, cuida e incentiva voos livres e altos — uma escola que, como seu canto, nos lembra quem somos, de onde viemos e para onde queremos voar.

“E assim, em meio à simplicidade de um dia comum, a inspiração brotou — como uma semente livre, trazida pelo sabiá.”

Por Mariana Damasceno de Oliveira

Fonte : 

https://medium.com/@maridamas/o-relato-de-viv%C3%AAncia-que-inspirou-o-nome-sabi%C3%A1-5d46a6209d30

sábado, 24 de maio de 2025

Como nasceu o setor Núcleo de Educomunicação

Minha trajetória com a Educomunicação começou muito antes da criação oficial do programa Educom.Rádio na Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Já devo ter contado essa história aqui no blog, mas retomo agora como um registro histórico importante.

Tive a honra de participar de uma das edições da série de documentários História Oral, gravada entre 2016 e 2017, com grandes educadores que contribuíram para a história da Secretaria Municipal de Educação. Ao contar minha história de vida, fui também revisitando o caminho trilhado nos projetos e programas de Educomunicação.

Comecei minha atuação no projeto Educom.Rádio na escola, uma experiência transformadora que me aproximou da potência das mídias na educação. Com o tempo, assumi a coordenação do projeto Nas Ondas do Rádio, que viria a se tornar um programa institucional em 2009, ampliando seu alcance e impacto nas escolas da rede.

Alguns anos depois, demos um passo ainda mais significativo: trabalhamos coletivamente para transformar o programa Nas Ondas do Rádio no Núcleo de Educomunicação da SME — o primeiro setor público no Brasil dedicado à formação de professores na interface entre educação e comunicação, desenvolvendo projetos midiáticos com intencionalidade pedagógica.

O projeto Imprensa Jovem, criado nas escolas com o protagonismo dos estudantes, também ganhou novo status, passando a ser reconhecido oficialmente como um programa educacional da SME. Essa conquista representou um importante avanço institucional: a transformação de um projeto em programa e a criação de um setor específico, fruto de ampla escuta com a rede por meio de consulta pública e consolidado no processo de reestruturação da Secretaria.

Na entrevista para a série História Oral, compartilho minha trajetória, as conquistas ao longo desse percurso e algumas mensagens para o futuro — sempre acreditando na força da Educomunicação como prática transformadora na escola pública.

Foto: ONU 

Mais informações 

Estabelece normas complementares ao Decreto nº 56.793, de 04/02/16, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o funcionamento da Secretaria Municipal de Educação, bem como altera a denominação e a lotação dos cargos de provimento em comissão que especifica. Clique aqui


 

domingo, 18 de maio de 2025

Imprensa Jovem e Inteligência Artificial: um diálogo necessário com a educação

O Imprensa Jovem é, desde sua criação, um projeto de Educomunicação que valoriza o uso consciente e criativo das tecnologias. Em 2006, os blogs passaram a integrar a produção dos estudantes, logo veio o uso de software livre, redes sociais, cursos EAD e celulares. Recursos muitas vezes vistos com desconfiança, mas que abriram novas possibilidades de expressão e aprendizagem.

Agora, vivemos a chegada das Inteligências Artificiais (IAs) à educação. Como toda inovação, as IAs geram entusiasmo e também preocupações. Há quem acredite que elas poderão substituir professores ou comprometer a autoria dos estudantes. Mas é importante olhar para dois aspectos centrais:

  1. A substituição de tarefas humanas por automações, o que nos remete à discussão sobre a uberização do trabalho;

  2. A coleta e o uso massivo de dados por essas tecnologias.

Apesar disso, o fenômeno da automação é uma realidade. A IA já está no cotidiano de todos e todas. Compreendê-la culturalmente é fundamental, e os processos educativos têm um papel essencial nesse entendimento. Formar é o melhor caminho para evitar preconceitos e ampliar possibilidades.

A formação é um espaço de trocas, de reflexão crítica e de construção conjunta de saberes sobre os usos — e não-usos — da tecnologia. É nesse espírito que o Imprensa Jovem tem se apropriado da IA como ferramenta de apoio. O objetivo não é substituir a criatividade ou a autoria dos estudantes, mas potencializá-las.

As propostas com IA são pensadas para garantir que a tecnologia complemente o processo intelectual, e não o substitua. As orientações pedagógicas aos estudantes são claras: a IA deve ser suporte, não o autor final da produção. Como toda tecnologia, deve ser encarada como ferramenta, não como fim.

Na prática: IA na cobertura jornalística estudantil

Durante coberturas jornalísticas de eventos, estudantes do Imprensa Jovem costumavam usar o Google para buscar informações sobre os entrevistados em tempo real. Isso ajudava, mas nem sempre era suficiente: as perguntas, às vezes, eram pouco elaboradas ou feitas às pressas.

Mais recentemente, estudantes passaram a usar ferramentas como ChatGPT e DeepSeek. A partir de um tema e dos objetivos da entrevista, elaboram prompts (comandos) que ajudam a gerar sugestões de perguntas mais qualificadas. Com isso, conseguem se preparar melhor, formular questões relevantes e aprofundar as entrevistas. Mais do que respostas prontas, as IAs ampliam o repertório e a autonomia dos estudantes.

Esses usos não retiram a autoria estudantil — pelo contrário: potencializam a aprendizagem e o protagonismo. Os estudantes aprendem a discernir o que vale a pena perguntar, como refinar uma ideia, como adaptar uma linguagem para o público. E isso se traduz em conteúdos mais ricos para os canais de comunicação das escolas.

Formação como eixo central

A boa apropriação das IAs passa necessariamente por processos formativos, tanto de professores quanto de estudantes — ou, melhor ainda, dos dois juntos. Produzir conteúdos midiáticos é complexo e exige múltiplas competências. E a Educomunicação tem a vantagem de não focar apenas na técnica, mas no empoderamento comunicativo de crianças e adolescentes.

