sexta-feira, 11 de julho de 2025

Educação Digital e Midiática nas escolas públicas: avanços e desafios com a obrigatoriedade nas escolas brasileiras





A Educação Digital e Midiática vem ganhando cada vez mais relevância no cenário educacional brasileiro. No município de São Paulo, o Programa Imprensa Jovem — ação desenvolvida pelo Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação — é uma das políticas públicas pioneiras que integra essa perspectiva ao cotidiano escolar. A iniciativa promove a criação de agências de notícias estudantis, onde os estudantes se tornam protagonistas na produção de conteúdos midiáticos, aprendendo a ler, interpretar e produzir mídias de forma crítica e criativa.

Esse movimento também ganha força em outras regiões do país. Um exemplo é o estado da Bahia, que passou a integrar a Educação Midiática ao currículo do Ensino Médio, oferecendo uma aula semanal dedicada a esse tema.  A proposta soma-se à existência de 88 agências  de notícias estudantis já implementadas na rede estadual, com meta para 2025 de 500, fortalecendo o protagonismo juvenil e a cultura digital no ambiente escolar.

A produção de mídia na escola não é apenas um exercício técnico; trata-se de uma experiência educativa que favorece o desenvolvimento de múltiplas competências. Quando os estudantes criam mídias — sejam podcasts, vídeos, jornais, rádios ou postagens para redes sociais — eles mobilizam saberes de forma interdisciplinar e conectam diferentes áreas do conhecimento. É um processo orgânico, que respeita o modo como os jovens constroem e compartilham seus aprendizados no mundo contemporâneo.

Mais do que uma atividade extracurricular, a Educomunicação oferece aos estudantes um percurso formativo centrado no protagonismo, na autonomia, na cultura de paz, na leitura crítica da mídia, na colaboração e no uso ético das tecnologias. Esses princípios estão em consonância com as competências gerais da BNCC e as Matrizes de Saberes do Currículo da Cidade de São Paulo, reforçando a importância da Educomunicação como uma estratégia transversal e estruturante no currículo escolar.

Entretanto, para que esses processos sejam efetivos, é necessário investir na formação continuada de professores, com abordagens que integrem teoria e prática. Produzir mídia na escola não é trivial: exige sensibilidade, planejamento e, sobretudo, respeito ao protagonismo estudantil. O papel do professor, nesses contextos, deve ser o de mediador e facilitador, adaptando sua atuação conforme a faixa etária e as necessidades dos estudantes, especialmente nos primeiros anos, em que a mediação se torna ainda mais essencial.

Um exemplo expressivo dessa formação docente aconteceu em julho de 2025, em Salvador, durante a formação Educação Digital e Midiática:Como Criar  Agências de Notícias nas Escolas? , promovido pelo Instituto Anísio Teixeira. O evento reuniu cerca de 500 professores da rede estadual da Bahia em dois dias intensos de atividades, com palestras, oficinas e mesas de relatos de práticas. A iniciativa, que contou com o apoio e presença  de  secretarias estaduais, governo federal, organizações, Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Universidade Federal da Bahia, demonstrou o grande interesse dos educadores no tema, embora ainda persistam dúvidas sobre como dinamizar esses projetos no cotidiano das escolas.


Evento:  Como Montar uma Agência de Notícias na Escola 

Oficina de Podcast - Encontro promovido pelo Instituto Anisio Teixeira 


A proposta do PL 1010/2025, atualmente em tramitação no Senado Federal, representa um avanço importante ao propor a obrigatoriedade da Educação Digital e Midiática como componente transversal em toda a educação básica. O projeto prevê aulas específicas, integradas ao currículo, com o objetivo de preparar os estudantes para uma atuação crítica, ética e criativa no ecossistema digital e informacional contemporâneo.

Conheça o Projeto de Lei 1010/2025

Iniciativas como essa reconhecem que formar leitores críticos de mídia e criadores conscientes de conteúdo digital é uma necessidade urgente em tempos de desinformação, discursos de ódio e hiperconectividade. Mas para que isso se torne realidade em larga escala, é essencial considerar as condições reais das escolas, respeitar as diversidades dos territórios educativos e garantir que a Educomunicação seja uma experiência possível, acessível e significativa.

O educomunicador Bruno Ferreira, coordenador pedagógigo da Educamídia,  apresenta em seu site, informações  do Conselho Nacional de Educação sobre o tema, confira. A recente resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), publicada em 21 de março, estabelece diretrizes para a integração da educação digital e midiática no currículo da educação básica, reforçando sua obrigatoriedade até 2026 e garantindo que essa formação esteja presente mesmo diante da proibição do uso de celulares pessoais em sala de aula, conforme a Lei nº 15.100/2024. A norma orienta o uso prioritário de dispositivos escolares para fins pedagógicos, respeitando a autonomia das redes de ensino na escolha da melhor abordagem — transversal ou por disciplina específica. Alinhada à BNCC e à Política Nacional de Educação Digital (PNED), a resolução também trata da gestão dos dispositivos, da formação docente e da infraestrutura como desafios centrais para a efetiva implementação, destacando a importância de acompanhar as práticas em curso e ouvir professores e gestores para garantir uma educação digital e midiática de qualidade em todo o país.

A consolidação da Educação Digital e Midiática como política pública depende de ações intersetoriais, de investimentos em formação, de espaços de escuta e criação para os estudantes e da valorização de práticas educativas inovadoras que já acontecem nas escolas. O caminho está sendo traçado — e a presença dos estudantes como sujeitos ativos potencializa a transformação que a escola precisa viver.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Foto : Acervo Imprensa Jovem no Ar

Fonte: 

Site do Bruno Ferreira 



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