A vida moderna nos trouxe soluções e desafios. As novas tecnologias estão cada vez mais integradas ao nosso cotidiano, ocupando um espaço significativo em nossas vidas. O celular, que antes era apenas um aparelho de comunicação, hoje é quase uma extensão do corpo humano, ajudando a resolver inúmeros problemas e situações diárias. Deixar de usar o celular atualmente significa enfrentar dificuldades no acesso a serviços e soluções que facilitam o dia a dia.
Por outro lado, o "mundo" conectado pelo celular pode gerar desconforto nas relações humanas. Na verdade, o celular é apenas a chave para um quarto cheio de surpresas e ambientes desconhecidos. Ao abrir essa porta, temos acesso à internet, um vasto mar de entretenimento, informações, serviços, conhecimentos, aplicativos, conteúdos diversos, pessoas e redes sociais.
Esse "quarto" é como um mar, e por isso, costumávamos chamar a internet de lugar de navegação. Como no mar, podemos chegar a lugares seguros, mas também podemos nos perder e, no pior dos casos, ser engolidos por uma tempestade ou desvio de rota que nos leva a lugares perigosos. Por isso, o termo "navegação segura" é tão importante atualmente.
Navegar de forma segura é conhecer o território, desconfiar dos perigos, rumar para o lugar certo e ter certeza de que a navegação trará benefícios. A educação para a leitura crítica tem sido uma ferramenta crucial para garantir um acesso seguro nesse mar de oportunidades que é a internet. Você não pega um carro e sai dirigindo sem preparo; primeiro você aprende a usá-lo corretamente e a seguir as regras de trânsito. Da mesma forma, devemos educar para o uso correto do celular e da internet.
Dado o impacto social dos celulares, a escola tem a responsabilidade de iniciar o processo de uso educativo da internet por meio dos celulares. Sabemos os problemas causados pelo uso irresponsável dos celulares nas escolas, como o cyberbullying, memes que prejudicam a vida de crianças, adolescentes e até professores, e a promoção de campanhas de desinformação.
Mas será que a solução é banir o uso do celular nas escolas? Ou seria mais eficaz que a educação mediase o uso responsável e produtivo?
O programa Imprensa Jovem, reconhecido pela Unesco como uma proposta de Alfabetização Midiática Informacional, visa formar estudantes críticos e oportunizar a expressão criativa e comunicativa através das mídias e suas tecnologias, incluindo as utilizadas pelos estudantes. Como um programa de Educomunicação, que educa pela, com e para a comunicação a partir dos usos e referenciais sociais dos estudantes, faz sentido incluir nos processos educacionais o celular, as redes sociais e outras inovações tecnológicas. É comum que nas atividades jornalísticas, de pesquisa e de produção de mídia, os estudantes usem diversas aplicações dos celulares.
Se o processo educativo acolhe as inovações que chegam em alta velocidade na sociedade, como devemos encarar o desconforto no ambiente educacional? Trazendo para os professores possibilidades metodológicas, estratégias, técnicas e conhecimentos de linguagens de comunicação que possam ser usadas para aproximar estudantes e professores no desenvolvimento do conhecimento.
O processo começa com a formação continuada de professores, pois o preconceito existe quando não conhecemos. Viabilizar o acesso ao "mundo" de possibilidades das novas tecnologias pela Educomunicação pode tirar a escola da sua zona de conforto. É claro que a escola precisa apoiar essa ideia. Utilizar o Projeto Político Pedagógico da unidade escolar para integrar processos educomunicativos pode ser uma porta para um diálogo entre as culturas trazidas pelos estudantes e o currículo escolar.
Vislumbrar também aulas que incorporem a pedagogia de projetos pode ser um caminho para o uso qualificado dos recursos dos celulares. Por exemplo, é possível desenvolver ações de intervenção social com os alunos, criando vídeos curtos com o propósito de conscientizar o uso responsável das redes sociais na comunidade escolar. Esta é apenas uma das muitas oportunidades.
A relação entre celular e educação pode ser mais respeitosa e coerente com as necessidades reais de uma educação de qualidade, conforme previsto no ODS 4 da UNESCO.
Por Carlos Lima: Professor, especialista em Educomunicação
Nenhum comentário:
Postar um comentário