A força das vozes dos estudantes não pode ser ignorada em uma escola pública de qualidade. Foi com essa convicção que o secretário Alexandre Schneider me confiou uma missão: desenvolver uma estratégia para ouvir os estudantes sobre o que eles pensam sobre educação. O que seria uma educação ideal para eles? O que a escola deveria oferecer? Como eles deveriam se comportar em uma "escola dos sonhos"? Assim nasceu o "Estudant4e Tem Voz", um marco na participação dos estudantes na educação e um exemplo de educomunicação em ação, com o apoio das equipes do Imprensa Jovem da cidade.
A essência do projeto, "jovens ouvindo jovens", está no DNA dos processos educomunicativos, promovendo a participação e o protagonismo dos estudantes na criação de novas visões de mundo. O primeiro desafio foi definir as perguntas a serem feitas aos estudantes. O Núcleo de Currículo sugeriu algumas questões, mas se a missão era realmente ouvir a opinião dos estudantes, era crucial que as perguntas e respostas partissem deles.
Organizamos três formas de escuta: oficinas de criação de conteúdos, coletivas de imprensa entre jovens e educadores, e encontros "Estudante Tem Voz". Visitamos 32 escolas em toda a cidade, levantando diversas preocupações dos estudantes. Em seguida, formamos um grupo de jovens de diferentes agências de notícias do Imprensa Jovem para definir os assuntos mais relevantes. Após uma oficina de criação de perguntas – uma prática comum na formação do Imprensa Jovem – as questões foram elaboradas pelos próprios jovens.
Coletiva Imprensa Jovem com Secretário Alexandre Schineider
Outra ideia inovadora surgiu dos estudantes: por que não usar o aplicativo do Imprensa Jovem para facilitar a participação dos estudantes nas escolas? O aplicativo, criado para apoiar os jovens repórteres na cobertura de eventos, se mostrou uma ferramenta prática para alcançar os estudantes do Ensino Fundamental. Com o apoio dos estudantes do Imprensa Jovem, a pesquisa ganhou escala. Nos Laboratórios de Informática, os estudantes, junto com seus professores (POIE), lideraram o processo de escuta.
A participação dos estudantes começou tímida, mas com o apoio do secretário, o movimento cresceu. Ao final, 43.655 estudantes responderam ao questionário (matéria Folha de São Paulo), tornando-se a maior pesquisa de educação já realizada no Brasil. As informações coletadas foram fundamentais para a construção da matriz de saberes do Currículo da Cidade de São Paulo. A iniciativa se consolidou como o Movimento Estudante Tem Voz, e alguns de seus métodos de escuta apoiaram também a construção do Currículo da Educação de Jovens e Adultos e do Ensino Médio.
O "Estudante Tem Voz" tem uma razão de ser: não podemos dar voz a quem já a tem. Precisamos criar e potencializar espaços onde essas vozes, ideias e desejos sejam acolhidos e ouvidos.
Por Carlos Lima - Educomunicador e Professor
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