domingo, 28 de julho de 2024

A Educomunicação não pode ser silenciada durante o período eleitoral

As escolas têm criado canais de comunicação liderados por conteúdos produzidos por professores e estudantes. Esses canais têm propósitos educacionais, promovendo a difusão de conhecimento e servindo como plataformas para o desenvolvimento de habilidades de comunicação. Um exemplo de produção desenvolvida por um estudante em um jornal comunitário escolar traz experiências de pesquisa, leituras críticas, construção de pauta, produção colaborativa, criação escrita e o uso de diferentes linguagens de comunicação, como fotografia e jornalismo. Cada produção é um projeto. Se o jornal tiver um caráter acadêmico, pode incluir conteúdos dos professores, que apoiam as aprendizagens dos estudantes e informam as famílias. Além do jornal, a produção audiovisual pode ser divulgada nas redes sociais, em plataformas de vídeo e em aplicativos de mensagens como o WhatsApp. Outras possibilidades incluem podcasts, rádio escolar, histórias em quadrinhos, jornais murais e outros projetos educomunicativos.

A Educomunicação é o método pelo qual pensamos a construção de canais escolares respeitosos e educativos. Promove vivências educativas com as mídias, tanto no processo de produção quanto na leitura crítica. Em tempos de política, desenvolver a formação educomunicativa para os estudantes é criar um exército de crianças e adolescentes prontos para usar os meios de comunicação para combater a desinformação em suas comunidades. Usar o meio midiático é eficiente porque eles dominam a linguagem. Desenvolver ações de intervenção social faz parte da prática educomunicativa. Muitas foram realizadas pelos estudantes com vídeos curtos nas redes sociais das escolas. Campanhas como FakeNewsToFora, SomosAntirracistas e CápsulaDoFuturo foram criadas pelos estudantes das agências de notícias Imprensa Jovem, com mensagens para outros estudantes.

Matéria sobre projeto de Educomunicação de combate as Fake News

Os canais de comunicação da Imprensa Jovem foram cruciais durante a pandemia de coronavírus entre 2020 e 2021. Foram usados como espaço de comunicação entre a escola e a comunidade. Além disso, estudantes, com o apoio de seus professores, criaram tutoriais para usar ferramentas e produzir videoaulas que apoiaram a Educação Remota.

Tutorial apoiou estudantes e famílias durante a pandemia. Criado por estudantes alcançou 50.000 visualizações ao longo de 1 semana, em apenas um dos canais publicados 

Em 2020, a Unesco premiou o programa de agências de notícias paulistano com o Unesco Global Media and Information Literacy Award, reconhecendo a prática como uma experiência a ser replicada no mundo (clique aqui). Isso fortaleceu a ação educomunicativa na escola pública, e os canais desenvolvidos pelos jovens repórteres, apoiados pelos seus professores, passaram a ser os próprios mediadores sociais de comunicação entre a escola e a comunidade.

Estamos em um momento crucial nas cidades. A eleição municipal trouxe regras para a comunicação institucional dos governos. As Condutas Vedadas durante o período eleitoral orientam sobre como as instituições públicas devem se portar nesse período. No caso da comunicação, a conduta vedada é não realizar propaganda ou publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas de órgãos ou entidades da Administração Direta e Indireta (Lei 9504 Art. 73, VI, b) (clique aqui). 

A Educomunicação na atividade de jornalismo estudantil se pauta em oferecer informações de qualidade de interesse dos estudantes e de sua comunidade. Os assuntos de interesse são aqueles que impactam diretamente no dia a dia dos estudantes. No âmbito da promoção das aprendizagens, os canais de comunicação liderados pelos estudantes e mediados pelos estudantes são os espaços de comunicação educativa dos projetos de de Educomunicação que, os quais são estruturados para execução durante todo o ano a partir de Programa de Educação Integral de ampliação da jornada escolar. 

