Gabi era uma garota típica da periferia de São Paulo. Filha de uma professora que atuava no CEU Azul da Cor do Mar, sua personalidade comunicativa se destacava desde cedo — tanto que isso, que hoje é sua maior força, era visto como um problema na escola. Certo dia, sua mãe recebeu um recado da coordenação: “sua filha fala demais e atrapalha a aula”.
Diante da situação, sua mãe teve uma ideia. Contou para Gabi sobre um projeto que acontecia na escola onde lecionava: o Imprensa Jovem, coordenado pelos professores Marcos Evangelista e Rosa Rogério. Mesmo sendo de outra unidade escolar, Gabi foi acolhida no projeto Redação Força Jovem (acesse) encontrou seu lugar, sua voz e uma nova forma de enxergar o mundo: como repórter.
Gabriela Vallim, jovem, negra e periférica, transformou-se em uma das maiores referências do Imprensa Jovem, participando de grandes coberturas jornalísticas como a Campus Party Brasil, além de colaborar em reportagens e eventos de apresentação do programa. A experiência educomunicativa despertou nela o interesse pela área da comunicação e o desejo de transformar a realidade.
Com esse espírito, criou com uma amiga o movimento “15 contra 16” — uma ação no Instagram de 15 segundos contra a proposta de redução da maioridade penal para 16 anos. (Clique aqui)A partir daí, Gabi se consolidou como uma jovem ativista de direitos humanos do país, o que a levou a ser convidada pelo então prefeito Fernando Haddad para assumir a Coordenação de Juventude da Cidade de São Paulo (clique aqui)Tornou-se a primeira mulher negra a ocupar este cargo, focando principalmente em ações de enfrentamento ao fenômeno dos jovens “nem-nem” — que não estudam nem trabalham.
Seu desempenho na gestão pública e sua visão estratégica a levaram a atuar em grandes multinacionais, sempre com foco em juventude e comunicação. Mas o sonho de Gabi era ir além. Deixou a carreira corporativa para estudar fora do país e se mudou para a Inglaterra. Lá, dedicou-se ao aprendizado da língua, cursou um MBA, ingressou na carreira de modelo internacional e fundou uma ONG com o objetivo de compartilhar a cultura brasileira com o mundo.
Foi assim que nasceu a Baile Funk Culture (Clique aqui), um projeto cultural que vai além da diversão: promove a valorização da cultura periférica brasileira, muitas vezes marginalizada, e a apresenta como expressão legítima e potente da juventude. O movimento, criado entre amigos, passou a reunir londrinos, refugiados e africanos em bailes que celebram a identidade das favelas.
Esse impacto global foi reconhecido em 2024, quando Gabi foi incluída na prestigiada lista MIPAD Global 100, na categoria Filantropia e Impacto Social. A iniciativa, apoiada pela ONU, reconhece as 100 pessoas negras mais influentes com menos de 40 anos, que estão construindo pontes e transformando o mundo.
A seguir, o depoimento da própria Gabi:
Sou uma das 50 lideranças reconhecidas na lista MIPAD Global 100, na categoria Filantropia e Impacto Social!
O @mipad100 (Most Influential People of African Descent) é uma iniciativa apoiada pela ONU que reconhece pessoas negras que estão construindo pontes e deixando marcas positivas no mundo.
Esse reconhecimento tem um significado muito especial para mim. Representa a missão que venho cultivando: usar a comunicação, a educação, a cultura e a arte como ferramentas para ensinar, transformar e ampliar a consciência sobre a nossa herança africana. Acredito na força da língua, da música e das conexões humanas para unir o Brasil ao mundo.
Estar nessa lista, ao lado de nomes como @oprah, é uma honra gigante — e um lembrete do poder que temos de criar mudanças reais.
Minha mensagem para você é: acredite na potência da sua voz! Mesmo quando parecer que você não pertence a certos espaços, saiba que você está abrindo caminhos, criando novos mundos e inspirando outros a fazerem o mesmo.
Seguimos conectando, educando e transformando!
Nossos passos vêm de longe.
A trajetória de Gabi é uma inspiração viva de como a Educomunicação pode transformar vidas. Uma jovem que se reconhece como educomunicadora e que credita ao Imprensa Jovem os primeiros passos de uma caminhada que hoje ecoa globalmente. A periferia venceu — e a vitória de Gabi é o prenúncio de tantas outras que ainda virão. Que muitos outros jovens educomunicadores sigam conquistando seus espaços e mudando o mundo.
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Fotos : Acervo Gabriela Vallim
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