sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Como aprimorar a comunicação do Núcleo de Educomunicação no WhatsApp


O WhatsApp é uma ferramenta poderosa para conectar profissionais da educação e fortalecer a troca de conhecimentos sobre Educomunicação. No entanto, para que a comunicação seja eficiente e organizada, é fundamental estruturar bem os grupos e comunidades, definir regras de convivência e adotar estratégias de conteúdo que tornem as interações produtivas e enriquecedoras. Com uma boa gestão, é possível criar um ambiente virtual dinâmico e colaborativo, onde educadores possam acessar informações, trocar experiências e participar ativamente de projetos e formações.

Uma das principais estratégias é a organização dos grupos de WhatsApp de acordo com equipe de profissionais, projetos específicos, formação e iniciativas pontuais. Além disso, a criação de uma Comunidade do Núcleo de Educomunicação permite reunir diversos grupos em um único espaço, facilitando o acesso a conteúdos relevantes. Para garantir um fluxo de informação claro, o grupo de informes deve ser exclusivo para comunicados da equipe gestora, enquanto outros grupos podem ser utilizados para interação e compartilhamento de experiências entre educadores.

Além da estruturação dos grupos, a produção de conteúdo deve ser planejada para atender às necessidades dos participantes. Boletins informativos quinzenais, vídeos curtos com dicas práticas, divulgação de cursos e enquetes para estimular a participação são algumas das ações que podem tornar os grupos mais atrativos. Também é importante celebrar conquistas e compartilhar projetos inspiradores das escolas, criando um ambiente motivador e engajador. O uso moderado de áudios e mensagens curtas e objetivas contribui para uma comunicação mais eficiente.

Para manter a harmonia e o foco das interações, regras de convivência devem ser estabelecidas e fixadas no grupo. Postagens devem ocorrer em horários apropriados, os temas devem estar alinhados à Educomunicação e à educação, e é essencial evitar polêmicas ou disseminação de informações falsas. Além disso, o respeito entre os participantes deve ser sempre preservado, garantindo um espaço seguro para troca de ideias e aprendizado coletivo. Administradores devem atuar como mediadores, garantindo que os objetivos do grupo sejam cumpridos.

Por fim, a identidade da comunidade no WhatsApp também faz diferença. Um bom título para os grupos, uma bio bem estruturada e mensagens fixadas com informações úteis ajudam a manter a clareza e a organização. Fixar um calendário de eventos, links para documentos importantes e diretrizes de participação torna o grupo mais funcional e acessível. Com essas estratégias, o WhatsApp pode se tornar um grande aliado na difusão da Educomunicação, conectando professores e profissionais da educação de forma eficiente e colaborativa. 

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor


História de escola: Este menino só fica desenhando nas aulas


Lembro bem de quando era professor no Ensino Médio e via, todos os dias, um aluno calado, sempre na dele, sentado no fundão da sala. Poucos conversavam com ele, e ele quase nunca entregava atividades. Sempre com o capuz da blusa sobre a cabeça, carregava um caderno volumoso que parecia conter um mundo à parte.

Pensava comigo: "Ele não gosta de inglês, deve preferir outras matérias". A sala onde estudava era complicada—muita indisciplina, e às sextas-feiras, quase ninguém aparecia. Eu tentava administrar os desafios da turma e, sinceramente, o garoto do fundão não era um problema.

Certa sexta-feira, uma daquelas em que a sala costumava estar vazia, entrei e, como esperado, não vi ninguém. Já me preparava para voltar à sala dos professores quando a inspetora disse:

— Você tem um aluno na sala.

— Quem?

— O desenhista.

— Desenhista?!

Curioso, entrei novamente e lá estava ele, sentado no fundo, como sempre. Dei um "boa noite", mas ele não respondeu. Sentei em minha carteira e, antes de iniciar o que seria praticamente uma aula particular, fiquei observando.

Ele rabiscava intensamente em seu caderno, que mais parecia uma bíblia de tão grosso. Sua caneta deslizava freneticamente pelo papel. Resolvi me aproximar. No instante em que percebeu minha presença, fechou o caderno rapidamente. Foi aí que notei: ele vestia uma camisa do Dead Kennedys, uma banda icônica do punk rock.

Naquele momento, me conectei com uma lembrança da minha juventude. Fui animador cultural e frequentava shows de bandas de garagem. Lembrei dos punks que vendiam fanzines—revistinhas artesanais com desenhos e textos feitos à mão, xerocados e vendidos a preços simbólicos para financiar novas edições.

Resolvi puxar assunto:

— Cara, lembro da época em que curtia Dead Kennedys!

Ele levantou os olhos, surpreso:

Teacher, você curte punk rock?!

A deixa perfeita para iniciar uma conversa. Contei sobre o movimento underground no bairro, sobre os fanzines e como os punks usavam a arte para expressar suas ideias sobre o mundo. Ele me ouviu atento e, depois de um instante, disse:

Teacher, deixa eu te mostrar uma coisa.

Abriu o caderno e revelou uma verdadeira obra de arte. Não eram simples rabiscos—era um portfólio incrível de desenhos em preto e branco. Criaturas urbanas, personagens marginalizados, ambientes da periferia. Havia dezenas deles.

— Você desenha isso todos os dias? — perguntei.

— Eu só olho o mundo e desenho.

Seus desenhos não retratavam apenas destruição e caos, mas também jovens como ele, curtindo a vida, vivendo suas próprias histórias. Me perguntei se, de alguma forma, ele se via em suas criações. Não deu tempo de perguntar. Os 55 minutos da aula passaram voando.

Meses depois, já no final do ano letivo, o reencontrei na rua, perto da escola. Dessa vez, ele me chamou com um sorriso no rosto:

Teacher, meus desenhos foram aceitos por uma produtora! Acho que vou fazer o que realmente gosto na vida!

Nunca mais o vi. Mas até hoje me lembro dele. E da grande lição que aprendi naquela sexta-feira.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor 

Imagem : 


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Formadores de Educomunicação para Educadores: O que ensinar, por que ensinar e para quem ensinar?



Minha primeira experiência como formador de professores foi em 2004, na EMEF Pedro Teixeira. A coordenadora pedagógica abriu espaço para um projeto formativo na JEIF (Jornada Especial Integral de Formação). Na época, estávamos à frente do projeto Radioescola Educom.Radio, explorando as possibilidades das tecnologias digitais na educação. Decidimos realizar a formação no laboratório de informática, pois a maioria dos professores ainda não possuía familiaridade com linguagens midiáticas e suas tecnologias.

O primeiro desafio foi despertar o interesse dos participantes. Para isso, precisei decodificar e ilustrar o tema de forma envolvente, criando um processo de encantamento. Essa palavra, encantamento, se tornou essencial na minha trajetória. Lembro-me de quando a diretora da área pedagógica da SME utilizou esse termo para descrever uma oficina minha sobre o uso do rádio na escola. Naquele momento, percebi que a formação não era apenas transmitir conhecimento, mas sim “vender o peixe”: conquistar os participantes, inspirá-los e dar um sentido poderoso ao aprendizado. Afinal, para que um conhecimento novo gere impacto, ele precisa ser desejado.

Embalando o conhecimento como um presente

A experiência formativa começa antes mesmo da aula. Criar expectativa no público-alvo faz toda a diferença. Se o curso é realmente bom, invista no marketing. A apresentação importa tanto quanto o conteúdo:

  • Capriche na divulgação: Use folders atrativos, divulgue nas redes sociais, crie vídeos e compartilhe experiências anteriores.
  • Conte boas histórias: Ao final da aula, desperte curiosidade com relatos marcantes sobre a formação.
  • Crie uma identidade para o curso: Um nome chamativo, um tema instigante e uma abordagem diferenciada são elementos que ajudam a tornar a experiência memorável.

Conexão com o público

Para uma formação ser eficaz, o formador precisa entender o seu público. É essencial que os participantes não o vejam como um “estranho no ninho”, mas como alguém que compreende suas dificuldades e interesses. Algumas estratégias fundamentais incluem:

  • Dar voz aos participantes: Deixe que expressem opiniões e façam perguntas, mas saiba conduzir o tempo da formação.
  • Usar imagens para contextualizar: Recursos visuais ajudam a tornar o conteúdo mais acessível e dinâmico.
  • Criar movimento na aula: A prática é essencial na Educomunicação. Evite formações excessivamente expositivas; ao invés disso, estimule atividades, exemplos práticos e experimentação.

Se a formação ficar apenas entre quatro paredes, sem gerar imagens, sons e experiências concretas, ela não chegará aos alunos.

O que ensinar?

O formador em Educomunicação precisa alinhar sua ação formativa com a prática de desenvolvimento de projetos. Isso significa que sua abordagem deve incluir:

  • Metodologia educomunicativa: Como estruturar projetos na escola?
  • Articulação pedagógica: Como integrar a Educomunicação ao currículo?
  • Orientação técnica: Como utilizar linguagens e tecnologias na educação?

