domingo, 28 de setembro de 2025

Educomunicação e Escuta Ativa: como ouvir os estudantes sobre as provas institucionais

A escola é um espaço de múltiplas vozes. Entre elas, a dos estudantes muitas vezes é a menos ouvida, especialmente quando o tema envolve provas e avaliações. No entanto, quando a educação se abre para a escuta ativa, dentro de uma perspectiva educomunicativa, cria-se um ambiente de diálogo, confiança e participação real no processo de aprendizagem.

O que é Educomunicação?

A Educomunicação é um campo que articula práticas educativas e processos comunicativos, promovendo o diálogo, a expressão criativa e a construção coletiva do conhecimento. No contexto escolar, isso significa criar espaços onde estudantes e professores se comunicam em pé de igualdade, valorizando a voz de cada sujeito e estimulando a participação ativa nas decisões e práticas da vida escolar.

Escuta ativa como prática educomunicativa

Escutar ativamente é muito mais do que ouvir palavras. É dar significado ao que o estudante diz, considerar suas percepções e transformar essas contribuições em ações pedagógicas. Quando a escola utiliza a escuta ativa, ela reconhece que os sentimentos, opiniões e experiências dos estudantes têm valor e devem orientar o trabalho docente.

No caso das provas institucionais, como Saresp e SAEB, essa escuta pode revelar ansiedades, inseguranças e até boas práticas que ajudam a compreender como melhorar o processo de ensino e aprendizagem.

Como escutar os adolescentes sobre as provas?

Uma proposta prática para realizar essa escuta é promover rodas de conversa on-line, com recursos simples e interativos. A ideia é criar um ambiente seguro e colaborativo para que os jovens possam compartilhar suas experiências sem receio de julgamento.

Algumas perguntas que podem nortear o diálogo:

  • O que você pensa sobre as provas?

  • Por que sentimos medo ou desconforto em relação a elas?

  • Que palavras você usaria para definir uma prova?

  • Conte uma experiência boa ou ruim que já viveu em uma prova.

  • O que você pensa sobre provas institucionais (como Saresp e SAEB)?

  • Elas são importantes? O que poderia torná-las mais atraentes?

  • Se tivesse que divulgar essas provas para outros estudantes, como faria?

Além das perguntas, ferramentas digitais como enquetes rápidas, nuvem de palavras ou murais colaborativos (Jamboard, Padlet, Mentimeter) podem tornar o processo mais dinâmico e divertido.

Por que essa escuta importa?

A escuta ativa não deve ser entendida como um ato pontual, mas como uma prática pedagógica constante. Quando os estudantes percebem que suas opiniões são levadas a sério, aumenta o engajamento, a motivação e até a confiança em enfrentar desafios como as provas.

A Educomunicação nos lembra que o processo educativo é construído em rede, com todos os sujeitos envolvidos. Ao integrar escuta e comunicação, a escola não apenas prepara os estudantes para avaliações, mas também fortalece a autonomia, a criticidade e a cidadania.

Escutar os adolescentes sobre provas institucionais é uma oportunidade para transformar um momento de ansiedade em um espaço de aprendizado coletivo. Quando unimos Educomunicação e escuta ativa, damos protagonismo ao estudante, transformando a avaliação em mais um passo no caminho do conhecimento — e não apenas em uma cobrança.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Foto: Reprodução Pixabay 





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sábado, 27 de setembro de 2025

O que o Stopmotion pode ajudar na alfabetização?


A alfabetização é uma fase desafiadora na vida das crianças. Ao saírem da Educação Infantil, elas trazem na bagagem experiências marcadas pelo brincar, pela experimentação e pela descoberta. Ao chegarem ao Ensino Fundamental, encontram um cenário diferente: surgem as cobranças para “entrar no mundo das letras” e, em alguns casos, o processo passa a ser apresentado de maneira mecânica, distante da ludicidade que tanto estimula a aprendizagem.

