Enquanto esperava no ponto de ônibus, observei uma conversa inspiradora entre duas senhoras. Uma parecia ter cerca de 60 anos e a outra, 80. Elas falavam sobre o quanto era bom estudar, sobre como as aulas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) eram tão interessantes que elas não perdiam sequer um dia. No tom das palavras, percebi o prazer de aprender, mesmo em uma fase da vida em que muitas pessoas acreditam ser tarde demais.
As duas ressaltaram o papel essencial dos professores, que, com atenção e empatia, as motivavam a continuar, mesmo quando pensavam em desistir. “Desistam, não! Falta pouco para vocês se formarem”, lembravam os docentes, mostrando o quanto acreditavam na capacidade de seus alunos.
Porém, uma das senhoras estava preocupada: a EJA próxima de sua casa iria fechar, e a alternativa mais próxima era em outro bairro, dificultando o acesso. “Ainda bem que terminei o 9º ano”, disse a senhora mais velha, mas confessou que ainda tinha vontade de continuar estudando. Sua amiga a encorajou a fazer o Ensino Médio, mas a distância era uma barreira.
Essa conversa reflete algo que muitos já sabem: para os mais velhos, estudar não é apenas uma oportunidade de aprendizado, mas também de realizar um sonho que foi negado na juventude. A escola, sobretudo na EJA, vai além do ensino. É um espaço de convivência, de amizade, de acolhimento e de valorização da experiência de vida.
Com o aumento da expectativa de vida, é essencial que a sociedade veja a escola, em especial a EJA, como um lugar estratégico para a formação contínua dessa geração. Enquanto muitos asilos crescem como resposta ao envelhecimento populacional, a escola pública resiste como um espaço que acolhe as potências dessa geração. Diferentemente de outras instituições que, muitas vezes, marginalizam os idosos, a EJA mantém suas portas abertas para a Geração 60+.
Investir em mais escolas com turmas de EJA e transformá-las em pontos de encontro intergeracionais pode trazer ganhos inestimáveis. Além de promover a inclusão, fortalece a qualidade de vida de jovens e adultos. Há público para isso e há um desejo genuíno por aprendizado e convivência.
A Educação de Jovens e Adultos não é apenas um programa, mas uma política pública que precisa de fortalecimento. Garantir que essas escolas continuem ativas e acessíveis é fundamental para proporcionar mais oportunidades e sonhos realizados, mostrando que nunca é tarde para aprender.
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Imagem : Oficina de Educomunicação no CIEJA Guaianases
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