Além disso, os participantes precisam explorar as linguagens da comunicação e suas tecnologias, compreendendo o papel das mídias na formação dos estudantes.

Por que ensinar?

Ensinar Educomunicação significa reconhecer a importância da comunicação na formação dos estudantes. A Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) é essencial para desenvolver leitores críticos, capazes de navegar no cenário de desinformação e fake news.

A criação de mídias na escola vai além da produção de conteúdos: trata-se de um processo interdisciplinar, que fortalece o pensamento crítico e a participação ativa dos estudantes no ambiente escolar e na sociedade.

Para quem ensinar?

Os formadores de Educomunicação formam outros educadores, mas também precisam vivenciar a experiência com os estudantes. Ainda que pontual, essa prática é fundamental para entender a dinâmica da aprendizagem e as demandas dos jovens.

Ao ensinar Educomunicação, o formador não apenas compartilha conhecimento, mas inspira práticas transformadoras na escola. Afinal, um professor encantado pelo tema se torna um multiplicador, capaz de impactar diretamente seus alunos e fortalecer a cultura da Educomunicação na escola.

Por : Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Imagem: Acervo pessoal - Encontro de formadores das Diretorias Regionais de Educação


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Se a Educomunicação fosse uma disciplina, o que ensinaríamos?

 



Há uma década, discutíamos a implementação da Educação Integral no Ensino Fundamental. A grande questão era: como ocupar de forma significativa as horas a mais que os estudantes passariam na escola? As alternativas variavam entre aprofundar conteúdos já trabalhados, criar atividades extracurriculares ou trazer conhecimentos que realmente dialogassem com a vida dos estudantes na sociedade contemporânea.

Talvez todas as opções sejam válidas, mas a eficácia depende do interesse dos estudantes. E se, ao invés de uma atividade opcional, a Educomunicação fosse uma disciplina dentro da matriz curricular? O que ensinaria? Como seria relevante para o estudante e para toda a comunidade escolar?

Curioso, fiz essa pergunta a uma IA generativa, que respondeu com uma proposta estruturada em três grandes eixos:

1. Alfabetização Midiática e Informacional

  • Como funcionam os meios de comunicação e a mídia digital
  • Leitura crítica da informação: identificação de fake news e desinformação
  • Algoritmos e bolhas informacionais: como a internet influencia o que consumimos
  • Direitos e deveres na comunicação: liberdade de expressão, ética e privacidade
  • Jornalismo e comunicação pública: papel da mídia na sociedade

2. Produção e Expressão Midiática

  • Escrita jornalística e roteiro para mídias digitais
  • Técnicas de rádio e podcast: gravação, edição e locução
  • Fotografia e audiovisual: produção de vídeos e reportagens
  • Redes sociais e narrativas digitais: criação de conteúdos engajadores
  • Design e comunicação visual: edição de imagens e identidade visual

3. Cidadania Digital e Cultura Participativa

  • Participação ativa e comunicação para a transformação social
  • Cultura maker e inovação: uso da tecnologia para criar e resolver problemas
  • Segurança digital: ética e proteção de dados
  • Comunicação não violenta e discurso de ódio na internet
  • ODS e educomunicação: mídia como ferramenta para sustentabilidade e inclusão

Além disso, a abordagem metodológica seria baseada em projetos, conectando as atividades à realidade dos estudantes e promovendo o protagonismo juvenil. A Educomunicação dialogaria diretamente com outras disciplinas, como Língua Portuguesa, História, Ciências e Artes, transformando a escola em um espaço mais interativo e significativo.

E há 10 anos?

Uma década atrás, discutíamos entre formadores como a Educomunicação poderia ser trabalhada dentro da sala de aula. Nunca tivemos uma resposta definitiva porque, naquele momento, nosso esforço estava voltado para integrar a Educomunicação aos projetos de ampliação da jornada escolar.

Esse modelo nos colocava em uma posição confortável: grupos de estudantes escolhiam participar, o número de envolvidos era menor, e as atividades eram realizadas em espaços equipados com infraestrutura. Mas e se a Educomunicação estivesse na grade curricular para todos os estudantes?

Nesse cenário, teríamos um desafio maior: como tornar a disciplina envolvente para todos os alunos? Giz e lousa poderiam ser ferramentas, mas a chave estaria na estratégia pedagógica. Os conteúdos precisariam ser distribuídos de forma integrada a um projeto coletivo de construção do conhecimento, onde os estudantes não apenas aprendessem sobre mídia, mas se tornassem criadores e agentes transformadores da comunicação.

A pergunta que fica é: já passou da hora de tornar a Educomunicação um componente curricular obrigatória?

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Foto : Imprensa Jovem 

Gestor de Projetos de Educomunicação: O Papel Estratégico do Mediador de Comunicação na Escola


A Educomunicação tem se consolidado como uma abordagem inovadora na educação, promovendo espaços de aprendizagem mais interativos, colaborativos e conectados com a realidade digital dos estudantes. No centro desse movimento, o gestor de projetos educomunicativos assume um papel fundamental: planejar, implementar e avaliar iniciativas que integram comunicação, tecnologia e pedagogia. Esse profissional atua como um facilitador da cultura participativa na escola, garantindo que a comunicação seja utilizada como uma ferramenta pedagógica para a construção de conhecimento e cidadania.

Os projetos educomunicativos são caracterizados pelo uso de diferentes linguagens midiáticas – rádio, vídeo, fotografia, redes sociais, jornalismo digital – para promover a expressão dos estudantes e a reflexão crítica sobre o mundo ao seu redor. Para que esses projetos sejam bem-sucedidos, o gestor deve articular parcerias, mobilizar a equipe escolar e criar estratégias para engajar os estudantes. Além disso, é essencial que ele compreenda as necessidades da comunidade escolar e desenvolva projetos alinhados às demandas locais, tornando a comunicação um eixo estruturante do processo educacional.

A implementação de um projeto educomunicativo exige um planejamento estratégico baseado na realidade da escola. O gestor deve coordenar um diagnóstico inicial, identificando os desafios e potencialidades da instituição. A partir disso, define objetivos claros, metodologias participativas e estratégias de avaliação. A gestão democrática é um aspecto essencial desse processo, pois garante que professores, estudantes e demais membros da comunidade tenham voz ativa na concepção e execução das ações, fortalecendo o protagonismo juvenil e a educação midiática.

Outro fator crucial na gestão de projetos educomunicativos é a avaliação contínua. Para mensurar o impacto das iniciativas, o gestor pode utilizar instrumentos como relatórios reflexivos, portfólios estudantis, pesquisas de opinião e indicadores de engajamento. A partir desses dados, ajustes podem ser feitos para aprimorar as ações e garantir que os projetos se mantenham dinâmicos e alinhados às necessidades da escola. Além disso, a sustentabilidade dos projetos deve ser uma preocupação constante, buscando parcerias institucionais e formas de garantir a continuidade das ações ao longo dos anos.

O gestor de projetos educomunicativos não apenas administra iniciativas, mas também transforma a escola em um verdadeiro ecossistema comunicativo, onde o aprendizado ocorre de maneira colaborativa e significativa. Ao integrar mídia e educação, ele contribui para a formação de cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios da sociedade digital. Dessa forma, a Educomunicação se estabelece como uma estratégia essencial para inovar as práticas pedagógicas e ampliar as possibilidades de ensino e aprendizagem no século XXI.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Foto : Imprensa Jovem no Congressso Municipal de Educação 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Tecnologia Livre para uma Educomunicação Sem Fronteiras

 


A inteligência artificial está na crista da onda, redefinindo o paradigma da relação entre seres humanos e tecnologias. Com ferramentas como o ChatGPT, a comunicação escrita ganhou novos contornos, conectando pessoas ao mundo de forma ágil e criativa. Por meio de comandos, os chamados prompts, conteúdos podem ser ajustados, curados e até criados. Essa invenção, como tantas outras, reflete o desejo humano de simplificar atividades e solucionar problemas cotidianos.

No entanto, inovações como essa não surgem apenas como ferramentas de transformação, mas também como oportunidades de negócio. As tecnologias proprietárias são criadas para serem consumidas, frequentemente protegidas por patentes e integradas a monopólios globais. Exemplos como Microsoft e Apple ilustram o poder das big techs, que, se fossem países, estariam entre as maiores potências econômicas do mundo.

Nesse cenário de concentração tecnológica, o software livre surge como um ato de resistência e emancipação. A plataforma Linux, fruto do projeto colaborativo GNU, é um símbolo de liberdade tecnológica. Desenvolvido por pessoas ao redor do mundo, Linux não é feito para o consumo, mas para o uso. Seu código aberto permite que qualquer um baixe, adapte e compartilhe o sistema gratuitamente, fortalecendo uma cultura de colaboração e autonomia tecnológica. Essa filosofia também se alinha ao movimento dos Recursos Educacionais Abertos (REA), com conteúdos licenciados pelo Creative Commons que promovem o conhecimento livre.