Tecnologias como o celular, por exemplo, são recursos valiosos. Com planejamento e uso consciente, são ferramentas poderosas para registro, edição e divulgação de conteúdos. O uso educativo das tecnologias deve ser viável, planejado e com intencionalidade pedagógica. No Imprensa Jovem, o celular é um aliado em muitas ações de cobertura exatamente por sua praticidade.

Se o objetivo é dar voz às juventudes e promover a difusão de informações para a comunidade e para a sociedade, usar as tecnologias disponíveis contribui diretamente para fortalecer a autoestima e a participação cidadã dos estudantes.

O valor da pergunta

Se o Imprensa Jovem fosse um país, sua moeda seria a pergunta. E, nesse novo cenário com IAs generativas como o ChatGPT, a habilidade de formular boas perguntas — ou bons prompts — é chave. Perguntar é a porta de entrada para resolver problemas, ampliar repertórios e construir conhecimento colaborativo.

Habilidades desenvolvidas com IA no Imprensa Jovem:

  • Criação de roteiros de reportagem e podcast com base em temas sugeridos pelos estudantes;

  • Aprimoramento de textos para blogs e redes sociais;

  • Checagem de fatos e criação de projetos de verificação de informações (fact-checking);

  • Pesquisa de conteúdos para pautas jornalísticas;

  • Dinamização da produção midiática com apoio das IAs, a partir do desafio apresentado pelo professor.

A Inteligência Artificial, quando integrada com ética, criticidade e criatividade, não substitui o humano — amplia sua capacidade de agir, comunicar e transformar.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Imagem : produzido por IA no ChatGPT


sexta-feira, 16 de maio de 2025

Imprensa Jovem 20 Anos: Participe da Construção do Nosso Documentário Comemorativo!


O ano de 2025 marca uma data histórica para a educação midiática na cidade de São Paulo: os 20 anos do Programa Imprensa Jovem, uma política pública pioneira que transformou escolas em verdadeiras agências de comunicação protagonizadas por estudantes. Ao longo dessas duas décadas, milhares de crianças, adolescentes e jovens deram voz às suas comunidades, praticaram o jornalismo educativo e exerceram o direito à comunicação de forma criativa, ética e cidadã.

Para celebrar essa trajetória coletiva, estamos produzindo um documentário especial e queremos contar com a sua participação — e com a dos estudantes que fazem ou fizeram parte dessa história!

📣 Dois Convites Especiais Para Você!

Estamos abrindo duas formas de participação no documentário e em outras ações comemorativas. Veja como contribuir:


🎬 1. “Imprensa Jovem é...” – Um Filme Coletivo em 15 Segundos

Grave um vídeo curto (até 15 segundos) completando a frase:
👉 “Imprensa Jovem é...”

Esse filme será formado por diversos depoimentos curtos, criando um mosaico audiovisual de ideias, sentimentos e significados sobre o projeto. Educadores(as), estudantes e ex-estudantes estão convidados!

📝 Dicas para a gravação:

  • Enquadramento horizontal, em primeiro plano e centralizado(a);

  • Qualidade HD (18:9), com som limpo (microfone, lapela ou headset);

  • Ambiente bem iluminado, evite contraluz;

  • Grave em local que represente a escola, o projeto ou sua atuação;

  • Inicie e finalize com 5 segundos de silêncio;

  • Não é necessário se identificar;

  • Finalize com um sorriso de 3 segundos;

  • Nomeie o vídeo:
    IMPRENSA JOVEM É_ESCOLA_NOME COMPLETO;

  • Anexe a autorização de uso de imagem (PDF com assinatura digital e-gov) com o nome:
    AUTORIZACAO_ESCOLA_NOME COMPLETO.

📥 [Clique aqui para acessar o formulário de envio]
📅 Prazo para envio: até 21 de maio de 2025


🎥 2. “Minha história com o Imprensa Jovem...” – Um Relato em Vídeo

Você também pode contar a sua história no projeto. Grave um vídeo de até 3 minutos iniciando com a frase:

👉 “Minha história com o Imprensa Jovem...”

Esse material será utilizado em outros documentários, ações de memória e no nosso e-book comemorativo.

📝 Dicas para a gravação:

  • Enquadramento horizontal, em plano médio;

  • Qualidade HD (18:9), com som limpo;

  • Grave em ambiente representativo da sua trajetória no projeto;

  • Mencione sua escola, o que você fez ou faz no projeto e compartilhe uma história marcante;

  • Inicie e finalize com 5 segundos de silêncio;

  • Termine com um sorriso de 3 segundos;

  • Nomeie o vídeo:
    MINHA HISTORIA IMPRENSA JOVEM_ESCOLA_NOME COMPLETO;

  • Anexe a autorização de uso de imagem (PDF com e-gov).

📥 [Clique aqui para acessar o formulário de envio]

📅 Prazo para envio: até 23 de maio de 2025


📚 Um Legado que se Constrói com Vozes Reais

O Programa Imprensa Jovem é uma referência internacional em educação midiática e educomunicação, reconhecido por promover a participação cidadã e o protagonismo infantojuvenil. Queremos que essa história seja contada por quem viveu cada momento, cada entrevista, cada cobertura, cada descoberta.

Contamos com você para construir esse documentário vivo, cheio de vozes, memórias e sonhos.

📢 Participe. Compartilhe. Celebre conosco.

#ImprensaJovem20Anos
#Educomunicação
#DireitoÀComunicação
#ProtagonismoJuvenil


quarta-feira, 14 de maio de 2025

Avaliação nos Projetos Educomunicativos: Processo, Intencionalidade e Impactos


A avaliação educomunicativa é um processo formativo e participativo que busca compreender o desenvolvimento dos estudantes a partir das experiências midiáticas e comunicacionais promovidas em projetos educacionais. Diferentemente de avaliações tradicionais, esse processo valoriza a construção coletiva do conhecimento, a autoria estudantil e o uso ético e criativo das tecnologias da informação e comunicação.

