Quando você pensa em Bem Viver, o que vem à sua mente? E na escola, como podemos aplicar essa filosofia no dia a dia?
O conceito de Bem Viver tem raízes nas comunidades indígenas andinas, em especial entre os Quéchuas, que há séculos vivem em harmonia com a natureza e entre si. Seu princípio fundamental é o equilíbrio: viver de forma respeitosa, solidária e dialógica, construindo relações baseadas na reciprocidade e no respeito mútuo.
Quem sistematizou e popularizou essa concepção foi Alberto Acosta, economista e pesquisador, que ajudou a incluir os Direitos da Natureza na Constituição do Equador. Para ele, o Bem Viver não é apenas uma filosofia, mas um modelo de organização social que propõe novas formas de convivência entre os seres humanos e a natureza.
Princípios do Bem Viver
O Bem Viver orienta a vida em comunidade e pode ser traduzido em algumas práticas essenciais:
- Valorizar a reciprocidade, a amizade fraterna e o respeito pela terra
- Reconhecer e respeitar as diferentes identidades culturais
- Promover uma economia solidária e sustentável
- Repensar padrões de produção e consumo, buscando qualidade de vida para todos
- Fortalecer a soberania com modelos de produção local
- Estimular a participação ativa na política e na vida comunitária
- Fomentar a economia interna e externa de forma complementar
- Questionar e reinventar estruturas políticas tradicionais
- Priorizar o crescimento com qualidade, não apenas com quantidade
O que o Bem Viver tem a ver com a escola?
A escola é um espaço de relações humanas. Professores, estudantes, famílias, funcionários, gestores e a comunidade formam um ecossistema vivo e dinâmico, onde os conflitos fazem parte do cotidiano. Mas será que a escola está preparada para lidar com esses conflitos de forma construtiva?
O estudante é o centro da escola, mas cada um é um sujeito único, com experiências e desafios distintos. Esses sujeitos não apenas vivem a escola, mas a transformam. Quando os conflitos surgem, muitas vezes vemos a escola presa em um ciclo contínuo de tensões e tentativas de mediação que nem sempre resolvem a raiz do problema.
Se, em vez de apenas remediar os conflitos, a escola adotasse uma cultura de Bem Viver, poderíamos ir além da mediação e investir na construção de uma Cultura de Paz. Isso significaria transformar as relações escolares, tornando-as mais colaborativas, respeitosas e dialógicas desde o princípio.
Educomunicação como ferramenta para o Bem Viver
Em 2001, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo adotou o projeto Educom.Rádio como estratégia para promover a paz em escolas localizadas em regiões de alta vulnerabilidade social. Por meio das ondas do rádio, estudantes e professores passaram a usar a comunicação para transformar a realidade escolar.
A Educomunicação atua como um antídoto contra a violência escolar, pois fortalece a escuta ativa, o diálogo e o protagonismo juvenil. Quando os estudantes compreendem o ecossistema comunicativo da escola e têm voz ativa, tornam-se agentes de mudança, contribuindo para um ambiente mais colaborativo e respeitoso.
Se queremos romper com o ciclo de conflitos na escola, precisamos investir em práticas que fortaleçam a Cultura de Paz. O Bem Viver pode ser um caminho poderoso, e a Educomunicação pode ser a ferramenta essencial para construí-lo. Afinal, uma escola que valoriza a expressão, o diálogo e a participação ativa de todos é uma escola que verdadeiramente promove o Bem Viver.
Por Carlos Lima : Educomunicador e professor
Foto: Yasmin Ribeiro - Imprensa Jovem EMEF Josué de Castro
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