Educomunicação e Tecnologia Livre
No campo da Educomunicação, garantir o direito à comunicação para todas as pessoas implica adotar tecnologias livres e integrá-las às práticas pedagógicas. Os projetos educomunicativos utilizam uma variedade de ferramentas — de editores de texto a ambientes colaborativos, e, por que não, inteligência artificial generativa. Essas ferramentas ampliam as possibilidades de expressão e aprendizagem, conectando criatividade, autonomia e cidadania.

Kit de software livre instalado nos Laboratórios de Informática Educativas para pratica educomunicativa


A Revolução do DeepSeek
Eis que surge o Free Seek, uma nova ferramenta de inteligência artificial que promete abalar o domínio das big techs. Essa concorrente direta do ChatGPT já chegou "quebrando tudo" e desestabilizando mercados. Após o anúncio de um investimento de 500 bilhões de dólares em tecnologias de IA na América do Norte, um jovem cientista chinês revelou ao mundo uma solução revolucionária: um sistema de inteligência artificial mais acessível, com custos significativamente menores e impacto ambiental reduzido.

Enquanto políticas protecionistas ganham força e reforçam a hegemonia tecnológica, o DeepSeek  emerge como um "Davi" desafiando os gigantes. Contudo, diferentemente da história bíblica, este Davi conta com o apoio de uma grande nação, pronta para rivalizar no cenário global.

Embora ainda seja cedo para medir o impacto completo do DeepSeek, sua chegada já é comparada a momentos históricos como o lançamento do Sputnik no século passado — um evento que revolucionou o mundo e marcou uma nova era tecnológica.

A ascensão de tecnologias livres e acessíveis reforça a importância de um futuro onde a tecnologia esteja a serviço das pessoas, e não o contrário. Para a Educomunicação, isso significa construir um horizonte em que o direito à comunicação seja garantido a partir de práticas pedagógicas inclusivas, sustentáveis e livres de fronteiras. Afinal, conhecimento livre e tecnologia acessível são os pilares de uma sociedade mais justa e conectada.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Foto: Site DeepSeek  

Baixe o aplicativo DeepSeek acesse

domingo, 26 de janeiro de 2025

História de escola: A Toalha Branca


Lembro como se fosse ontem a história do Robert. Ele era um adolescente negro, morador de uma comunidade simples ao lado de um shopping que simbolizava o consumo da nova classe média alta. Toda vez que tentava entrar no shopping, os seguranças o barravam. Era como se aquelas portas automáticas se fechassem só para ele. Na escola, era o tipo de aluno que intimidava professores e colegas. Dava trabalho, falava alto, tinha aquele olhar que desafiava o mundo.

Um dia, ao sair da escola, viu um grupo de estudantes subindo no ônibus em frente ao portão. Era uma turma do Imprensa Jovem que ia para uma cobertura em um bairro nobre. Robert não fazia parte do projeto, mas decidiu que queria ir. Quando os professores tentaram explicar que ele não estava autorizado, ele foi enfático:
— Se eu não puder ir, ninguém vai.

A turma olhou para a professora, que hesitou por um momento. Um dos alunos comentou:
— Traz o Robert, tem lugar aqui.
Outro rebateu:
— Mas ele vai dar trabalho.

A professora respirou fundo e disse:
— Está na minha responsabilidade. Vamos, Robert.

E assim, lá foi ele. No ônibus, estava quieto, observando tudo. Quando chegaram ao local do evento, era como outro mundo. O espaço era sofisticado, cheio de pessoas que pareciam ter vindo de outros países, discutindo sobre conectividade e educação. Era o tipo de lugar que fazia Robert pensar nas portas do shopping que nunca se abriram para ele.

Mas, naquele dia, ele foi recebido como convidado. Um colega emprestou uma camiseta laranja do projeto e disse:
— Você vai cobrir o evento comigo. Vamos conversar com essas pessoas.

Robert mergulhou na experiência. Entrevistou gente que ele jamais imaginou conhecer, viu os flashes das câmeras, anotou tudo num caderninho. E, quando chegou a hora do almoço, foi convidado a se sentar com todos os outros. Olhou para os lados, meio desconfiado, mas se serviu.

Depois de comer, levantou-se e foi ao banheiro. Lá, ao lavar as mãos, ficou parado diante do espelho, observando a torneira automática. Então, um homem se aproximou, provavelmente um dos palestrantes ou organizadores. Robert olhou para ele e perguntou:
— Como seca as mãos aqui?

O homem, com um sorriso simpático, mostrou como usar a máquina. Robert colocou as mãos molhadas embaixo do dispensador, que liberou automaticamente uma toalha branca, macia. Ele ficou ali, parado, olhando para a toalha como se fosse algo mágico. A toalha branca desceu para ele, sem julgamento, sem barreiras, sem desconfiança.

Quando voltou para o grupo, estava pensativo. A professora percebeu e perguntou:
— Está tudo bem, Robert? Você está tão quieto.
— Nada não — respondeu ele.

A atividade foi um sucesso. A organização do evento elogiou o comportamento e a dedicação do grupo. Dias depois, algo mudou em Robert. Ele passou a participar mais das aulas, ajudava a resolver conflitos e até se tornou uma referência para os colegas.

Num momento de conversa, confessou à professora:
— Nunca tive uma experiência como essa. Fui tratado como gente. Ninguém me olhou torto. Todos me trataram com educação. Nunca vou esquecer da toalha branca. Foi incrível. Aquele homem... parecia importante, e ele me mostrou como usar a máquina.

A toalha branca que desceu nas mãos de Robert foi mais do que um gesto simples. Foi um símbolo de acolhimento, respeito e dignidade. E, naquele dia, algo se abriu para ele. Não as portas do shopping, mas as portas de um mundo onde ele finalmente sentiu que tinha lugar.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Baseado em fatos reais (2009)

sábado, 25 de janeiro de 2025

Léa Fagundes: Uma visionária que Revolucionou a Educação Digital

 


O uso dos Laboratórios de Informática Educativa representou um marco revolucionário para a Educomunicação nas escolas. Há 20 anos, quando iniciei o Programa Imprensa Jovem, aqueles espaços cheios de computadores lembravam as redações de jornais que visitava com os estudantes, como as do Estadão e do Jornal da Tarde. Foi nesse ambiente que, pela primeira vez, vislumbramos a possibilidade de ultrapassar os muros da escola, conectando a comunicação produzida pelos alunos ao mundo, graças às tecnologias e à internet.

Foi ali que descobrimos ferramentas como o Audacity para criar rádio digital, criamos nossos primeiros blogs e demos os primeiros passos nas redes sociais. A internet não apenas facilitou a troca de ideias entre estudantes, mas também conectou suas produções à comunidade local e, posteriormente, a públicos globais. Esses primeiros passos na Cultura Digital foram tão transformadores que, anos depois, resultaram em um trabalho acadêmico que apresentei na USP, consolidando a articulação entre Educomunicação e Cultura Digital.

Criando programas de rádio com Audacity (2006) no laboratório de Informática Educativa 

Hoje, os Laboratórios de Educação Digital (LED), sucessores dos Laboratórios de Informática Educativa, são essenciais para o trabalho pedagógico da Educomunicação. Projetos como o Imprensa Jovem, que nasceu nesses espaços, ganharam reconhecimento internacional, sendo celebrados até pela UNESCO e premiados com o Prêmio Mariazinha Fusari de Educomunicação. No entanto, todos esses avanços têm uma raiz em comum: o pioneirismo de uma mulher visionária que ousou sonhar alto — a pedagoga e pesquisadora gaúcha Léa Fagundes.

Léa Fagundes: A educação em transformação

Léa Fagundes foi uma figura disruptiva na educação brasileira. Sua visão questionava as resistências da escola às mudanças culturais e tecnológicas. Em um debate, ela afirmou com precisão:
"Nós temos uma educação resistente à mudança. A escola é uma resistência às transformações das culturas. Entramos na era digital com a escola mais resistente do que nunca ao uso das tecnologias digitais."


Lea Fagundes em debate sobre o Cultura Digital (2011)

Essa reflexão, feita há quase 15 anos, permanece atual. Lea defendia com paixão o projeto de "um computador por estudante", uma ideia visionária que, se implementada em larga escala, teria minimizado muitos dos desafios enfrentados hoje, como o uso de celulares nas escolas.