Nos projetos de Educomunicação, a avaliação acontece de forma contínua e reflexiva, e está organizada em torno de indicadores específicos, como a educação para a comunicação, a mediação tecnológica na educação, e o protagonismo juvenil. Cada um desses indicadores é avaliado por meio de critérios qualitativos que permitem identificar níveis de desenvolvimento (não satisfatório, satisfatório e plenamente satisfatório), promovendo uma leitura abrangente dos avanços individuais e coletivos.

Entre os aspectos observados, destacam-se:

  • A capacidade crítica dos estudantes na análise das mensagens midiáticas, com atenção à identificação de fake news, propósitos comunicacionais e construção de argumentos bem fundamentados;

  • O uso consciente e criativo das tecnologias, tanto como meio de expressão quanto como ferramenta para a participação democrática e produção colaborativa;

  • A elaboração e aplicação de critérios para seleção e organização de informações, demonstrando autonomia intelectual e coerência comunicacional;

  • A atuação dos estudantes como protagonistas, com participação ativa nas decisões do projeto, em atividades de mediação e em práticas de escuta e cooperação entre os pares.

Esse tipo de avaliação também contempla a intencionalidade docente, pois permite ao educador refletir sobre suas práticas pedagógicas, os caminhos metodológicos adotados e os impactos formativos gerados. Ao mesmo tempo, a avaliação não se limita aos resultados finais, mas valoriza os processos vivenciados, os desafios enfrentados e os aprendizados construídos ao longo do projeto.

Momentos marcantes na aplicação dessa metodologia incluem as produções midiáticas dos estudantes (como podcasts, vídeos, reportagens e entrevistas), as apresentações públicas, a participação em eventos e as dinâmicas de roda de conversa que promovem o diálogo entre todos os envolvidos.

A proposta é, portanto, promover uma avaliação mais humanizada, inclusiva e integrada à prática educomunicativa, fortalecendo o papel da escola como espaço de escuta, produção e transformação social.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Imagem: Cobertura Imprensa Jovem |Entrevista com Heloisa Shurmman 

Fonte:  Educomunicação na escola: construindo um modelo de avaliação

Silene de Araujo Gomes Lourenço - Pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE-ECA-USP)

clique aqui


terça-feira, 13 de maio de 2025

A gramática para entender a criança e o adolescente




Entender crianças e adolescentes é, antes de tudo, um exercício de escuta, presença e empatia. Não se trata apenas de observá-los de fora, mas de mergulhar em seus mundos, decifrar seus silêncios, suas linguagens, seus sonhos e inquietações. É como aprender uma nova língua: exige atenção aos códigos, aos contextos e às entrelinhas.

O que são crianças e adolescentes?

Mais do que faixas etárias, crianças e adolescentes são sujeitos em formação, com direitos garantidos e vozes próprias. A infância e a adolescência são tempos de descobertas, conflitos e afirmações. São fases em que o ser humano experimenta intensamente o mundo, constrói significados e busca pertencimento.

Frequentemente, o adulto se aproxima desses sujeitos tentando ensinar, conduzir, corrigir. Mas talvez a primeira lição seja aprender com eles. As crianças ensinam sobre o encanto, a curiosidade e a liberdade de imaginar. Os adolescentes, sobre a coragem de se questionar e reinventar.

O que esperam da vida?

Crianças esperam afeto, segurança, espaço para brincar e se expressar. Desejam ser vistas, acolhidas, compreendidas. Adolescentes esperam oportunidades, liberdade com responsabilidade, respeito à sua identidade e lugar de fala. Querem participar do mundo, não apenas assisti-lo.

Ambos esperam que os adultos não sejam barreiras, mas pontes. Que saibam acolher seus sentimentos sem minimizar suas dores. Que reconheçam suas potências, e não apenas suas faltas.

O que esperam do adulto?

Esperam escuta genuína. Não apenas alguém que ouça com os ouvidos, mas que compreenda com o coração. Esperam presença — não no controle, mas no cuidado. Esperam coerência, exemplo, sensibilidade. O adulto, para eles, é referência de mundo. E quando esse mundo é aberto, sensível e justo, a confiança se fortalece.


Ayla Santos questiona a pesquisa Sonia Livingstone da London School no Instituto Alana

Qual a gramática para entendê-los?

A gramática que nos permite entender crianças e adolescentes vai além da linguagem verbal. É uma gramática da escuta, da observação, da sensibilidade. Envolve:

  • Escutar com atenção: o que dizem e o que não dizem.

  • Observar contextos: o ambiente, os vínculos, as referências.

  • Reconhecer linguagens: o corpo, os gestos, os símbolos, os silêncios.

  • Dialogar com respeito: construindo pontes, não muros.

  • Valorizar a expressão: oferecer meios para que se manifestem, criem, participem.

Educomunicação como meio potente

A Educomunicação surge como uma ponte poderosa nessa relação. Ao valorizar a comunicação como processo educativo e a educação como ato comunicativo, ela cria espaços para que crianças e adolescentes expressem suas ideias, sentimentos e visões de mundo.

Projetos de rádio escolar, podcasts, jornal estudantil, produções audiovisuais, rodas de conversa e blogs são estratégias educomunicativas que revelam o que muitas vezes não é dito em sala de aula. Quando uma criança entrevista um colega, quando um adolescente edita um vídeo sobre sua comunidade, estão não apenas aprendendo técnicas — estão traduzindo seu mundo com suas próprias gramáticas.

A Educomunicação reconhece que toda criança é autora de sentidos, e todo adolescente é produtor de narrativas. Escutar essas narrativas é fundamental para uma educação mais humanizada, mais justa, mais significativa.

Aprender a gramática da infância e da adolescência é um desafio contínuo — exige do adulto mais humildade do que autoridade. E talvez esse seja o maior aprendizado: não impor fórmulas, mas descobrir caminhos juntos.

