Gostemos ou não, as redes sociais são parte integrante do cotidiano dos brasileiros. Somos o segundo país no mundo em número de usuários que passam horas conectados diariamente. Esses espaços digitais, livres para a expressão, podem ser poderosos canais para o compartilhamento de ideias, diálogo e atualização de informações. No entanto, o ambiente virtual também abriga o lado sombrio: desinformação, fake news e conteúdos sensacionalistas que, frequentemente, recebem maior destaque graças aos algoritmos que priorizam o que chama mais atenção.
As fake news, muitas vezes mascaradas em manchetes sensacionalistas, disseminam desinformação em larga escala. Em resposta, plataformas digitais criaram agências de checagem de conteúdo para monitorar, bloquear e remover informações falsas, além de avaliar conteúdos de ódio e violência. Contudo, a decisão de plataformas como Meta (Facebook, Instagram e Threads) e X (antigo Twitter) de descontinuar serviços de checagem, alegando preservar a liberdade de expressão, trouxe desafios à moderação de conteúdos.
Diante desse cenário, a educação torna-se a principal ferramenta para preparar cidadãos capazes de acessar informações de forma ética e crítica. E a escola, como espaço formador de valores, pode liderar iniciativas de combate à desinformação por meio de ações concretas e inovadoras.
A Escola como Agência de Fact-Checking
O combate às fake news é uma urgência. Uma solução viável e eficaz é a criação de Agências Escolares de Checagem de Notícias. Essas iniciativas podem ser desenvolvidas com estudantes participantes do Programa Imprensa Jovem, formando Educomunicadores capacitados a analisar criticamente os conteúdos midiáticos.
Uma agência de fact-checking escolar pode funcionar como um projeto interdisciplinar, unindo formação teórica e prática. Além de checar notícias, os estudantes poderiam criar campanhas educativas, realizar oficinas para a comunidade escolar e compartilhar resultados com professores de diversas áreas, enriquecendo as aulas com debates sobre ética, comunicação e cidadania.
Adicionalmente, a criação de serviços digitais automatizados para checagem de informações, acessíveis à comunidade, potencializaria o impacto dessas agências escolares. Um exemplo inspirador foi apresentado por dois bibliotecários, que sugeriram no curso de Educomunicação “Leitura Crítica da Mídia” a instalação de totens interativos de fact-checking nas bibliotecas públicas dos CEUs em São Paulo, ampliando o alcance dessa iniciativa.
Projetos em Ação
Um exemplo prático é o Projeto Caçadores de Notícias Falsas, realizado na EMEF M'Boi Mirim sob a coordenação da professora Rita Baccari. Nesse projeto, crianças e adolescentes tornaram-se mediadores na escola, oferecendo oficinas e palestras para outros estudantes sobre como identificar e evitar fake news. Esse tipo de iniciativa empodera os alunos e os transforma em agentes multiplicadores de conhecimento crítico.
O Papel da Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial (IA) surge como uma aliada estratégica no combate à desinformação. Plataformas colaborativas e sistemas automatizados podem ser desenvolvidos para agilizar a checagem de conteúdos, utilizando ferramentas livres e acessíveis. A criação de soluções tecnológicas, desenhadas em workshops baseados em metodologias educomunicativas, pode acelerar a implementação de projetos de fact-checking e ampliar sua eficiência.
Educação como Protagonista
Ao assumir o papel de agência de fact-checking, a escola não só combate a desinformação, mas também promove a formação de cidadãos éticos, responsáveis e conscientes. Trata-se de um passo essencial para enfrentar os desafios de um mundo digital onde a verdade, muitas vezes, precisa ser defendida.
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Foto :Imprensa Jovem
Ideias interessantes, Carlos! Pena que as escolas, ao menos as do Estado que conheci, priorizam um currículo transmitido e seguido pelos professores que no final do ano precisam apresentar resultados daquelas tarefas. Dificilmente um projeto interdisciplinar acontece pq cada professor fica preso ao seu conteúdo e até nem compartilha com outros. Fecha a porta da sala de aula e pronto.
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