Legado de inovação e inspiração

O trabalho de Léa Fagundes ultrapassou a inovação tecnológica. Ela não apenas inspirou políticas públicas, mas também abriu caminhos para projetos como o Imprensa Jovem, que conectam Educomunicação e Cultura Digital com uso dos laboratórios de informática. Seu legado vai além do uso das tecnologias: ele nos lembra do poder transformador de educadores comprometidos com o desenvolvimento criativo e crítico dos estudantes.
Estudantes realizam cobertura jornalística Fórmula E com celulares (2024)

Hoje, ao refletir sobre sua trajetória, é impossível ignorar o impacto de sua visão no futuro da educação no Brasil. Léa virou estrela, mas sua luz continua brilhando intensamente, guiando todos aqueles que acreditam na união entre educação, tecnologia e comunicação.

Que sua coragem e determinação sigam inspirando gerações a transformar a realidade das escolas e a construir um mundo onde o conhecimento e a criatividade sejam as ferramentas para um futuro melhor.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor 

Imagem: Professora Léa Fagundes é entrevistada pelos estudantes na Campus Party (2008) acesse

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

De uma escola muncipal no extremo sul de São Paulo à bi-aprovação na USP.

 


Com 13 anos, quase desisti da escola. Sempre fui boa aluna, mas sentia que meu potencial era minguado pelo sistema de ensino tradicional. A passividade da sala de aula me sufocava, e eu não me sentia participante do processo de construção do conhecimento. Foi quando tudo mudou: ao ingressar no programa Aluno Monitor e, depois, no Imprensa Jovem, encontrei propósito. De aluna desmotivada, tornei-me protagonista. Produzi reportagens sobre minha comunidade, conectei alunos e professores na sala de informática e descobri o impacto que a Educação pode ter.  

Então veio 2020. A pandemia revelou um desafio gigantesco: como a educação remota alcançaria famílias sem acesso ao mundo online? Aos 14 anos, com minha colega Winnie, criamos um projeto para ensinar essas famílias a navegarem no digital. Mais de 50 mil vidas foram transformadas.  

Essa iniciativa me levou longe. Palestras, reconhecimento e o convite para ser Jovem Embaixadora da Inspiring Girls. Minha voz alcançou a UNESCO, a USP e outros espaços que antes pareciam inatingíveis. Mas o impacto verdadeiro era sempre sobre os outros, sobre mostrar que é possível.  

Enquanto isso, no técnico de Desenvolvimento de Sistemas, criei com amigos a Bloomie, uma rede social focada no futuro dos jovens. Foi um reflexo de tudo que aprendi sobre empatia, inovação e colaboração.  

E quando decidi pausar tudo por um ano para me dedicar ao vestibular, enfrentei o desafio mais difícil da minha vida: estudar incansavelmente para disputar espaço na universidade pública. O esforço valeu a pena. Passei não só na USP (duas vezes!), mas também na Unicamp, no IFSP e na Fatec.  

Escolhi Sistemas de Informação na USP, uma escolha que honra minha jornada no técnico e reflete minha paixão por construir soluções que conectem pessoas.  

Minha trajetória é uma prova de que a periferia é potência. Persistir é abrir caminhos. E meu sonho é ver histórias como a minha deixarem de ser exceção para se tornarem regra. Porque transformar vidas é possível, e começa por acreditar que cada aluno tem o poder de mudar o mundo.

Por Ayla Santos - Universitária e Educomunicadora do Imprensa Jovem 


Educação de Jovens e Adultos: um espaço de aprendizagem e centro de convivência dos 60+


Enquanto esperava no ponto de ônibus, observei uma conversa inspiradora entre duas senhoras. Uma parecia ter cerca de 60 anos e a outra, 80. Elas falavam sobre o quanto era bom estudar, sobre como as aulas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) eram tão interessantes que elas não perdiam sequer um dia. No tom das palavras, percebi o prazer de aprender, mesmo em uma fase da vida em que muitas pessoas acreditam ser tarde demais.

As duas ressaltaram o papel essencial dos professores, que, com atenção e empatia, as motivavam a continuar, mesmo quando pensavam em desistir. “Desistam, não! Falta pouco para vocês se formarem”, lembravam os docentes, mostrando o quanto acreditavam na capacidade de seus alunos.

Porém, uma das senhoras estava preocupada: a EJA próxima de sua casa iria fechar, e a alternativa mais próxima era em outro bairro, dificultando o acesso. “Ainda bem que terminei o 9º ano”, disse a senhora mais velha, mas confessou que ainda tinha vontade de continuar estudando. Sua amiga a encorajou a fazer o Ensino Médio, mas a distância era uma barreira.

Essa conversa reflete algo que muitos já sabem: para os mais velhos, estudar não é apenas uma oportunidade de aprendizado, mas também de realizar um sonho que foi negado na juventude. A escola, sobretudo na EJA, vai além do ensino. É um espaço de convivência, de amizade, de acolhimento e de valorização da experiência de vida.

Com o aumento da expectativa de vida, é essencial que a sociedade veja a escola, em especial a EJA, como um lugar estratégico para a formação contínua dessa geração. Enquanto muitos asilos crescem como resposta ao envelhecimento populacional, a escola pública resiste como um espaço que acolhe as potências dessa geração. Diferentemente de outras instituições que, muitas vezes, marginalizam os idosos, a EJA mantém suas portas abertas para a Geração 60+.

Investir em mais escolas com turmas de EJA e transformá-las em pontos de encontro intergeracionais pode trazer ganhos inestimáveis. Além de promover a inclusão, fortalece a qualidade de vida de jovens e adultos. Há público para isso e há um desejo genuíno por aprendizado e convivência.

A Educação de Jovens e Adultos não é apenas um programa, mas uma política pública que precisa de fortalecimento. Garantir que essas escolas continuem ativas e acessíveis é fundamental para proporcionar mais oportunidades e sonhos realizados, mostrando que nunca é tarde para aprender.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Imagem : Oficina de Educomunicação no CIEJA Guaianases

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A Escola pode ser uma Agência de Fact-Checking?

Gostemos ou não, as redes sociais são parte integrante do cotidiano dos brasileiros. Somos o segundo país no mundo em número de usuários que passam horas conectados diariamente. Esses espaços digitais, livres para a expressão, podem ser poderosos canais para o compartilhamento de ideias, diálogo e atualização de informações. No entanto, o ambiente virtual também abriga o lado sombrio: desinformação, fake news e conteúdos sensacionalistas que, frequentemente, recebem maior destaque graças aos algoritmos que priorizam o que chama mais atenção.

As fake news, muitas vezes mascaradas em manchetes sensacionalistas, disseminam desinformação em larga escala. Em resposta, plataformas digitais criaram agências de checagem de conteúdo para monitorar, bloquear e remover informações falsas, além de avaliar conteúdos de ódio e violência. Contudo, a decisão de plataformas como Meta (Facebook, Instagram e Threads) e X (antigo Twitter) de descontinuar serviços de checagem, alegando preservar a liberdade de expressão, trouxe desafios à moderação de conteúdos.

Diante desse cenário, a educação torna-se a principal ferramenta para preparar cidadãos capazes de acessar informações de forma ética e crítica. E a escola, como espaço formador de valores, pode liderar iniciativas de combate à desinformação por meio de ações concretas e inovadoras.

A Escola como Agência de Fact-Checking

O combate às fake news é uma urgência. Uma solução viável e eficaz é a criação de Agências Escolares de Checagem de Notícias. Essas iniciativas podem ser desenvolvidas com estudantes participantes do Programa Imprensa Jovem, formando Educomunicadores capacitados a analisar criticamente os conteúdos midiáticos.

Uma agência de fact-checking escolar pode funcionar como um projeto interdisciplinar, unindo formação teórica e prática. Além de checar notícias, os estudantes poderiam criar campanhas educativas, realizar oficinas para a comunidade escolar e compartilhar resultados com professores de diversas áreas, enriquecendo as aulas com debates sobre ética, comunicação e cidadania.

Adicionalmente, a criação de serviços digitais automatizados para checagem de informações, acessíveis à comunidade, potencializaria o impacto dessas agências escolares. Um exemplo inspirador foi apresentado por dois bibliotecários, que sugeriram no curso de Educomunicação “Leitura Crítica da Mídia” a instalação de totens interativos de fact-checking nas bibliotecas públicas dos CEUs em São Paulo, ampliando o alcance dessa iniciativa.

Projetos em Ação

Um exemplo prático é o Projeto Caçadores de Notícias Falsas, realizado na EMEF M'Boi Mirim sob a coordenação da professora Rita Baccari. Nesse projeto, crianças e adolescentes tornaram-se mediadores na escola, oferecendo oficinas e palestras para outros estudantes sobre como identificar e evitar fake news. Esse tipo de iniciativa empodera os alunos e os transforma em agentes multiplicadores de conhecimento crítico.

O Papel da Inteligência Artificial

A Inteligência Artificial (IA) surge como uma aliada estratégica no combate à desinformação. Plataformas colaborativas e sistemas automatizados podem ser desenvolvidos para agilizar a checagem de conteúdos, utilizando ferramentas livres e acessíveis. A criação de soluções tecnológicas, desenhadas em workshops baseados em metodologias educomunicativas, pode acelerar a implementação de projetos de fact-checking e ampliar sua eficiência.