Nestes projetos os estudantes, também reconhecidos como jovens repórteres desenvolvem produções midiáticas dialogando com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A produção jornalística tem como mediador os estudantes que a Unesco reconhece como Estudantes Mediadores dos ODS (clique aqui). Como produção jornalística balizado por entrevistas o canal de comunicação dos projetos de Educomunicação coaduna com o previsto pelo relator do TSE (Rp nº 234.314, Relator Ministro Joelson Dias, julgado em 07/10/2010). Cito como exemplo adoção de conduta da Universidade Federal do Oeste da Bahia.

CONTEÚDOS JORNALÍSTICOS - PORTAL DA UFOB, PÁGINAS DOS CAMPI E CENTROS ACADÊMICOS

NOTÍCIA DE CONTEÚDO INFORMATIVO: Segundo o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, “não há que falar “em conduta vedada (art. 73 da Lei das Eleições) na hipótese em que a notícia veiculada no portal de órgão da Administração Pública possui conteúdo meramente informativo.”

ENTREVISTA: “Não configura propaganda institucional irregular entrevista que, no caso, inseriu-se dentro dos limites da informação jornalística, apenas dando a conhecer ao público determinada atividade do governo, sem promoção pessoal, nem menção a circunstâncias eleitorais” (TSE, Rp nº 234.314, Relator Ministro Joelson Dias, julgado em 07/10/2010).

Durante o período do defeso eleitoral de 2024, os conteúdos noticiosos publicados no Portal da UFOB serão de caráter estritamente jornalístico, respeitando as vedações e limites estabelecidos pela legislação e normativas eleitorais, entre eles os que orientam sobre as necessárias adequações de forma, conteúdo e tipo de abordagem às quais os conteúdos jornalísticos produzidos devem estar adequados. Entre outros aspectos, os conteúdos noticiosos utilizarão linguagem imparcial e objetiva, sem emissão de juízo de valor, bem como não será feita menção a atos ou fatos - passados ou presentes - de nenhum(a) candidato(a) a cargo eletivo em 2024.

Os textos jornalísticos não incluirão adjetivações, característica que, de praxe, é respeitada, uma vez que atende às técnicas de redação jornalística. Fonte (Clique aqui)


Entrevista sobre combate a desinformação e Fake News com Melissa Flemming 

Vale informar que os canais de comunicação dos projetos educomunicativos são plataformas que abrigam as produções dos estudantes. Estes são formados por professores devidamente capacitados para viabilizar o processo de Educação Midiática nas escolas. O protagonismo é a marca dos projetos, não cabendo a escola e professores determinar o conteúdo e sim facilitar e mediar os processos de construção. A criação de condutas para postagens no período eleitoral é prevista em processos formativos. Cursos, webinares, caderno de orientações para produção jornalistica são intervenções  que poderão ser adotadas na formação das equipes de estudantes e professores das agências de notícias.  Conheça pratica educomunicativa excemplar na rede pública. Clique aqui

A manutenção do trabalho das agências de notícias estudantis durante o período eleitoral é também uma forma de como crianças e adolescentes enxergam e expressam os problemas da cidade. Pode ser um termômetro para que os candidatos tenham acesso aos desejos de um grupo social tão importante. Não devemos calar suas vozes, impedindo que seus canais cessem suas atividades. Quando impedimos que as vozes dos estudantes ecoem na cidade, apagamos seus interesses nas propostas de políticas públicas.

Por Carlos Lima - Educomunicador, professor e criador do programa Imprensa Jovem

2 comentários:

  1. Excelente posicionamento do Prof. Carlos Lima. O documento passa a representar uma referência para a análise dos projetos educomunicativos implentados pelas redes de ensino do Brasil, garantindo às novas gerações o direito ao excercício do direito fundamental de expressão.

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  2. Concordo com a questão de que o Imprensa Jovem tem outro foco, que não caberia na questão política.
    Calar o Imprensa Jovem nesta época, para mim, não tem cabimento.

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