A comunicação, quando feita com afeto, liberdade e escuta, se torna a linguagem comum entre gerações. E é nessa linguagem que podemos construir relações verdadeiramente educativas, transformadoras e inclusivas.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Imagem : Imprensa Jovem Josué de Castro



sábado, 10 de maio de 2025

Imprensa Jovem se torna Lei Municipal: um marco para a Educomunicação em São Paulo


A cidade de São Paulo deu um passo histórico no fortalecimento da Educação Midiática e do protagonismo estudantil com a aprovação da Lei que institui o Programa Imprensa Jovem no âmbito municipal. A proposta foi apresentada pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB) por meio do Projeto de Lei nº 673/2023 (acesse), aprovado pela Câmara Municipal, oficializando uma política pública que já transformava realidades nas escolas da rede pública desde 2005. (conheça toda tramitação)

Criado no contexto da Secretaria Municipal de Educação, o Programa Imprensa Jovem surgiu com o objetivo de dar voz aos estudantes, promovendo a Educomunicação como uma prática pedagógica inovadora, onde a comunicação e a educação se entrelaçam para fomentar o pensamento crítico, a autoria e a liberdade de expressão.

Com a promulgação da lei, a cidade reconhece oficialmente a importância de formar ecossistemas comunicativos abertos e democráticos, onde crianças, adolescentes e jovens podem se expressar por meio de linguagens midiáticas, como rádio, vídeo, jornal impresso e digital, redes sociais e podcasts. O texto legal destaca a valorização da diversidade cultural, o respeito aos direitos humanos e o incentivo à leitura crítica da mídia, além do estímulo ao letramento digital.

A lei também legitima a atuação das agências de notícias escolares, reconhecendo suas vertentes — como Imprensa Mirim, Imprensa Mais e Imprensa Guarani — como veículos oficiais de comunicação da educação pública paulistana. Esses coletivos são fundamentais para que os estudantes protagonizem narrativas sobre seus territórios, escolas e comunidades.

Outro avanço significativo trazido pela legislação é a possibilidade de parcerias intersecretariais, convênios com instituições públicas e privadas e investimentos em infraestrutura, o que permitirá a ampliação e fortalecimento do programa em toda a cidade.

Mais do que um reconhecimento legal, a transformação do Imprensa Jovem em lei consolida uma trajetória de 20 anos marcada por premiações, inovação e impacto direto na formação cidadã de milhares de estudantes. É uma conquista coletiva da comunidade escolar, dos educadores, dos comunicadores e, principalmente, dos jovens que aprenderam a exercer seu direito à palavra e à comunicação.

O futuro da educação pública paulistana se desenha com mais vozes, mais escuta e mais diálogo. E a Imprensa Jovem está no centro dessa transformação.

Das origens a polítca pública 

Em junho de 2005, na EMEF Pedro Teixeira, na cidade de São Paulo, um grupo de estudantes protagonizou um movimento que mudaria para sempre o jeito de comunicar e aprender dentro das escolas públicas. O que era inicialmente um projeto de rádio escola, o EDUCOM.Rádio (acesse), passou a ganhar nova dimensão com o desejo dos alunos de que aquele espaço não servisse apenas para entretenimento nos intervalos, mas também para a divulgação de notícias, reportagens e informações úteis à comunidade escolar.

Foi nesse momento que nasceu o Imprensa Jovem, uma iniciativa com DNA genuinamente estudantil. Como diz Carlos Lima, criador do programa:

“O Imprensa Jovem é um programa com o DNA do estudante. Nasceu da escuta ativa da escola e cresceu como expressão legítima da voz das juventudes.”

Desde então, a proposta se transformou em um programa educacional de referência na cidade de São Paulo, alcançando mais de 100 mil estudantes ao longo de duas décadas. Em 2024, o Imprensa Jovem celebra seus 20 anos de trajetória, agora com um novo marco: sua institucionalização como política pública municipal, por meio da aprovação da Lei nº 673/2023, de autoria do vereador Eliseu Gabriel (PSB).

 Linha do tempo do Imprensa Jovem

  • 2005 – Nasce o Imprensa Jovem na EMEF Pedro Teixeira, a partir do projeto de rádio escolar EDUCOM.Rádio.

  • 2016 – Torna-se oficialmente um programa educacional (acesse) vinculado à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

  • 2020 – Recebe o Prêmio Aliança Global pela Mídia e Informação da UNESCO, reconhecimento internacional inédito no Brasil.

  • 2023 – Projeto de lei para institucionalização é apresentado na Câmara Municipal.

  • 2024 – O Imprensa Jovem é transformado em lei municipal, tornando-se uma política pública permanente.

Reconhecimento global

Em 2020, a UNESCO reconheceu o Imprensa Jovem como uma das mais importantes práticas de Educação Midiática e Informacional (EMI) no mundo, premiando tanto o programa quanto o seu criador, Carlos Lima. Até hoje, é a única iniciativa brasileira a figurar entre as premiadas pela Aliança Global pela Mídia e Informação, o que o transforma em um modelo de política pública recomendado para replicação em outros países.

O programa já foi apresentado em países como China, Estados Unidos (na sede da ONU), Chile, Colômbia e Suécia, além de diversos estados brasileiros, consolidando-se como um exemplo de como o protagonismo estudantil pode fortalecer a democracia, o pensamento crítico e a produção de conhecimento nos ambientes escolares.

Semana Municipal Imprensa Jovem - Educomunicação

Além de se tornar lei, o programa passa a contar com uma data oficial no calendário da cidade: a Semana Municipal do Imprensa Jovem - Educomunicação, também instituída pelo vereador Eliseu Gabriel. A comemoração ocorre todos os anos em junho, no período conhecido como Semana do Amor, celebrando os impactos do programa na educação pública, na comunicação democrática e na construção de uma escola mais aberta à escuta e à autoria dos estudantes.