Educação como Protagonista

Ao assumir o papel de agência de fact-checking, a escola não só combate a desinformação, mas também promove a formação de cidadãos éticos, responsáveis e conscientes. Trata-se de um passo essencial para enfrentar os desafios de um mundo digital onde a verdade, muitas vezes, precisa ser defendida.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Foto :Imprensa Jovem


O Papel e as Ações do Professor Educomunicador nas Escolas

 


A figura do professor educomunicador tem ganhado cada vez mais relevância na educação contemporânea, especialmente em um mundo permeado pelas mídias digitais e pela necessidade de uma educação midiática crítica. Este profissional desempenha um papel essencial ao mediar a relação entre os estudantes e as diversas linguagens midiáticas, promovendo a criação coletiva, a alfabetização midiática e a valorização do protagonismo juvenil.

Com mais de 20 anos de experiência na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, minha trajetória como professor educomunicador começou com projetos pioneiros, como Rádio Escolar e Agência de Notícias Imprensa Jovem. Durante esse período, construí uma prática que trouxe para o Núcleo Educomunicação da SME de São Paulo. Mas afinal, o que significa ser um professor educomunicador?

Quem é o Professor Educomunicador?

O professor educomunicador é mais que um educador tradicional: ele é um mediador, um facilitador e um projetista. Sua atuação vai além da sala de aula convencional, englobando a criação de espaços colaborativos onde os estudantes se tornam coautores do processo de aprendizagem, por meio da produção midiática.

Embora não seja necessário ser formado em comunicação, o professor educomunicador deve compreender os processos comunicacionais e saber articular as diversas linguagens midiáticas. Ele escuta ativamente os estudantes, dialoga e orienta para que as produções reflitam a identidade e os interesses do público-alvo, promovendo uma comunicação de jovem para jovem.

Quais as Ações do Professor Educomunicador?

  1. Mediação e Empatia
    A principal ação do professor educomunicador é a mediação. Ele ouve, questiona e compartilha informações, criando um ambiente dialógico e horizontal com os estudantes. Essa postura empática facilita a construção conjunta de projetos e fortalece as relações interpessoais.

  2. Facilitador de Projetos
    Além de conduzir os projetos em sala de aula, o professor educomunicador atua como representante do projeto na escola, articulando com a gestão escolar, outros professores e instâncias participativas, como Grêmios, APM e Conselhos Escolares. Ele também organiza e acompanha as atividades externas relacionadas ao projeto.

  3. Formação Contínua
    Para garantir o sucesso das iniciativas educomunicativas, o professor precisa participar de formações contínuas, acessar materiais didáticos específicos e integrar grupos de trabalho. Essa formação não apenas amplia sua expertise, mas também possibilita a troca de experiências e o aprimoramento das práticas.

  4. Criação de Projetos Pedagógicos
    O professor educomunicador é um projetista, desenvolvendo ações pedagógicas fundamentadas na pedagogia de projetos. Cada atividade é planejada para engajar os estudantes e produzir conteúdos que dialoguem com suas realidades e interesses.

  5. Educação Midiática e Combate à Desinformação
    Um dos papéis mais relevantes desse profissional é promover a educação midiática na escola, ajudando a combater a desinformação e a formar uma comunidade escolar crítica e consciente em relação ao consumo e à produção de informações.

Por que o Professor Educomunicador é Essencial?

O professor educomunicador é indispensável para fortalecer a alfabetização midiática nas escolas, especialmente em um cenário onde as fake news e o uso inadequado das mídias digitais são desafios constantes. Ele é o elo entre a escola e a comunicação contemporânea, promovendo práticas pedagógicas inovadoras que empoderam os estudantes e contribuem para a construção de uma sociedade mais crítica e informada.


Qualquer professor pode se tornar um educomunicador, independentemente da sua área de atuação. O fundamental é estar disposto a aprender, mediar e criar, tendo como base a pedagogia de projetos e o compromisso com uma educação mais participativa e dialógica. A Educomunicação não é apenas uma metodologia, mas uma filosofia que transforma a escola em um espaço de produção, escuta e expressão cidadã.

Por Carlos Lima - Educomunicador e Professor

Imagem : Acervo pessoal - Formação de professores da DRE Guaianases


Para saber mais sobre Educomunicação

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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O mundo não será o mesmo. E a Educomunicação?

Em um curto espaço de tempo, o mundo parece ter dado um giro de 180 graus. Domesticamente e mundialmente, os modos de vida estão sendo desafiados e transformados. No Brasil, novas legislações afetam a maneira como os jovens deverão interagir  com  a cultura construida com eles,  entre os quais os usos sociais de ambientes virtuais e sistemas tecnologizados.  Redes, antes projetadas para construir conexões e disseminar conhecimento, têm sido usadas para manipular conceitos de certo e errado, verdade e mentira, a ponto de influenciar decisões de governos e moldar a opinião pública. Lá fora, assistimos ao surgimento de uma nova ordem internacional que ignora os direitos humanos e impõe uma lógica de dominação.

Nesse contexto, cumprir as agendas do Bem Viver tornou-se um desafio imenso. Mais do que nunca, o Bem Viver precisa ser revolucionário. A imposição da “verdade” de poucos sobre a vida de muitos, alimentada por um clube das grandes tecnologias, ameaça as bases de uma convivência ética e plural. O Sul Global — América Latina, África, Ásia e Oriente — precisa resistir, unir forças e reimaginar um futuro que não seja dominado pelo poder do dinheiro. Caso contrário, corremos o risco de sucumbir ao "império do money, money, money".

E a Educomunicação diante desse cenário?

A Educomunicação não pode ser espectadora passiva dessas mudanças. Não há mais lugar para a postura de quem olha o mundo pela janelinha de um avião, sem agir. É preciso atenção, reflexão e, sobretudo, ação. O papel da Educomunicação é lançar luz sobre o que está acontecendo nas escolas, espaços onde as mudanças globais inevitavelmente se refletem. São as escolas que acolhem vozes e pensamentos moldados por essa nova atmosfera ideológica, muitas vezes desafiadora para as ideias do Bem Viver.

Aqui, não precisamos de mais combates, mas de convívio. Um convívio que respeite a pluralidade de pensamentos, promova o diálogo e valorize a escuta ativa. Mediar nunca foi tão importante. As escolas, como microcosmos da sociedade, precisam de ações pedagógicas que promovam a reflexão, a expressão e a comunicação. Mais do que atender metas institucionais, é essencial colocar o bem-estar e a autonomia dos frequentadores da escola no centro das prioridades.

O diálogo como ferramenta transformadora

A Educomunicação tem em suas mãos o poder de lançar o diálogo como ferramenta de empoderamento escolar. Projetos, intervenções sociais, reflexões e criações são meios de tornar a aula um espaço vivo, conectando o microcosmo da escola ao mundo. É preciso formar cidadãos críticos, capazes de questionar, criar e propor soluções para os desafios que enfrentamos.

O mundo mudou e continuará mudando. A Educomunicação precisa ser protagonista nesse cenário, ajudando a construir uma sociedade que, apesar das diferenças, promova o respeito mútuo, a convivência ética e o Bem Viver. Mais do que nunca, a escola e a Educomunicação precisam estar em estado interventivo, para o mundo e por um mundo melhor.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor 

Imagem Pixabay 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Educomunicação no território: O papel dos articuladores no apoio aos projetos

 


Desde 2001, a Educomunicação tem se consolidado como uma política pública pioneira na Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Com o lançamento do projeto Educom.Rádio, buscou-se inicialmente reduzir a violência em escolas de territórios vulneráveis, promovendo a comunicação como ferramenta de in9tegração. Nos anos seguintes, o programa Nas Ondas do Rádio ampliou o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), alinhando-se à jornada escolar estendida e fortalecendo o trabalho dos Professores Orientadores de Informática Educativa (POIES). Em 2016, o Imprensa Jovem tornou-se o carro-chefe dessa trajetória, formando crianças e jovens repórteres para promover a comunicação crítica e participativa nas unidades escolares.

Em 2016, a reorganização administrativa fortaleceu ainda mais a presença da Educomunicação nos territórios e transformou o programa Nas Ondas do Radio em um setor. Nucleo de Educomunicação  passou a integrar as Núcleo Tecnico Currículo, desempenhando  papel importa na formação de educadores.

 Atualmente integrado  a Divisão de Gestão Democrática e Parcerias Intersetoriais (DIGP), o Núcleo de Educomunicação passou a colaborar diretamente com as instancias de participação, em especial com GrêmiosEscolaares, os Professores  Orientadores de Educação Digital (POEDs) e formadores da DICEU e DIPED/TPA. Essa parceria estratégica busca ampliar o alcance dos projetos, apoiar as escolas e promover o protagonismo estudantil em diversas linguagens midiáticas, como rádio, audiovisual, fotografia, HQs e mídias sociais.

