O Imprensa Jovem é, desde sua criação, um projeto de Educomunicação que valoriza o uso consciente e criativo das tecnologias. Em 2006, os blogs passaram a integrar a produção dos estudantes, logo veio o uso de software livre, redes sociais, cursos EAD e celulares. Recursos muitas vezes vistos com desconfiança, mas que abriram novas possibilidades de expressão e aprendizagem.
Agora, vivemos a chegada das Inteligências Artificiais (IAs) à educação. Como toda inovação, as IAs geram entusiasmo e também preocupações. Há quem acredite que elas poderão substituir professores ou comprometer a autoria dos estudantes. Mas é importante olhar para dois aspectos centrais:
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A substituição de tarefas humanas por automações, o que nos remete à discussão sobre a uberização do trabalho;
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A coleta e o uso massivo de dados por essas tecnologias.
Apesar disso, o fenômeno da automação é uma realidade. A IA já está no cotidiano de todos e todas. Compreendê-la culturalmente é fundamental, e os processos educativos têm um papel essencial nesse entendimento. Formar é o melhor caminho para evitar preconceitos e ampliar possibilidades.
A formação é um espaço de trocas, de reflexão crítica e de construção conjunta de saberes sobre os usos — e não-usos — da tecnologia. É nesse espírito que o Imprensa Jovem tem se apropriado da IA como ferramenta de apoio. O objetivo não é substituir a criatividade ou a autoria dos estudantes, mas potencializá-las.
As propostas com IA são pensadas para garantir que a tecnologia complemente o processo intelectual, e não o substitua. As orientações pedagógicas aos estudantes são claras: a IA deve ser suporte, não o autor final da produção. Como toda tecnologia, deve ser encarada como ferramenta, não como fim.
Na prática: IA na cobertura jornalística estudantil
Durante coberturas jornalísticas de eventos, estudantes do Imprensa Jovem costumavam usar o Google para buscar informações sobre os entrevistados em tempo real. Isso ajudava, mas nem sempre era suficiente: as perguntas, às vezes, eram pouco elaboradas ou feitas às pressas.
Mais recentemente, estudantes passaram a usar ferramentas como ChatGPT e DeepSeek. A partir de um tema e dos objetivos da entrevista, elaboram prompts (comandos) que ajudam a gerar sugestões de perguntas mais qualificadas. Com isso, conseguem se preparar melhor, formular questões relevantes e aprofundar as entrevistas. Mais do que respostas prontas, as IAs ampliam o repertório e a autonomia dos estudantes.
Esses usos não retiram a autoria estudantil — pelo contrário: potencializam a aprendizagem e o protagonismo. Os estudantes aprendem a discernir o que vale a pena perguntar, como refinar uma ideia, como adaptar uma linguagem para o público. E isso se traduz em conteúdos mais ricos para os canais de comunicação das escolas.
Formação como eixo central
A boa apropriação das IAs passa necessariamente por processos formativos, tanto de professores quanto de estudantes — ou, melhor ainda, dos dois juntos. Produzir conteúdos midiáticos é complexo e exige múltiplas competências. E a Educomunicação tem a vantagem de não focar apenas na técnica, mas no empoderamento comunicativo de crianças e adolescentes.
Tecnologias como o celular, por exemplo, são recursos valiosos. Com planejamento e uso consciente, são ferramentas poderosas para registro, edição e divulgação de conteúdos. O uso educativo das tecnologias deve ser viável, planejado e com intencionalidade pedagógica. No Imprensa Jovem, o celular é um aliado em muitas ações de cobertura exatamente por sua praticidade.
Se o objetivo é dar voz às juventudes e promover a difusão de informações para a comunidade e para a sociedade, usar as tecnologias disponíveis contribui diretamente para fortalecer a autoestima e a participação cidadã dos estudantes.
O valor da pergunta
Se o Imprensa Jovem fosse um país, sua moeda seria a pergunta. E, nesse novo cenário com IAs generativas como o ChatGPT, a habilidade de formular boas perguntas — ou bons prompts — é chave. Perguntar é a porta de entrada para resolver problemas, ampliar repertórios e construir conhecimento colaborativo.
Habilidades desenvolvidas com IA no Imprensa Jovem:
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Criação de roteiros de reportagem e podcast com base em temas sugeridos pelos estudantes;
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Aprimoramento de textos para blogs e redes sociais;
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Checagem de fatos e criação de projetos de verificação de informações (fact-checking);
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Pesquisa de conteúdos para pautas jornalísticas;
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Dinamização da produção midiática com apoio das IAs, a partir do desafio apresentado pelo professor.
A Inteligência Artificial, quando integrada com ética, criticidade e criatividade, não substitui o humano — amplia sua capacidade de agir, comunicar e transformar.
Por Carlos Lima: Educomunicador e professor
Imagem : produzido por IA no ChatGPT
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