Uma política pública de todos

Mais do que uma conquista da cidade de São Paulo, o Imprensa Jovem agora se firma como política pública estratégica para apoiar iniciativas de Educação Midiática em todo o país. Sua trajetória comprova que é possível transformar o ambiente escolar em um espaço de liberdade, escuta e protagonismo infantojuvenil.

Viva os 20 anos do Imprensa Jovem! Viva o direito de comunicar!


Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Imagem - Acervo pessoal


Vergonha dá. Mas ir ao urologista é fundamental.

Hoje fiz meu segundo exame de toque. O primeiro foi a 2 anos atras e na época fui orientado a fazer acompanhamento anual pela médica. Por que falo sobre isso? Porque, durante a consulta, conversei com a médica que me atendeu, e ela explicou que o toque retal ainda é um dos métodos mais eficazes para identificar alterações na glândula prostática — como aumento de volume — que podem ser um indicativo de câncer. É um exame simples, rápido e feito com todo o cuidado. 

Você abaixa as calças e a roupa íntima, deita de bruços na maca, recebe um gel gelado, e em poucos segundos, com um único dedo, o médico ou médica realiza o exame. É desconfortável, sim, mas não dói. E, acima de tudo, pode salvar vidas.

Conversei com a médica e me senti respeitado e acolhido. Tudo consensual. Para quem, como eu, teve um avô que faleceu de câncer de próstata por recusar o exame por medo ou vergonha, sei o quanto isso pode custar caro. O sofrimento que ele enfrentou poderia ter sido evitado com um diagnóstico precoce.

O câncer de próstata é o tipo mais comum entre os homens no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). De acordo com o Instituto Nacional do Cancer (INCA), são estimados cerca de 71 mil novos casos por ano, e mais de 16 mil mortes ocorrem anualmente em decorrência da doença.

A orientação médica é que homens a partir dos 50 anos realizem exames periódicos, incluindo o toque retal e o exame de PSA (Antígeno Prostático Específico). Para aqueles com histórico familiar da doença, a recomendação é iniciar aos 45 anos. (saiba mais)

O cuidado com a saúde do homem envolve também o cuidado com a saúde sexual, a qualidade de vida e o envelhecimento com dignidade. Essa parte do corpo, muitas vezes tratada como tabu, precisa de atenção e respeito — principalmente de nós mesmos.

O constrangimento dura segundos. O cuidado, esse sim, é para a vida toda. Melhor cuidar da sáude do que  da doença. 

A propósito, fui atendido no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, onde fui atendido muito bem atendido. 

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem: Campanha novembro azul (Reprodução/ Roynews)


quinta-feira, 8 de maio de 2025

Convivência Escolar: Como a Educomunicação pode transformar a raiva, a violência e a agressão em diálogo e pertencimento


A escola é um dos principais espaços de formação humana e social. É ali que crianças, adolescentes e jovens experimentam, diariamente, o desafio da convivência com o outro – com suas diferenças, limites, histórias e afetos. No entanto, é também nesse território que emergem conflitos, tensões e, muitas vezes, expressões de raiva, violência e agressão.

Esses sentimentos, quando não compreendidos e mediados, podem romper vínculos, gerar exclusões e comprometer a saúde emocional da comunidade escolar. Por isso, pensar a Convivência Escolar vai muito além da disciplina: trata-se de construir, de forma intencional e coletiva, um ambiente de escuta, acolhimento e respeito.

É nesse cenário que a Educomunicação se apresenta como uma aliada estratégica. Ao promover práticas de diálogo, escuta ativa e expressão criativa, a Educomunicação oferece caminhos para ressignificar emoções intensas e promover relações mais saudáveis.

Raiva não é inimiga – é um pedido de cuidado

A raiva, por exemplo, é uma emoção legítima. Ela sinaliza que algo nos fere, nos inquieta ou nos ameaça. O problema não está em senti-la, mas em como lidamos com ela. A escola precisa ser um espaço que ensine – por meio de projetos, mediações e vivências – que sentir raiva não precisa culminar em violência ou agressão. E a Educomunicação pode ser essa ponte.

Com oficinas de rádio, programas de podcast, produção de vídeos, criação de jornais comunitários e jornal mural, participação de agencias de notícias Imprensa Jovem, os estudantes encontram linguagens e meios para expressar o que sentem, refletir sobre seus conflitos e propor alternativas. Falar sobre o que incomoda, dramatizar situações do cotidiano, escrever cartas abertas ou criar campanhas de convivência são práticas que fortalecem vínculos e criam repertório emocional e social.

Escuta, expressão e empatia: bases para uma cultura de paz

Projetos educomunicativos também ajudam a identificar situações de bullying, preconceito, discriminação e violência simbólica. Ao escutar a voz dos estudantes, suas dores e narrativas, a escola amplia sua capacidade de acolhimento e intervenção.

Um exemplo disso é o uso de dramatizações ou podcasts em que os próprios alunos contam histórias de superação de conflitos, propondo caminhos de reconciliação. Esses relatos têm um forte potencial de empatia, pois falam com a linguagem dos pares e ativam sentidos de pertencimento e solidariedade.

Educomunicação para transformar relações

Integrar Educomunicação à pauta da Convivência Escolar é reconhecer que os conflitos fazem parte da vida em comum, mas que eles podem ser enfrentados com diálogo, criatividade e participação.

Ao estimular a produção midiática como ferramenta pedagógica e relacional, a escola passa a não apenas ensinar conteúdos, mas também a mediar afetos, formar cidadãos críticos e construir um ambiente onde a paz seja um projeto coletivo.

Em tempos de tantas polarizações e expressões de intolerância, transformar a escola em um espaço de escuta e expressão genuína é, mais do que nunca, um ato de resistência e de esperança.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Imagem: Reprodução G1

terça-feira, 6 de maio de 2025

Do presencial ao autoinstrucional: como a Educomunicação transforma a formação docente



Formar professores é, hoje, um dos principais desafios da educação. Cabe às redes de ensino garantir oportunidades de formação continuada de qualidade, o que exige planejamento, visão estratégica e um compromisso direto com a aprendizagem dos estudantes. Afinal, o investimento feito nas professoras e professores deve refletir na melhoria das práticas pedagógicas e no fortalecimento do direito à educação.