O articulador de Educomunicação desempenha um papel fundamental nesse processo. Sua missão vai além da implementação dos projetos: é preciso apoiar os professores, mediar diálogos com os setores pedagógicos e incentivar a integração da Educomunicação às práticas escolares. Para isso, o articulador precisa dominar a gestão de processos educomunicativos, entender as dinâmicas de participação estudantil e fortalecer os vínculos com a comunidade escolar. Esse trabalho conjunto não apenas potencializa o impacto dos projetos, mas também contribui para a formação de estudantes críticos e participativos.

A organização de formações e eventos também é uma das responsabilidades-chave do articulador. Cursos, oficinas e palestras com especialistas em Educomunicação são essenciais para capacitar professores e ampliar as possibilidades pedagógicas nas escolas. Além disso, o registro e o monitoramento dos projetos são fundamentais para mensurar seu impacto e gerar dados que contribuam para o desenvolvimento de novas estratégias. Esse movimento fortalece a Educomunicação como uma ferramenta dinâmica, adaptável e de grande relevância para a educação integral.

Com uma trajetória de mais de duas décadas, a Educomunicação se mostra uma política pública transformadora. Os articuladores garantem que  professores tenham acesso a práticas que integram expressão, criatividade e criticidade aos projetos. Esse trabalho conjunto faz da comunicação uma poderosa aliada na construção de uma escola mais inclusiva, democrática e conectada com os desafios do século XXI.

Por Carlos Lima - Educomunicador e Professor

Imagem : Acervo Imprensa Jovem 

 

sábado, 18 de janeiro de 2025

Radio escolar é uma alternativa ao uso das telas no intervalo escolar


O horário de intervalo é um dos momentos mais aguardados pelos estudantes. Assim que o sinal toca, a agitação toma conta: é a hora de descontração, de fortalecer amizades, brincar e lanchar. No entanto, esse período também pode trazer desafios, como desentendimentos ocasionais ou mesmo a dificuldade em retomar o ritmo quando as aulas recomeçam. Ainda assim, o intervalo é, essencialmente, um espaço de relações humanas.

Ao longo dos anos, entretanto, essas interações foram sendo substituídas, em grande parte, pelas relações mediadas por telas. Hoje, é comum ver grupos de estudantes concentrados em celulares ou isolados em seus próprios mundos digitais. Quando as escolas implementam restrições ao uso de dispositivos, surge a necessidade de promover atividades que redirecionem a atenção e estimulem a convivência de forma criativa e saudável.

Lembro-me de quando eu era professor em uma escola primária. O intervalo era pura euforia: crianças correndo, gritando e aproveitando cada segundo no pátio. Para manter a ordem, a inspetora frequentemente repetia: “Parem de correr, parem de gritar!” Era uma batalha constante durante os 15 minutos de intervalo.

Um dia, decidimos experimentar algo diferente: criamos uma rádio-escola. Começamos a tocar músicas que as crianças adoravam, e uma delas, a famosa música Asereje ou "Celere", fez um sucesso estrondoso. O resultado foi impressionante: de repente, todas as crianças começaram a dançar juntas, contagiadas pela energia da música. A inspetora, que costumava intervir para acalmar os ânimos, veio até a sala dos professores, eufórica, nos chamando para ver o que estava acontecendo. Fomos ao pátio e vimos algo mágico: todas as crianças envolvidas e felizes.

Musica Ragatanga (Asereje) do grupo Rouge

Quando o sinal tocou para o retorno às aulas, houve alguma relutância em voltar. No entanto, bastou a promessa de repetir a experiência no dia seguinte para que subissem alegres para as salas.

Essa vivência mostrou o imenso potencial pedagógico da rádio-escola como ferramenta de intervenção. Além de entreter, a programação pode incluir músicas e conteúdos elaborados pelos próprios estudantes, como recados, curiosidades e informações sobre temas de interesse. Enquanto escutam a rádio, os alunos interagem de outras formas: conversando, dançando ou simplesmente se conectando uns com os outros de maneira mais leve e criativa.

A Radioescola pode, portanto, ser uma solução eficiente para o excesso de uso das telas no intervalo, oferecendo uma alternativa igualmente envolvente e que fortalece os laços entre os estudantes. Afinal, trocar o fascínio das telas pela magia da música e da comunicação é, sem dúvida, um ganho para toda a comunidade escolar.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem:  criado por Carlos Lima IA Canva

Sugestão de projeto : RadioescolaFM acesse

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Mídias Sociais na Escola: O que divulgar e como impactar a comunidade


Aproximar escola e comunidade é essencial para promover uma educação democrática e participativa. Famílias, educadores e estudantes têm diversas oportunidades para fortalecer vínculos, seja em reuniões, festividades escolares ou celebrações como formaturas. Esses momentos criam conexões afetivas e permitem o diálogo sobre o papel de cada membro da comunidade escolar, fortalecendo o entendimento mútuo entre professores, pais e estudantes. No entanto, é preciso ir além desses eventos pontuais para ampliar a influência e a conexão entre a escola, as famílias e a comunidade local.

Uma das estratégias mais eficazes para alcançar esse objetivo é o fortalecimento da comunicação. O termo "comunicação" vem do latim communicare, que significa "tornar comum", "partilhar" ou "trocar opiniões". Compartilhar informações de forma contínua e acessível é essencial para aproximar a escola das famílias, e, nesse sentido, as mídias sociais desempenham um papel central. Elas se tornaram ferramentas indispensáveis para divulgar notícias, recados, opiniões e muitas outras informações que estreitam os laços entre escola e comunidade.

A pandemia e o impulso às Redes Sociais escolares

A pandemia acelerou a adoção de redes sociais como canais oficiais de comunicação das escolas. Durante o período de ensino remoto, esses meios permitiram que as escolas orientassem as famílias, garantindo a continuidade das atividades educacionais. Com o retorno às aulas presenciais, o uso das redes sociais consolidou-se como uma prática cotidiana para compartilhar informações relevantes com as comunidades escolares.

Antes mesmo da pandemia, o programa Imprensa Jovem já previa a utilização de redes sociais como parte de projetos de educomunicação liderados por estudantes. Durante a crise sanitária, essas agências de notícias online, gerenciadas por alunos com a mediação de professores, tornaram-se canais estratégicos de comunicação das escolas. No período pós-pandemia, essas iniciativas se expandiram, fortalecendo a interação entre professores, estudantes e famílias.

Redes Sociais: Uma ponte entre escola e comunidade

As redes sociais lideradas por estudantes e supervisionadas por professores têm mostrado um grande potencial para integrar a tríade professor-estudante-família. Essa abordagem colaborativa ajuda a dar visibilidade às ações da escola, tornando-as mais acessíveis à comunidade e promovendo um sentimento de pertencimento.

Porém, o uso das mídias sociais vai além de simplesmente informar. Elas podem transformar-se em verdadeiras agências de notícias colaborativas, onde todos os membros da comunidade escolar têm voz. A seguir, exploraremos como as escolas podem usar esses canais de forma eficiente e impactante.

O que divulgar nas mídias sociais da escola?

  1. Eventos escolares
    Compartilhe detalhes sobre feiras, exposições, apresentações culturais e reuniões pedagógicas.

  2. Projetos e ações pedagógicas
    Mostre o aprendizado e as criações dos estudantes, como projetos de ciências, artes e iniciativas de educomunicação.

  3. Reconhecimentos e homenagens
    Valorize conquistas de alunos, professores e colaboradores, reforçando o senso de comunidade.

  4. Datas importantes
    Celebre marcos como aniversários da escola, Dia do Professor e eventos nacionais relevantes.

  5. Parcerias e inovações
    Divulgue colaborações com organizações locais e destaque iniciativas pedagógicas inovadoras.

  6. Conteúdo educativo
    Ofereça dicas de leitura, reflexões sobre temas atuais e sugestões para práticas sustentáveis.

Como engajar e impactar a comunidade?

  1. Conte histórias
    Use narrativas que conectem emocionalmente, mostrando como a escola impacta a vida dos estudantes e das famílias.

  2. Invista em imagens e vídeos
    Conteúdos visuais são mais atraentes e geram maior engajamento.

  3. Promova interação
    Use enquetes, desafios e convites para eventos, incentivando a participação ativa da comunidade.

