sexta-feira, 2 de maio de 2025

Ela falava demais na aula e incomodava... Hoje é uma das 100 referências negras mais influentes do mundo

Imagem: Gabriela Vallim na Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres

Gabi era uma garota típica da periferia de São Paulo. Filha de uma professora que atuava no CEU Azul da Cor do Mar, sua personalidade comunicativa se destacava desde cedo — tanto que isso, que hoje é sua maior força, era visto como um problema na escola. Certo dia, sua mãe recebeu um recado da coordenação: “sua filha fala demais e atrapalha a aula”.

Diante da situação, sua mãe teve uma ideia. Contou para Gabi sobre um projeto que acontecia na escola onde lecionava: o Imprensa Jovem, coordenado pelos professores Marcos Evangelista e Rosa Rogério. Mesmo sendo de outra unidade escolar, Gabi foi acolhida no projeto Redação Força Jovem (acesse) encontrou seu lugar, sua voz e uma nova forma de enxergar o mundo: como repórter.

Gabriela Vallim, jovem, negra e periférica, transformou-se em uma das maiores referências do Imprensa Jovem, participando de grandes coberturas jornalísticas como a Campus Party Brasil, além de colaborar em reportagens e eventos de apresentação do programa. A experiência educomunicativa despertou nela o interesse pela área da comunicação e o desejo de transformar a realidade.

Imagem: Reprodução SME-SP - Gabriela Vallim com equipe Imprensa Jovem na Campus Party

Com esse espírito, criou com uma amiga o movimento “15 contra 16” — uma ação no Instagram de 15 segundos contra a proposta de redução da maioridade penal para 16 anos. (Clique aqui)A partir daí, Gabi se consolidou como uma  jovem ativista de direitos humanos do país, o que a levou a ser convidada pelo então prefeito Fernando Haddad para assumir a Coordenação de Juventude da Cidade de São Paulo (clique aqui)Tornou-se a primeira mulher negra a ocupar este cargo, focando principalmente em ações de enfrentamento ao fenômeno dos jovens “nem-nem” — que não estudam nem trabalham.

Seu desempenho na gestão pública e sua visão estratégica a levaram a atuar em grandes multinacionais, sempre com foco em juventude e comunicação. Mas o sonho de Gabi era ir além. Deixou a carreira corporativa para estudar fora do país e se mudou para a Inglaterra. Lá, dedicou-se ao aprendizado da língua, cursou um MBA, ingressou na carreira de modelo internacional e fundou uma ONG com o objetivo de compartilhar a cultura brasileira com o mundo.

Foi assim que nasceu a Baile Funk Culture (Clique aqui), um projeto cultural que vai além da diversão: promove a valorização da cultura periférica brasileira, muitas vezes marginalizada, e a apresenta como expressão legítima e potente da juventude. O movimento, criado entre amigos, passou a reunir londrinos, refugiados e africanos em bailes que celebram a identidade das favelas.

Esse impacto global foi reconhecido em 2024, quando Gabi foi incluída na prestigiada lista MIPAD Global 100, na categoria Filantropia e Impacto Social. A iniciativa, apoiada pela ONU, reconhece as 100 pessoas negras mais influentes com menos de 40 anos, que estão construindo pontes e transformando o mundo.

A seguir, o depoimento da própria Gabi:

Sou uma das 50 lideranças reconhecidas na lista MIPAD Global 100, na categoria Filantropia e Impacto Social!

O @mipad100 (Most Influential People of African Descent) é uma iniciativa apoiada pela ONU que reconhece pessoas negras que estão construindo pontes e deixando marcas positivas no mundo.

Esse reconhecimento tem um significado muito especial para mim. Representa a missão que venho cultivando: usar a comunicação, a educação, a cultura e a arte como ferramentas para ensinar, transformar e ampliar a consciência sobre a nossa herança africana. Acredito na força da língua, da música e das conexões humanas para unir o Brasil ao mundo.

Estar nessa lista, ao lado de nomes como @oprah, é uma honra gigante — e um lembrete do poder que temos de criar mudanças reais.

Minha mensagem para você é: acredite na potência da sua voz! Mesmo quando parecer que você não pertence a certos espaços, saiba que você está abrindo caminhos, criando novos mundos e inspirando outros a fazerem o mesmo.

Seguimos conectando, educando e transformando!
Nossos passos vêm de longe.

A trajetória de Gabi é uma inspiração viva de como a Educomunicação pode transformar vidas. Uma jovem que se reconhece como educomunicadora e que credita ao Imprensa Jovem os primeiros passos de uma caminhada que hoje ecoa globalmente. A periferia venceu — e a vitória de Gabi é o prenúncio de tantas outras que ainda virão. Que muitos outros jovens educomunicadores sigam conquistando seus espaços e mudando o mundo.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Fotos : Acervo Gabriela Vallim 

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