É comum que o estranhamento aconteça. Afinal, aprender a ler e escrever envolve o corpo: o olhar que precisa reconhecer rabiscos das letras, que transforma traços em palavras, a voz do professor  que ao ler para criança tentar dar significado ao registrado na lousa.  E a cópia mecanizada e repetidora do que é chamado de letras, palavras e frases. Quando essa experiência não é prazerosa, a alfabetização pode se tornar um desafio ainda maior.

Mas, e se incluíssemos nesse processo uma linguagem divertida e envolvente, como o stopmotion?

Stopmotion e alfabetização: uma combinação possível

Muitas pessoas podem pensar: “ensinar cinema para crianças tão pequenas não é exagero?”. A resposta é: não se trata de ensinar cinema, mas sim de oferecer uma ferramenta criativa para apoiar a aprendizagem.

No stopmotion, cada movimento é registrado em fotografias (frames) que, juntas, ganham vida em forma de vídeo. Se a aplica a linguagem do plano, cena e sequencia. Se fosse na escrita as palavras seriam os planos, a cena a frase e o paragrafo a sequencia. Um conjunto de sequencia temos uma hitória.  Ao produzir suas próprias histórias, as crianças desenham, escrevem, recortam, fotografam e narram — ou seja, vivenciam a leitura e a escrita de forma audiovisual, colaborativa e divertida em rico processo educomunicativo.

Com isso, a alfabetização deixa de ser apenas um exercício de papel e lápis e passa a integrar elementos de tecnologia, expressão oral e criatividade. Além de aprender letras e palavras, a criança experimenta também uma iniciação no  letramento digital, desenvolvendo habilidades comunicativas e midiáticas desde cedo.

O resultado? Uma experiência inesquecível que transforma o aprender em algo significativo e prazeroso.

Atividade sugerida: mensagem em stopmotion

Uma forma simples e prática de integrar o stopmotion à alfabetização é propor a criação de mensagens coletivas. Veja como organizar:

  1. Tema da mensagem: por exemplo, “Dia das Mães”.

  2. Materiais: papel, lápis de cor, canetinhas, massinha ou pequenos brinquedos.

  3. Registro: use a câmera de um  camera do notebook, máquina fotografica ou celular.

    • Caso use celular, baixe o aplicativo Stopmotion Studio (gratuito e fácil de usar).

  4. Produção: cada estudante cria uma parte da mensagem, desenhando palavras ou frases curtas.

  5. Coletividade: os colegas se apoiam e juntam as partes, formando um único vídeo com as contribuições de todos.

Assim, as crianças não apenas escrevem, mas também contam histórias, se escutam e se ajudam, fortalecendo a alfabetização com sentido e colaboração.Outras ideias de atividades com Stopmotion na alfabetização

1. Poemas animados

  • Escolha poemas curtos, quadrinhas ou parlendas.

  • Cada criança ilustra uma palavra ou verso.

  • As imagens são fotografadas em sequência e depois narradas pelo grupo.
    👉 Estimula ritmo, oralidade e memorização.

2. Música ilustrada

  • Escolha uma música infantil conhecida.

  • As crianças desenham trechos da letra.

  • Cada ilustração é fotografada e depois a turma canta junto enquanto o vídeo passa.
    👉 Une musicalidade, leitura e expressão artística.

3. Alfabetário animado

  • Cada letra do alfabeto é representada por uma palavra (A de abelha, B de bola...).

  • Os alunos desenham ou montam com massinha cada letra e o objeto correspondente.

  • O stopmotion mostra letra + palavra + desenho.
    👉 Uma forma criativa de construir um dicionário visual e sonoro da turma.

4. Histórias coletivas

  • A turma cria uma narrativa simples (ex.: “Um gato saiu para passear e encontrou uma bola”).

  • Cada grupo ilustra ou monta uma cena com brinquedos, massinha ou recortes.