A formação inicial, no entanto, ainda caminha em desalinhada  com os tempos atuais. Em muitas licenciaturas, os cursos são centrados em teorias da educação, com pouco espaço para práticas reais e inovadoras. Aulas expositivas predominam, e os estágios supervisionados muitas vezes se resumem à simples observação, sem que os futuros docentes possam experimentar, propor ou criar. Já na formação continuada, muitos educadores investem tempo — e, às vezes, recursos próprios — para se atualizar em cursos oferecidos por organizações públicas ou privadas. Mas as metodologias e formatos dessas formações variam bastante e nem sempre consideram os contextos e necessidades reais da sala de aula.


Banner de divulgação dos curso de Educomunicação de SMESP

É nesse cenário que a Educomunicação tem se destacado como uma abordagem potente para ressignificar a formação docente. Desde suas primeiras iniciativas, a Educomunicação promove experiências formativas baseadas em quatro pilares: prática, diálogo, escuta e produção. Mais do que apenas transmitir conhecimento, as formações educomunicativas buscam criar espaços de participação ativa, onde teoria e prática caminham juntas.

A trajetória das formações educomunicativas: do presencial ao EAD

Inicialmente ofertadas no formato presencial, as formações educomunicativas foram, ao longo do tempo, incorporando elementos da Educação a Distância. Um marco importante foi o curso Gestão de Projetos de Educomunicação, voltado a educadores interessados em criar e implementar projetos em suas escolas. Na sequência, nasceu o curso Imprensa Jovem On-Line, o primeiro a reunir professores e estudantes em uma mesma jornada formativa.

Essas experiências iniciais foram fundamentais para o desenvolvimento de uma metodologia própria em EAD, que culminou na adaptação de 15 cursos presenciais para o formato a distância (Conheça). A pandemia de COVID-19, por sua vez, acelerou esse processo e colocou um novo desafio: manter as formações ativas no ambiente virtual. A resposta educomunicativa veio com soluções inovadoras que atenderam a diversas demandas, como:

  • Ampliação do acesso a professores e estudantes que moram ou trabalham longe dos polos presenciais;

  • Disponibilização de conteúdos gravados e materiais de apoio acessíveis a qualquer momento;

  • Criação dos “Aulões de Educomunicação”, formações de curta duração com foco na ativação de projetos e compartilhamento de saberes.

A inovação do autoinstrucional e as novas frentes formativas

Com o tempo, a experiência em EAD permitiu a sofisticação das propostas. Um exemplo disso foi o curso Imprensa Jovem: Estudante Mediador, que inaugurou a modalidade autoinstrucional. Com acesso permanente ao longo do ano, o curso se consolidou como uma plataforma aberta para o fortalecimento do projeto Agência de Notícias Imprensa Jovem. Seus principais diferenciais incluem:

  • Ambiente formativo de apoio às ações educativas com estudantes;

  • Flexibilidade no processo de aprendizagem, respeitando o tempo de cada participante;

  • Objetividade nos conteúdos e prática constante com atividades propostas;

  • Integração com os canais do Núcleo de Educomunicação, como o YouTube e o site oficial.

Mais recentemente, o Núcleo de Educomunicação iniciou a prototipagem de um módulo de formação com uso de inteligência artificial, que permite o acesso a conteúdos por meio de podcasts. A proposta acompanhará o lançamento do Caderno de Orientações Pedagógicas de Educomunicação e marca um novo momento histórico no desenvolvimento de formações voltadas à ampliação do atendimento docente.

Presencial, EAD, autoinstrucional: a essência educomunicativa permanece

Independentemente do formato — presencial, EAD ou autoinstrucional —, os cursos educomunicativos seguem comprometidos com princípios fundamentais. A qualidade da experiência formativa precisa estar no centro da proposta. Para isso, destacam-se cinco aspectos essenciais que norteiam toda formação em Educomunicação:

  1. Teoria com prática integrada: conteúdos precisam ser vivenciados, não apenas estudados;

  2. Participação ativa: educadores e estudantes como sujeitos do processo;

  3. Escuta ativa: valorização dos saberes, contextos e trajetórias;

  4. Qualidade da comunicação: linguagem clara, empática e criativa;

  5. Criação de projetos e intervenções sociais com base na comunicação.

A trajetória das formações em Educomunicação demonstra que é possível unir inovação tecnológica, compromisso pedagógico e valorização da experiência docente. Mais do que uma metodologia, a Educomunicação é uma prática transformadora que coloca professores e estudantes como protagonistas de sua formação e agentes ativos na construção de uma educação crítica, participativa e conectada com o mundo.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Imagem - Reprodução SME/SP


domingo, 4 de maio de 2025

Quase um dízimo da população não acredita em mudanças climáticas

Retirante: Obra de Candido Portinari, 1944

A obra Retirantes (1944), de Candido Portinari, nos confronta com a dor da desigualdade e do abandono, retratando famílias que fogem da seca e da miséria em busca de sobrevivência. Aquela imagem de corpos magros, olhos fundos e pés calejados fala diretamente ao tema das emergências climáticas de hoje. Assim como os retirantes do passado, milhões de pessoas nas periferias urbanas e zonas rurais do Brasil continuam sendo as mais atingidas pelas mudanças no clima. São os que menos contribuem para a degradação ambiental, mas que mais sofrem com enchentes, secas e ondas de calor. Portinari pintou a realidade de seu tempo, mas sua obra segue atual — pois a injustiça climática é, antes de tudo, uma injustiça social. Educar para a emergência climática é, portanto, também educar para a justiça e para o cuidado com os que, historicamente, têm sido deixados para trás.

