sábado, 26 de julho de 2025

Uma Cidade Educadora se Constrói com Transporte Público Acessível


Você já parou para pensar em quantas oportunidades de aprendizagem estão espalhadas pela cidade e passam despercebidas no dia a dia escolar? Museus, parques, teatros, centros culturais, estações de trem, centros de pesquisa, bairros históricos... tudo isso pode virar sala de aula — se houver acesso.

Em tempos de educação integral, é urgente refletir: como garantir que estudantes tenham acesso ao conhecimento que está além dos muros da escola? E mais: como fazer com que a cidade seja, de fato, um território educador?

A cidade como espaço educativo

A escola continua sendo um lugar fundamental de formação, mas ela não é o único. A internet também disputa esse espaço, e a cidade, com toda a sua diversidade e complexidade, pode — e deve — ser explorada como parte do processo educativo.

Cada lugar da cidade carrega saberes, memórias, histórias e experiências que enriquecem a aprendizagem. São Paulo, por exemplo, tem uma malha de transporte público que conecta todas as regiões: norte, sul, leste, oeste e centro. Metrôs, trens, ônibus e vans formam uma rede que poderia ampliar o acesso de estudantes a uma formação mais viva, ativa e cidadã.

Educação que se move

Hoje, o sistema de transporte público oferece gratuidade para pessoas com deficiência e idosos, além de meia-passagem para estudantes em trajeto entre casa e escola. Mas não existe nenhuma política que permita o uso gratuito do transporte para atividades pedagógicas fora da escola.

Por que não criar uma política pública que permita que estudantes e professores possam usar o transporte público para aprender com e na cidade?

Projetos como Agências de Notícias Estudantis já demonstram a potência desse movimento: estudantes que exploram diferentes regiões da cidade para coberturas jornalísticas, vivências culturais e entrevistas. A escola se move — literalmente — para outros territórios.

Propostas

Para transformar essa ideia em realidade, é preciso vontade política e organização. Veja algumas propostas que podem tornar isso possível:

  1. Carteira de estudante vinculada à escola com permissão de uso para atividades educativas.

  2. Solicitação formal  para liberar o uso gratuito em dias de atividade pedagógica, com identificação do estudante.

  3. Carteira especial para professores acompanhantes, garantindo também sua gratuidade.

  4. Registro da atividade em plataforma oficial, como parte do planejamento pedagógico da escola.

  5. Autorização dos responsáveis, garantindo segurança e transparência.

  6. Cartilha de uso seguro e responsável do transporte público para estudantes.

  7. Planejamento das saídas fora dos horários de pico, para garantir conforto e menor lotação (entre 10h e 16h, ou em contrafluxo).

Superando preconceitos

Muitos educadores ainda evitam o transporte público por julgarem-no perigoso. Mas pesquisas mostram que, segundo a população, o sistema é considerado seguro. E mais: ele é acessível, bem distribuído e conta com corredores exclusivos que garantem velocidade e pontualidade.

Educar também é romper com preconceitos e ensinar o uso consciente e cidadão da cidade.

Mobilidade urbana é educação

Falar de mobilidade urbana é falar de direito à cidade. É reconhecer que o deslocamento é parte da formação dos estudantes, principalmente em uma cidade do porte de São Paulo. Não se trata apenas de chegar à escola, mas de fazer da cidade um espaço de descobertas, aprendizagens e pertencimento.

Uma política que garanta o transporte gratuito para fins educativos pode ser o empurrão que falta para transformar a cidade em uma sala de aula viva, plural e integrada ao currículo.

A cidade precisa estar no centro da formação de nossos estudantes.
E para isso, é preciso garantir o direito de ir e vir — com propósito, com segurança e com educação.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem : Gerada por IA

2 comentários:

  1. Perfeito o seu texto, Carlos! Nesta semana, realizamos uma ação pedagógica utilizando o transporte público (monotrilho) que está localizado próximo à nossa escola. Foi uma experiência incrível e extremamente enriquecedora para o processo de aprendizagem, com foco no desenvolvimento integral dos estudantes. Se tivermos o apoio garantido do poder público para o acesso dos estudantes ao transporte coletivo, certamente ampliaremos ainda mais as possibilidades educativas e formativas.

    ResponderExcluir

Educomunicação e Protagonismo Estudantil: Quando o Clima Entra em Pauta nas Escolas

Como estudantes da Rede Municipal de São Paulo estão usando a comunicação para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e promover o b...