  4. Adote uma linguagem acessível
    Utilize um tom positivo e claro, adequado ao público escolar.

  5. Mantenha frequência
    Publique de forma regular para criar expectativas e fortalecer o vínculo com a audiência.

Transformando Redes Sociais em agências de notícias estudantis

Com o apoio de iniciativas como o programa Imprensa Jovem, as escolas podem transformar suas redes sociais em poderosos veículos de comunicação colaborativa. Para isso, é importante:

  • Criar uma equipe diversificada: Inclua estudantes de diversas idades
  • Capacitar os participantes: Ofereça formações em redação, fotografia e edição de vídeos.
  • Estabelecer editorias: Organize os conteúdos por temas como ciência, cidadania, cultura, ODS.
  • Planejar prazos e publicações: Mantenha um calendário editorial consistente.
  • Incorporar variedade: Combine reportagens, entrevistas, podcasts e vídeos dinâmicos.
  • Divulgar com responsabilidade: Verifique informações antes de publicá-las e priorize conteúdos éticos.

Ao utilizar as redes sociais de maneira estratégica e colaborativa, as escolas podem não apenas informar, mas também inspirar e engajar suas comunidades. Essas plataformas tornam-se, assim, espaços de aprendizado, representatividade e ação conjunta, fortalecendo o papel da escola como um elo essencial na construção de uma sociedade mais conectada e participativa.

Por Carlos Lima: Educomunicador  e professor

Imagem : Gerador por Carlos Lima IA Canvas 



quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Jornal Mural Criativo e Lindo de se ver


Ver para crer? E por que não admirar e se encantar? O jornal mural é uma ferramenta de comunicação poderosa e acessível. Simples de criar devido ao baixo custo, pode se transformar em um excelente recurso de comunicação educacional. Tradicionalmente, utiliza-se um espaço na parede ou um painel para exibir textos, desenhos e imagens com informações de interesse da escola, dos estudantes ou de projetos em andamento.

Mas por que limitar o jornal mural a um simples espaço de recados? Com criatividade e ousadia, ele pode ser muito mais: um verdadeiro painel interativo de comunicação para toda a comunidade escolar. "Saindo da caixinha", o jornal mural pode assumir formatos inovadores, integrar linguagens artísticas e ser adaptado ou customizado conforme o tema abordado. Afinal, comunicação não precisa ser quadrada, formatada ou antiquada. Para chamar atenção – e essa é a principal função do jornal mural – é preciso inovação. Pense nele como um outdoor de informações e um ateliê de criatividade e diversidade.

As 5 Regras de Ouro do Jornal Mural

Para garantir um jornal mural eficaz e atraente, considere estas dicas essenciais:

  1. Concisão: Informações objetivas e diretas.
  2. Acessibilidade: Local bem frequentado pela comunidade escolar
  3. Visibilidade: Letras e informações claras a, no mínimo, dois metros de distância.
  4. Organização: Conteúdo bem distribuído no espaço.
  5. Atualização: Manter o painel sempre renovado com novas informações.

Aulao sobre Jornal Mural - Criação e estrutur

Com essas regras em mente, você está pronto para criar!

Possibilidades Criativas de Jornal Mural

O jornal mural pode se desdobrar em múltiplos formatos encantadores e relevantes, como:

  • Agência de Notícias Escolar: Um espaço para compartilhar notícias importantes da comunidade.
  • Jornal Literário: Textos criativos, poesias e contos escritos por estudantes.
  • Painel de Projetos: Exposição de iniciativas e trabalhos realizados pela escola.
  • Campanha Escolar: Divulgação de temas como sustentabilidade, cidadania ou eventos internos.

Buscando Inspiração

Para explorar ideias inovadoras, sugerimos pesquisar no Pinterest por termos como Jornal mural ou  Creative Bulletin Boards. Essas referências podem ajudar a adaptar suas ideias e tornar seu jornal mural ainda mais atrativo.

Sugestões Pinterest: acesse 

Educomunicação e o Jornal Mural

Mais do que uma ferramenta de comunicação, o jornal mural pode se tornar um projeto educomunicativo, sendo desenvolvido ao longo do ano como parte das aulas ou como intervenções pedagógicas. Ele oferece um espaço para expressão, criatividade e engajamento, promovendo o protagonismo estudantil e a interação com a comunidade.

Que tal transformar o jornal mural da sua escola em um espaço dinâmico, criativo e inspirador? Mãos à obra!

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor 

Imagem: Pinterest 



quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Divas e divos povoam com suas histórias de vida a EJA


⁩Quem não se lembra da professora Diva, que, num ato de coragem, contou sua história na FLIP, o festival literário de Paraty, para escritores, entre eles o ator baiano Lázaro Ramos, e para a platéia que lotava o espaço? Ela faleceu no último dia 11 de janeiro de 2025. Sua história marcante demonstra o quanto a educação salvou sua vida. Não houve quem não se emocionasse. De uma mulher neta de escravos até sua atuação como professora, Diva resistiu e inspirou muitos.

Diva Guimarães emociona a FLIP com sua história de vida

Isso me fez lembrar da história de um senhor que compartilhou sua história, que aos 80 anos, conseguiu estudar no MOVA. O MOVA é o Movimento de Alfabetização de Adultos, criado por Paulo Freire. Após ser consultado pela DRE (Diretoria Regional de Educação) sobre como divulgar a potência do MOVA, eu disse: "A potência do MOVA são as pessoas. Que tal ouvir o que elas pensam sobre o MOVA? Vamos produzir vídeos com seus depoimentos."

Usando celulares com fones de ouvido e gravações em plano fechado, as histórias foram voluntariamente contadas por estudantes de várias unidades da Brasilândia. Demos um título à ação: Vozes do MOVA.

Uma história em especial chamou muita atenção: a do senhor Joaquim, um mineiro que viveu na roça. Ele contou que quando criança, era fascinado pela ideia de estudar. Um dia, compartilhou esse desejo com seu irmão mais velho, que decidiu presenteá-lo em seu aniversário. 

O jovem Joaquim pediu algo que pudesse ajudá-lo a estudar. No dia do aniversário, ansioso, aguardava seu irmão chegar com o presente prometido. Quando o irmão entrou em casa com um grande pacote, Joaquim, sem entender, foi convidado a abrir. Dentro, encontrou uma enxada.

 


 Senhor Joaquim gravando o depoimento para o projeto Vozes do MOVA

"Quando tinha 8 anos, meu irmão falou que ia me dá um presente 1 caderno e 1 lápis. Fiquei tão alegre. Chegou o embrulho. O irmão apresentou o cabo da enxada e disse este é o lápis e a enxada é o caderno. Você tem que aprender o que aprendi. Fiquei muito triste". Depoimento do Sr. Joaquim Amancio do MOVA de Jd. Brasilândia"

Esse episódio marcou profundamente a vida do senhor José. Anos depois, já em São Paulo, na Brasilândia, após criar seus filhos e filhas, ele decidiu cumprir sua missão e sonho: estudar, aprender a ler e escrever usando lápis e caderno, o presente tão sonhado na infância.

Divas e Divos povoam a Educação de Jovens e Adultos, e suas histórias de vida mostram o quanto eles podem ensinar aos mais jovens sobre o verdadeiro valor da educação.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Imagem: Vecteezy 

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Educomunicação: Convivência pela Paz e Aprendizagens

 

Desde sua implementação em 2001, a Educomunicação tem se mostrado uma ferramenta poderosa para fomentar a cultura de paz em territórios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Consolidada pela Lei 13.941, conhecida como Educomunicação pelas Ondas do Rádio, a proposta promove ambientes mais humanos e éticos ao integrar a comunicação aos processos pedagógicos. Além de fortalecer a convivência escolar, essa abordagem potencializa aprendizagens em leitura, escrita e tecnologias, ampliando as possibilidades educacionais.

A integração da Educomunicação à Educação Integral conecta o aprendizado às vivências escolares e comunitárias. Projetos interdisciplinares, como os desenvolvidos no programa Mais Educação, promovem aprendizagens que vão além da sala de aula, utilizando linguagens midiáticas como rádio, vídeo, audiovisual, cinema, fotografia, hq, jornal e midiaa sociais. A criação de espaços para o protagonismo estudantil é um ponto central: grupos de estudantes são incentivados a liderar ações que promovam cidadania e diálogo social, fortalecendo a conexão entre escola e comunidade.

Imagem gerada por IA que conecta Diversidade, Paz e Arte - por Carlos Lima

Um dos maiores exemplos de sucesso é o Imprensa Jovem, onde estudantes criam agências de notícias que incentivam a produção jornalística e a leitura crítica. Atividades práticas como a criação de podcasts, blogs, jornais escolares, mídias sociais conectam a escrita ao uso ético de tecnologias, estimulando o pensamento crítico e a criatividade. A leitura e a escrita, dessa forma, deixam de ser apenas componentes curriculares e passam a ser ferramentas de expressão e transformação social.

A Educomunicação também se destaca ao criar canais de diálogo entre escola e comunidade, como rádios escolares, blogs e redes sociais. Essas iniciativas não apenas ampliam a transparência e a participação, mas também promovem eventos colaborativos que fortalecem o senso de pertencimento e envolvem as famílias nas dinâmicas escolares. A educação midiática, por sua vez, ensina o uso responsável de dispositivos digitais, prepara os estudantes para identificar fake news e explora o potencial criativo das tecnologias.