  • O stopmotion une todas as cenas em uma só história.
    👉 Favorece colaboração, sequência lógica e produção textual.

5. Palavras mágicas

  • As crianças escrevem palavras curtas (ex.: paz, amor, mãe, bola, sol).

  • Usam massinha ou letras móveis para formar a palavra.

  • O stopmotion mostra a palavra se formando aos poucos, letra por letra.
    👉 Reforça a consciência fonêmica e a construção da palavra.

Conclusão

A alfabetização é um ato importante que precisa ser vivido com significado pela criança. Seja escrevendo com lápis e papel, seja criando com recursos digitais, o essencial é que os dois caminhos caminhem juntos.

O stopmotion é uma ferramenta acessível, divertida e capaz de transformar esse processo em uma aventura criativa, tecnológica e cheia de descobertas.

👉 Mãos à obra! Vamos transformar a alfabetização em uma jornada de criatividade e encantamento.


Sugestão de videoaula

Aula produzida por Pedro Iuá

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Foto: Reprodução Superinteressante


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Educomunicação e o ECA Digital: caminhos para proteger crianças, combater a adultização e fortalecer a cidadania online

 O desafio da proteção da criança e do adolescente ganhou uma nova dimensão: o ambiente digital. Assim como o espaço comunitário, o lar e outros territórios físicos, a internet também se tornou um espaço vulnerável, onde violências virtuais colocam em risco a identidade e o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Para enfrentar esse cenário, foi criada a Lei 15.211/2025, conhecida como ECA Digital (texto oficial da lei), que estabelece diretrizes para garantir privacidade, segurança, bem-estar biopsicossocial e proteção contra abusos e exploração online.

Aspectos importantes do ECA Digital

A lei determina que produtos e serviços digitais acessados por crianças e adolescentes devem assegurar a proteção integral desse público. Entre os pontos centrais estão:

  • Privacidade e segurança como princípios obrigatórios em qualquer serviço digital;

  • Verificação confiável de idade, indo além da autodeclaração;

  • Supervisão parental, com ferramentas para acompanhamento e controle do uso;

  • Restrições à publicidade direcionada e ao perfilamento, impedindo exploração comercial de dados;

  • Combate à adultização precoce, proibindo conteúdos que explorem ou sexualizem crianças;

  • Prevenção e remoção de conteúdos nocivos, como violência, exploração ou jogos de azar;

  • Relatórios de transparência e penalidades para plataformas que não cumprirem as normas.

O que é adultização?


Adultização é o processo em que crianças e adolescentes são expostos precocemente a padrões de comportamento, consumo, estética ou sexualidade típicos do mundo adulto, muitas vezes impulsionados pela publicidade, influenciadores digitais ou conteúdos impróprios. Esse fenômeno pode comprometer a infância, gerar pressões sociais indevidas e fragilizar o desenvolvimento emocional e identitário. O ECA Digital estabelece mecanismos claros para combater essa prática, exigindo que plataformas impeçam conteúdos que estimulem a sexualização precoce ou imponham modelos de consumo incompatíveis com a fase de desenvolvimento.

A Educomunicação apoiando a Educação Digital

No campo da Educomunicação, essa legislação abre caminhos fundamentais: promover oficinas de mídia para jovens com foco em cidadania digital, incentivar a produção responsável de conteúdos, desenvolver campanhas de conscientização sobre direitos digitais, realizar pesquisas sobre segurança online e criar projetos escolares que articulem ética, convivência e uso crítico das tecnologias. A integração entre a lei e práticas educomunicativas fortalece a proteção e, ao mesmo tempo, promove a autonomia de crianças e adolescentes como sujeitos digitais ativos e conscientes. 

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Imagem : Pixabay

sábado, 20 de setembro de 2025

Dia Internacional da Paz: quando a escola ensina o mundo a viver em harmonia



O Dia Internacional da Paz, proclamado em 1981 pela Assembleia Geral das Nações Unidas e celebrado anualmente em 21 de setembro, é um chamado global para a cessação da violência e a promoção da convivência entre os povos. A ONU e a UNESCO lembram que a paz não é apenas ausência de guerra, mas um processo ativo de construção baseado em educação, diálogo, respeito às diferenças e cooperação coletiva.