Apesar de enfrentarmos diariamente os efeitos das mudanças no clima, 9% da população brasileira ainda não acredita na existência das mudanças climáticas — muito menos na emergência climática que vivemos. É um dado alarmante, revelado por pesquisa do Datafolha. Em 2024, esse índice era de 5%, o que mostra um crescimento preocupante da desinformação ou da negação desse fenômeno. Acesse

Lembro-me de quando era criança e as estações do ano seguiam seu curso natural. Verão, outono, inverno e primavera vinham em sua ordem, com clima e características bem definidas. Preparávamo-nos para cada uma delas. Hoje, tudo parece fora de lugar. Assim como os animais, as estações também estão em extinção. A desorganização climática é evidente, mas não para todos.

Por que tanta gente não vê o óbvio? Muitas vezes, essa negação é alimentada por discursos ideológicos que classificam o debate climático como “coisa de comunista” ou pauta “progressista”. Triste é perceber que essas ideias ganham força justamente entre aqueles que mais sofrem com as consequências do desequilíbrio climático: as populações periféricas, as regiões vulneráveis, os pobres. Para alguns, tudo isso pode parecer castigo divino. Afinal, dizem que o apocalipse virá com fogo, já que o primeiro foi com água — o dilúvio.

Mas o problema é real e visível. A ciência mostra isso com dados, estudos, alertas. O mundo, criado com perfeição, não está sendo destruído por Deus, mas pelas ações humanas. Está nas mãos da humanidade reverter esse quadro — ou agravá-lo. E aqui entra um ponto essencial: precisamos educar para a compreensão da emergência climática. Trata-se de um desafio cultural, não apenas ambiental.

Os adolescentes podem — e devem — estar na linha de frente desse processo. Eles têm capacidade de análise, criatividade e vontade de transformar a realidade. Contudo, nem sempre são levados a sério, nem mesmo por adultos conscientes da crise ambiental. E se perguntássemos aos jovens sobre mudanças climáticas? Será que o índice de negação seria o mesmo entre eles? Quantos adolescentes de 12 a 18 anos vivem no Brasil? Quantos estão na escola? Quantos votam? Talvez estivéssemos diante de outro cenário de entendimento.

Projeto Juntos pelo Clima - Apresentado no curso Esudante Mediador dos ODS 


Preparar essa nova geração para lidar com o presente e pensar o futuro é missão da escola. E temos ferramentas para isso. Um exemplo é o projeto Estudante Mediador dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desenvolvido pela UNESCO em parceria com o Programa Imprensa Jovem, que formou grupos de adolescentes em cerca de 300 escolas entre 2020 e 2024 para criarem ações de intervenção social em suas comunidades.

Já em seu primeiro ano, o projeto foi reconhecido mundialmente com o prêmio da Aliança Global para Mídia e Informação da UNESCO, durante a pandemia da Covid-19. Hoje, o foco é mobilizar os estudantes para atuar na mitigação das emergências climáticas.

O curso Imprensa Jovem – Estudante Mediador dos ODS, promovido pelo Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, contempla várias ações que valorizam a voz e as ideias dos estudantes:

  • Cápsula do Futuro: campanha audiovisual para redes sociais, produzida por estudantes das agências de notícias escolares;

  • Conexão Estudante Mediador dos ODS: superaulão com participação de 400 estudantes, especialistas e organizações no CEU;

  • Cursos para professores: como “Educomunicação Socioambiental – Precisamos conversar sobre as emergências climáticas”;

  • Programa “Imprensa Jovem no Ar”: veiculado na TV Cultura, com produção estudantil sobre o ODS 13;

  • Podcast “PodConversar”: com temas como hortas e sustentabilidade, em diálogo com especialistas;

  • COM-VIDA: encontros de gremistas e educomunicadores para debater ações climáticas nas escolas.

  • Comissão do Futuro: encontro que promove a troca de propostas desenvolvido pela EMEF Paulo Duarte. Projeto foi apresentado no Summit of Future em Nova Iorque em 2024

  • Agência de notícias do Clima: Produção de conteúdos pelos estudantes por meio de reportagens sobre problemas relacioanado as emergências climáticas no território. O projeto é desenvolvido pela EMEFM Rubens Paiva 

É papel da escola — e da educação como um todo — criar espaços reais de escuta, diálogo e ação para crianças e adolescentes. A Educomunicação mostra que é possível construir um movimento potente e transformador, como foi o caso do projeto #estudantemvoz, que envolveu estudantes na construção do Currículo da Cidade de São Paulo.

Se queremos um futuro melhor, precisamos confiar, formar e dialogar com quem vai estar à frente dele. E já estão prontos para isso.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem :  Reprodução MASP

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Ela falava demais na aula e incomodava... Hoje é uma das 100 referências negras mais influentes do mundo

Imagem: Gabriela Vallim na Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres

Gabi era uma garota típica da periferia de São Paulo. Filha de uma professora que atuava no CEU Azul da Cor do Mar, sua personalidade comunicativa se destacava desde cedo — tanto que isso, que hoje é sua maior força, era visto como um problema na escola. Certo dia, sua mãe recebeu um recado da coordenação: “sua filha fala demais e atrapalha a aula”.

Diante da situação, sua mãe teve uma ideia. Contou para Gabi sobre um projeto que acontecia na escola onde lecionava: o Imprensa Jovem, coordenado pelos professores Marcos Evangelista e Rosa Rogério. Mesmo sendo de outra unidade escolar, Gabi foi acolhida no projeto Redação Força Jovem (acesse) encontrou seu lugar, sua voz e uma nova forma de enxergar o mundo: como repórter.

Gabriela Vallim, jovem, negra e periférica, transformou-se em uma das maiores referências do Imprensa Jovem, participando de grandes coberturas jornalísticas como a Campus Party Brasil, além de colaborar em reportagens e eventos de apresentação do programa. A experiência educomunicativa despertou nela o interesse pela área da comunicação e o desejo de transformar a realidade.