Com a Educomunicação, as escolas se tornam espaços dinâmicos e colaborativos, capazes de transformar a convivência e promover aprendizagens significativas.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

ImagemImagem gerada por IA que conecta Diversidade, Paz e Arte - por Carlos Lima



segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Reflexões sobre algoritmos e responsabilidade social


Quando estava no colegial técnico, optei pelo curso de eletrônica. A escolha tinha um motivo bem claro: minha paixão por rádio. Lembro que adorava as revistas que ensinavam a construir circuitos eletrônicos, e um dos projetos mais fascinantes que encontrei foi de como montar um transmissor de rádio FM. A ideia de poder transmitir para qualquer pessoa ao meu redor pelas ondas do rádio me encantou profundamente. Foi essa paixão por eletrônica que me levou a escolher esse caminho no colegial técnico.

As aulas eram repletas de matérias interessantes e práticas no laboratório, mas havia uma que me intrigava particularmente: a de programação digital. Essa aula era totalmente diferente das outras. Eu logo a relacionei ao componente que mais me chamava atenção: o Circuito Integrado (CI). Esse pequeno circuito, com suas perninhas pretas, era responsável por substituir vários componentes, como transistores, e aparecia em aparelhos como videocassetes e televisores da época.

A parte que mais me impressionava era a programação de algoritmos. A forma como, com a combinação dos números 0 e 1, era possível fazer um aparelho funcionar de maneira precisa, como se fosse uma receita passo a passo, era fascinante. E hoje, o CI, também conhecido como chip, está presente em todos os aparelhos eletrônicos do planeta. Ele funciona a partir de algoritmos, que são como fórmulas que resolvem problemas e tornam possível o processamento de informações em equipamentos ao redor do mundo.

Os algoritmos são a base do processamento de informações e, mais recentemente, têm sido fundamentais nas redes sociais. Por exemplo, se você curte um vídeo de gatinhos, o algoritmo percebe isso e começa a sugerir conteúdos semelhantes. Se você não interage com aquele conteúdo, a máquina ajusta e passa a te mostrar outro tipo de vídeo. Esse processo envolve duas aplicações principais: o “if” (se) e o “else” (senão). Em outras palavras, se você deseja ver mais vídeos de gatinhos, o algoritmo irá priorizar isso para você; se não, ele vai sugerir algo diferente.

O mais interessante é que, além de seguir os desejos dos usuários, as máquinas estão cada vez mais entendendo e automatizando essas escolhas. No entanto, é preciso tomar cuidado. O algoritmo, por si só, não é nem bom nem ruim – ele é apenas uma ferramenta. O grande problema surge quando ele é manipulado pelos programadores. Infelizmente, isso pode resultar em funcionalidades que excluem, discriminam ou atacam grupos de pessoas.

Lembro-me de assistir ao filme O Exterminador do Futuro pela primeira vez e me perguntar se um dia as máquinas iriam se rebelar contra os humanos que as criaram. Será que, no futuro, elas seriam capazes de criar outras máquinas? Essa questão continua a me intrigar.

Voltando aos meus tempos de colegial, quando eu queria ter uma rádio, era para ser um “pirata da comunicação”, alguém capaz de criar conteúdo que ninguém mais havia criado. A ideia de conquistar uma audiência e de ter a liberdade de se expressar era fascinante. Na época, diziam que uma rádio pirata poderia até derrubar um avião. Acho improvável que um avião fosse derrubado por algo tão simples como uma transgressão de protocolo, mas, hoje, mexer nos algoritmos é algo muito mais sério e perigoso – uma verdadeira caixa de Pandora.

Agora, mais do que nunca, acredito que precisamos refletir sobre a responsabilidade social envolvida na criação e manipulação de algoritmos. Eles têm o poder de moldar o mundo em que vivemos, influenciar nossas escolhas e até nos manipular. Precisamos garantir que, por trás desses sistemas, haja uma ética que respeite a diversidade, a equidade e a dignidade humana.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem : Gerado no Canva (AI) por Carlos Lima



domingo, 12 de janeiro de 2025

Educomunicação: Uma Proposta Transformadora para a Educação Pública


A Educomunicação surge como uma abordagem inovadora e transformadora no contexto da educação pública. Ao ressignificar o ambiente de aprendizado, transforma a sala de aula em um espaço vibrante de criação e participação ativa. Os estudantes deixam de ser apenas receptores de conteúdo e assumem o protagonismo no processo de ensino, tornando-se produtores e disseminadores de conhecimento. Essa abordagem desenvolve competências essenciais para o século XXI, como pensamento crítico, criatividade, colaboração e comunicação eficaz. Além disso, fomenta a autonomia, o protagonismo juvenil e a formação cidadã, formando os estudantes a se tornarem agentes ativos e conscientes na sociedade.

Pilares para a Implementação de um Programa de Educomunicação

A implementação de um programa educacional baseado na Educomunicação requer a estruturação de pilares fundamentais:

  1. Formação Continuada de Professores
    Oferecer capacitações por meio de cursos, oficinas e outras atividades formativas é essencial para familiarizar os educadores com ferramentas e metodologias educomunicativas.

  2. Infraestrutura Escolar
    Investir em equipamentos audiovisuais, computadores, acesso à internet, softwares livres e recursos educacionais abertos é imprescindível. Esses elementos garantem o suporte necessário para a realização de projetos educomunicativos.

  3. Materiais Pedagógicos Específicos
    Desenvolver recursos que integrem a Educomunicação às propostas pedagógicas, conectando-a às diferentes áreas do conhecimento e projetos interdisciplinares.

  4. Investimento Público e Parcerias Estratégicas
    O financiamento governamental é crucial para suprir as necessidades do programa. Integrar a Educomunicação a iniciativas como a Educação Integral pode ampliar as fontes de recursos públicos. Parcerias com organizações internacionais, como UNESCO e UNICEF, além de universidades, instituições culturais, mídias comunitárias, comunicação pública e empresas, podem ser viabilizadas por meio de termos de cooperação técnica. Tais colaborações ampliam as oportunidades de formação, estruturam ações e viabilizam o desenvolvimento de materiais didáticos de apoio.

Adaptabilidade e Impacto da Educomunicação

Uma das maiores forças da Educomunicação é sua adaptabilidade às diferentes etapas da educação básica, desde a educação infantil até o ensino médio. Essa abordagem permite a criação de espaços como estúdios de rádio, jornais comunitários, agências de notícias estudantis e laboratórios multimídia, que podem ser integrados aos laboratórios de informática. Tais iniciativas promovem projetos interdisciplinares que conectam diversas áreas do saber, proporcionando um ambiente colaborativo, estimulante e inovador.

Os impactos da Educomunicação nos estudantes são amplos e significativos. Ela desenvolve habilidades de expressão oral e escrita, estimula o pensamento crítico, capacita os alunos a interpretar informações de forma criteriosa e promove o uso ético das tecnologias digitais. Além disso, os projetos educomunicativos incentivam a criatividade e fortalecem a colaboração e o trabalho em equipe, habilidades essenciais para a vida pessoal e profissional.

Experiências Bem-Sucedidas no Brasil

Diversas iniciativas no Brasil demonstram o potencial transformador da Educomunicação. Exemplos incluem:

  • Programa Imprensa Jovem acesse, desenvolvido pelo Núcleo de Educomunicação em São Paulo;
  • Agência de Notícias dos Estudantes (Andar) acesse, no Rio de Janeiro;
  • Agência de Notícias na Escola acesse, na Bahia.

Esses projetos destacam o papel central dos professores como mediadores e facilitadores, promovendo um aprendizado ativo e engajador.

Marco Legal e Segurança Pedagógica

A criação de orientações pedagógicas específicas, como as desenvolvidas em São Paulo pelo Núcleo de Educomunicação acesse, possibilita conexões inter e transdisciplinares com as áreas de conhecimento. A institucionalização da Educomunicação por meio de leis acesse e portarias acesse, como ocorre em São Paulo, oferece segurança pedagógica e incentiva professores a desenvolverem projetos, com o reconhecimento de horas de trabalho e investimento na formação continuada.

Educomunicação: Um Caminho para Transformar a Educação Pública

A Educomunicação é uma ferramenta poderosa para revolucionar a educação pública, promovendo um aprendizado mais significativo e envolvente. Investir na formação docente  acesse, na criação de espaços adequados e no uso de recursos tecnológicos prepara os estudantes para os desafios de um mundo cada vez mais conectado e colaborativo.

Educar por meio da comunicação é construir um ensino que transforma, conecta e inspira. Essa abordagem apresenta aos governos uma oportunidade única de potencializar a educação pública, promovendo um impacto social duradouro e fortalecendo as bases para um futuro mais inclusivo e participativo.

Por Carlos Lima : Professor e Educomunicador

Imagem : Onézio Cruz

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