segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Reflexões sobre algoritmos e responsabilidade social


Quando estava no colegial técnico, optei pelo curso de eletrônica. A escolha tinha um motivo bem claro: minha paixão por rádio. Lembro que adorava as revistas que ensinavam a construir circuitos eletrônicos, e um dos projetos mais fascinantes que encontrei foi de como montar um transmissor de rádio FM. A ideia de poder transmitir para qualquer pessoa ao meu redor pelas ondas do rádio me encantou profundamente. Foi essa paixão por eletrônica que me levou a escolher esse caminho no colegial técnico.

As aulas eram repletas de matérias interessantes e práticas no laboratório, mas havia uma que me intrigava particularmente: a de programação digital. Essa aula era totalmente diferente das outras. Eu logo a relacionei ao componente que mais me chamava atenção: o Circuito Integrado (CI). Esse pequeno circuito, com suas perninhas pretas, era responsável por substituir vários componentes, como transistores, e aparecia em aparelhos como videocassetes e televisores da época.

A parte que mais me impressionava era a programação de algoritmos. A forma como, com a combinação dos números 0 e 1, era possível fazer um aparelho funcionar de maneira precisa, como se fosse uma receita passo a passo, era fascinante. E hoje, o CI, também conhecido como chip, está presente em todos os aparelhos eletrônicos do planeta. Ele funciona a partir de algoritmos, que são como fórmulas que resolvem problemas e tornam possível o processamento de informações em equipamentos ao redor do mundo.

Os algoritmos são a base do processamento de informações e, mais recentemente, têm sido fundamentais nas redes sociais. Por exemplo, se você curte um vídeo de gatinhos, o algoritmo percebe isso e começa a sugerir conteúdos semelhantes. Se você não interage com aquele conteúdo, a máquina ajusta e passa a te mostrar outro tipo de vídeo. Esse processo envolve duas aplicações principais: o “if” (se) e o “else” (senão). Em outras palavras, se você deseja ver mais vídeos de gatinhos, o algoritmo irá priorizar isso para você; se não, ele vai sugerir algo diferente.

O mais interessante é que, além de seguir os desejos dos usuários, as máquinas estão cada vez mais entendendo e automatizando essas escolhas. No entanto, é preciso tomar cuidado. O algoritmo, por si só, não é nem bom nem ruim – ele é apenas uma ferramenta. O grande problema surge quando ele é manipulado pelos programadores. Infelizmente, isso pode resultar em funcionalidades que excluem, discriminam ou atacam grupos de pessoas.

Lembro-me de assistir ao filme O Exterminador do Futuro pela primeira vez e me perguntar se um dia as máquinas iriam se rebelar contra os humanos que as criaram. Será que, no futuro, elas seriam capazes de criar outras máquinas? Essa questão continua a me intrigar.

Voltando aos meus tempos de colegial, quando eu queria ter uma rádio, era para ser um “pirata da comunicação”, alguém capaz de criar conteúdo que ninguém mais havia criado. A ideia de conquistar uma audiência e de ter a liberdade de se expressar era fascinante. Na época, diziam que uma rádio pirata poderia até derrubar um avião. Acho improvável que um avião fosse derrubado por algo tão simples como uma transgressão de protocolo, mas, hoje, mexer nos algoritmos é algo muito mais sério e perigoso – uma verdadeira caixa de Pandora.

Agora, mais do que nunca, acredito que precisamos refletir sobre a responsabilidade social envolvida na criação e manipulação de algoritmos. Eles têm o poder de moldar o mundo em que vivemos, influenciar nossas escolhas e até nos manipular. Precisamos garantir que, por trás desses sistemas, haja uma ética que respeite a diversidade, a equidade e a dignidade humana.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem : Gerado no Canva (AI) por Carlos Lima



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