Imagem: Reprodução SME-SP - Gabriela Vallim com equipe Imprensa Jovem na Campus Party

Com esse espírito, criou com uma amiga o movimento “15 contra 16” — uma ação no Instagram de 15 segundos contra a proposta de redução da maioridade penal para 16 anos. (Clique aqui)A partir daí, Gabi se consolidou como uma  jovem ativista de direitos humanos do país, o que a levou a ser convidada pelo então prefeito Fernando Haddad para assumir a Coordenação de Juventude da Cidade de São Paulo (clique aqui)Tornou-se a primeira mulher negra a ocupar este cargo, focando principalmente em ações de enfrentamento ao fenômeno dos jovens “nem-nem” — que não estudam nem trabalham.

Seu desempenho na gestão pública e sua visão estratégica a levaram a atuar em grandes multinacionais, sempre com foco em juventude e comunicação. Mas o sonho de Gabi era ir além. Deixou a carreira corporativa para estudar fora do país e se mudou para a Inglaterra. Lá, dedicou-se ao aprendizado da língua, cursou um MBA, ingressou na carreira de modelo internacional e fundou uma ONG com o objetivo de compartilhar a cultura brasileira com o mundo.

Foi assim que nasceu a Baile Funk Culture (Clique aqui), um projeto cultural que vai além da diversão: promove a valorização da cultura periférica brasileira, muitas vezes marginalizada, e a apresenta como expressão legítima e potente da juventude. O movimento, criado entre amigos, passou a reunir londrinos, refugiados e africanos em bailes que celebram a identidade das favelas.

Esse impacto global foi reconhecido em 2024, quando Gabi foi incluída na prestigiada lista MIPAD Global 100, na categoria Filantropia e Impacto Social. A iniciativa, apoiada pela ONU, reconhece as 100 pessoas negras mais influentes com menos de 40 anos, que estão construindo pontes e transformando o mundo.

A seguir, o depoimento da própria Gabi:

Sou uma das 50 lideranças reconhecidas na lista MIPAD Global 100, na categoria Filantropia e Impacto Social!

O @mipad100 (Most Influential People of African Descent) é uma iniciativa apoiada pela ONU que reconhece pessoas negras que estão construindo pontes e deixando marcas positivas no mundo.

Esse reconhecimento tem um significado muito especial para mim. Representa a missão que venho cultivando: usar a comunicação, a educação, a cultura e a arte como ferramentas para ensinar, transformar e ampliar a consciência sobre a nossa herança africana. Acredito na força da língua, da música e das conexões humanas para unir o Brasil ao mundo.

Estar nessa lista, ao lado de nomes como @oprah, é uma honra gigante — e um lembrete do poder que temos de criar mudanças reais.

Minha mensagem para você é: acredite na potência da sua voz! Mesmo quando parecer que você não pertence a certos espaços, saiba que você está abrindo caminhos, criando novos mundos e inspirando outros a fazerem o mesmo.

Seguimos conectando, educando e transformando!
Nossos passos vêm de longe.

A trajetória de Gabi é uma inspiração viva de como a Educomunicação pode transformar vidas. Uma jovem que se reconhece como educomunicadora e que credita ao Imprensa Jovem os primeiros passos de uma caminhada que hoje ecoa globalmente. A periferia venceu — e a vitória de Gabi é o prenúncio de tantas outras que ainda virão. Que muitos outros jovens educomunicadores sigam conquistando seus espaços e mudando o mundo.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Fotos : Acervo Gabriela Vallim 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Ser professor não foi uma escolha — foi um encontro




Quando entrei na faculdade, ser professor não era meu plano. Mas a educação me capturou. E nesse abraço inesperado, fui transformado. Hoje, tenho orgulho do caminho que trilhei — ou da missão que a vida me entregou. Uma missão que me fez, aos poucos, um educador reconhecido pelo meu trabalho e pela capacidade de tocar vidas.

Quantas histórias vivi ao entrar em sala de aula. Quantas experiências marcaram minha jornada de mestre. Não foi nem céu, nem inferno. Foi fruição. Um processo contínuo de formações, criações de métodos, buscas por caminhos para encantar e engajar estudantes.

Claro, houve conflitos — e não foram poucos. Mas como já ouvi por aí: onde não há espaço para o diálogo, o conflito é inevitável. Na sala de aula, é preciso saber baixar a temperatura, abrir pontes, construir escutas. É do cotidiano.

Hoje, o que me provoca é pensar em como a sociedade enxerga o trabalho docente. Ao entregar seus filhos à escola, muitos apenas querem a segurança de que alguém está cuidando deles. Mas professor não é cuidador, assim como escola não é centro de lazer. Professor é educador. Escola é espaço de aprendizagem e de convivência.

Seja por quatro, sete ou dez horas por dia, ao longo de 200 dias no ano, é na escola que gerações se formam. E o que formamos? Gente. Gente preparada para atuar na sociedade. Por isso, se os estudantes irão transformar o mundo, é preciso observar esse mundo com atenção. As tendências de hoje são as novas culturas que chegam. A sociedade não é estática. Ela é rio em movimento.

A escola pode ser um porto seguro, mas seria ainda melhor se fosse um barco firme, capaz de navegar com a sociedade. Se o mundo é correnteza, não adianta remar contra tudo — a briga pode ser inglória. E quem tenta enfrentar sozinho esse fluxo, de fora da escola, muitas vezes se perde ou se afoga.

Por isso, mais do que nunca, é preciso diálogo. Para navegar com segurança. Para construir caminhos. Para transformar realidades.


Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 
Foto : Arquivo pessoal 





Educomunicação e Escuta Ativa: como ouvir os estudantes sobre as provas institucionais

A escola é um espaço de múltiplas vozes. Entre elas, a dos estudantes muitas vezes é a menos ouvida, especialmente quando o tema envolve pr...