Vivemos um tempo curioso: pais e mães, formados num mundo analógico, criam filhos completamente imersos no universo digital. Enquanto os adultos muitas vezes aprendem a lidar com as telas por necessidade, as crianças e adolescentes já nascem "deslizando os dedos" — e esse descompasso entre gerações pode ser um desafio imenso quando o assunto é educação midiática.
A frase “o quarto de casa é o lugar mais perigoso que as ruas” parece alarmista, mas reflete uma realidade. O ambiente doméstico, muitas vezes visto como refúgio seguro, é onde muitos jovens estão mais vulneráveis: cyberbullying, discursos de ódio, desafios perigosos, aliciamentos, manipulação de informações e vícios em telas acontecem justamente ali, longe dos olhos dos adultos. É urgente trazer a discussão sobre o mundo digital para o centro da vida familiar, com cuidado, diálogo e estratégias acessíveis.
Mas como envolver quem cresceu num tempo sem internet, sem redes sociais e sem algoritmos? A resposta pode estar nos próprios filhos.
Educomunicação: os estudantes como protagonistas na formação digital de suas famílias
A Educomunicação propõe um caminho inovador e potente: transformar os estudantes em multiplicadores de conhecimento dentro de suas casas. Ao desenvolver projetos de educação midiática nas escolas — como produção de podcasts, vídeos, campanhas, entrevistas e reportagens — os jovens ganham repertório crítico para falar sobre o uso consciente das mídias. E mais: tornam-se pontes de aprendizado com suas famílias.
Essa abordagem tem força porque é afetiva. Quando um filho ensina a mãe a reconhecer uma fake news, ou quando uma filha orienta o pai a configurar a privacidade de um aplicativo, não há apenas uma troca de saberes. Há vínculo, escuta e construção coletiva de cidadania digital.
E os pais, como entram nessa conversa?
É preciso lembrar que educação midiática não deve ser apenas atrativa para os estudantes. Ela precisa também ser compreensível, acessível e, principalmente, significativa para os pais. Estratégias específicas podem fazer toda a diferença:
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Formações curtas e práticas nas escolas, com temas como “como proteger seu filho nas redes sociais” ou “entenda os jogos e aplicativos que seu filho usa”;
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Guias impressos ou digitais com linguagem simples, distribuídos pelos próprios estudantes em ações nas escolas ou nos bairros;
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Encontros mediados por jovens educomunicadores, em que pais e filhos compartilham experiências e aprendem juntos;
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Campanhas de comunicação comunitária usando rádios escolares, redes sociais das escolas e murais informativos com dicas de cuidado digital.
Essas ações não tratam os pais como desinformados ou incapazes, mas como parceiros em um processo de aprendizado mútuo. Afinal, ninguém precisa dominar o mundo digital para oferecer proteção e apoio — basta disposição para aprender, escutar e caminhar junto.
Transformar a casa em um território de cuidado digital começa na escola. E começa com os estudantes.
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Imagem: Reprodução Womcy.org
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