Certa vez, fui convidado para ministrar uma oficina de edição de vídeo para professores. Ao perguntar o que gostariam de aprender, a resposta foi direta: "Queremos saber usar o editor instalado nos computadores do laboratório de informática." Refleti por um instante e sugeri: "Então vocês querem uma oficina de produção de vídeo?" Mas a resposta veio rápida: "Não, professor! Queremos editar o vídeo." Foi aí que percebi a importância da edição e alertei: "Se eu ensinar vocês a editar, terão que manipular a informação, porque na edição vocês escolhem o que querem divulgar."
Cortar uma imagem em um editor de vídeo é uma tarefa relativamente fácil. A técnica permite remover o início, o fim e partes do meio do vídeo. No entanto, escolher o que divulgar é uma responsabilidade cívica. É preciso ser consciente e ter uma noção clara do impacto que o vídeo terá no público.
Hoje, estamos vivendo uma situação peculiar nas eleições em São Paulo. Conteúdos disseminados nas redes sociais transformam falas de um candidato em espetáculos. Milimetricamente escolhidas, essas cenas alcançam alta viralização. Segundos de vídeo que pegam as pessoas de surpresa e conquistam a confiança de quem assiste.
O corte intencional de conteúdos e sua exposição nas mídias têm o poder de alcançar milhares de pessoas, mais rápido e eficiente que um santinho eleitoral com número do candidato. Qualquer garoto de 14 anos consegue manipular, construir ou criar, um vídeo com aplicativos como CapCut. Eles são mestres em produzir conteúdo que afeta as pessoas. Me sinto analógico AZ num mundo digital 01 dos mais jovens.
O fenômeno que estamos presenciando não é mágica, como o personagem Mister M dos anos 90. É uma estratégia de comunicação eficaz que beneficia candidatos por meio de técnicas que projetam suas imagens e ideias em vídeos curtos nas redes sociais, como Reels, TikTok, Instagram e YouTube Shorts. Essas narrativas são colocadas à disposição de milhares de internautas, que cortam, selecionam as melhores falas e ajudam a amplificar as ideias do candidato para milhões de pessoas.
Como uma oportunidade de ganho, influencers e aspirantes a influencers utilizam e abusam desses pedaços de podcasts, palestras, debates e outros conteúdos para capturar a atenção de um público cada vez mais condicionado a consumir informação de forma rápida e fragmentada. Assim, na eleição de São Paulo, o verdadeiro poder pode estar no corte—na edição, na escolha cuidadosa do que será mostrado e, por consequência, na formação da opinião pública.
Escrito por Carlos Lima : Educomunicador e professor
Imagem: Freepik
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