O fascínio pelo rádio de ondas AM despertou em mim uma conexão única que, a partir de 1º de janeiro de 2024, se despede do território brasileiro. Operando em Amplitude Modulada, esses programas eram capazes de alcançar distâncias inimagináveis, atravessando fronteiras e internacionais. A busca meticulosa no dial, sintonizando desde partidas de futebol até programas de revista radiofônica, proporcionava a sensação de viajar pelas ondas eletromagnéticas do Rádio.
Aquele sutil chiado entre as estações era como uma breve tempestade que cessava ao encontrarmos a frequência desejada.
Uma sintonia fina como chamávamos. No rádio AM, tínhamos mais do que entretenimento e informação: tínhamos conversas ao pé do ouvido. Quando os rádios portáteis se tornaram moda, ganhamos o poder de escolha sobre o que ouvir o quiser e quando quiser. Afinal de contas, dentro de casa, o rádio era monopolizado pela mamãe para programas variedades e nos finas semana pelo papai que adorava ouvir as narrações memoráveis de Osmar Santos nos jogos do Santos de Pita, Juari e companhia. Quando tinhamos a oportunidade de usar o radinho de pilha era como ter O rádio de pilha era nossa janela para o mundo.
Programas como o do cronista policial Gil Gomes transformavam tragédias em contos fantásticos. Suas frases marcantes ecoavam diariamente: 'Bom dia! Olha a água, acorda! Que saudade de você.' Desde os dias de escola, quando precisava acordar cedo, até meu primeiro emprego como office-boy, despertava ao som do rádio-relógio no programa do Zé Betio. 'Olha Água!' - e um galo cantador parecia zunir em meus ouvidos. Mas o lado bom de acordar cedo era encontrar a mamãe já preparando o café Seleto, cujo aroma era uma verdadeira delícia.
O rádio é pura emoção. Nada mexia tanto com minha sensibilidade quanto as histórias do quadro 'Que Saudade de Você', com Eli Correia nos transportando para dentro das histórias. Era o momento de dividir escuta do rádio com a mamãe, e nada nos distraía. O rádio AM foi, sem dúvida, a invenção tecnológica que mais conectou as pessoas. Desde os rádios de sala como *"caixão de europa", como pai chamava, até os portáteis, rádio-relógio e aparelhos nos carros com toca-fitas, nossa geração, conhecida como **Milenius ou cinquentões, teve a sorte de crescer e vivenciar experiências através das ondas do AM e do FM, nossa opção musical.
Hoje, embora o rádio não tenha sucumbido como muitos previram, ele se reinventou no formato de podcasts, perdendo, a partir de hoje, sua essência de companheiro próximo, transformando-se em mais uma fonte de entretenimento.
Por Carlos Lima - Radialista, professor, educomunicador
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