Nesse espírito, hoje em Campo Limpo aconteceu um dos momentos mais significativos do calendário educativo da cidade: a Caminhada pela Paz. Um movimento que mobilizou mais de mil pessoas — entre professores, estudantes, famílias e comunidade — que transformaram as ruas do bairro em um espaço de reflexão e celebração.

O ato simbólico foi o resultado de meses de preparação: reuniões, aulas e encontros que discutiram o que significa viver em paz, como cultivá-la e como defendê-la diante dos desafios do mundo contemporâneo. A iniciativa contou com a parceria da UNESCO Brasil, que celebrou com professores e estudantes momentos de diálogo e trocas de experiências.

Um dos pontos altos foi o desenrolar de uma grande bandeira da paz, uma verdadeira colcha de retalhos de quase 100 m², confeccionada por diferentes escolas da região. Cada pedaço da bandeira trazia a visão singular de estudantes e educadores sobre a paz — diversa, colorida e plural, como a própria sociedade.


A festa também acolheu múltiplas expressões culturais: comidas típicas da América Latina, serviços de saúde, apresentações artísticas e, claro, a cobertura especial das Agências de Notícias Imprensa Jovem e dos grêmios estudantis, que registraram cada detalhe do evento.

Para a Diretora Regional de Educação, Regina Collazo, o evento expressa um compromisso coletivo:
"É uma alegria muito grande ver a comunidade unida pela paz. Cada passo aqui é uma afirmação do compromisso com a igualdade e a justiça."

Mais do que uma celebração, a Caminhada pela Paz mostrou que a paz é uma aprendizagem coletiva. Ela precisa estar presente nos bancos escolares, no cotidiano das comunidades e na forma como nos relacionamos. Como destacou a ONU, "a paz deve ser cultivada por todos".

Parabéns à Diretoria Regional de Educação de Campo Limpo por promover um evento inspirador, que faz da escola um espaço de formação para o bem viver e para a consciência coletiva. Que a Caminhada pela Paz seja exemplo de como podemos transformar datas simbólicas em processos educativos e transformadores.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor









segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Democracia e Juventudes


O Dia Internacional da Democracia, é celebrado em 15 de setembro desde a sua proclamação em 2007 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. É um chamado global para reconhecer a democracia como um processo, que exige participação ativa da comunidade internacional, governos, sociedade civil e, sobretudo, dos indivíduos. A proposta da ONU é clara: tornar o ideal democrático uma realidade para todos, em qualquer lugar, como garantia de igualdade, segurança e desenvolvimento humano.

No entanto, vivemos tempos de incerteza. A ascensão de movimentos de extrema direita que encontram cada vez mais ressonância entre adolescentes e jovens em diversas partes do mundo. Esse fenômeno mostra que a democracia está em risco – e mais do que isso, revela que está sendo apropriada por discursos que seduzem parte da juventude.

Uma democracia que não escuta suas juventudes é uma falácia. Os jovens precisam de espaço de fala, de reconhecimento e de diálogo. Não são poucos os que tentam ecoar suas vozes e muitas vezes são mal interpretados ou silenciados. Greta Thunberg, Malala Yousafzai, Txai Suruí e Nupol Kiazolu são exemplos de jovens lideranças que se tornaram pontes para defender direitos, justiça social, o meio ambiente e a cultura de paz. A juventude  tem uma força descomunal. Quand o mobilizada, é capaz de abalar estruturas e questionar o status quo. Foi assim na Primavera Árabe, no movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos, no Movimento Passe Livre no Brasil e, mais recentemente, na mobilização política da Geração Z no Nepal.

Ainda assim, há um risco latente: discursos embalados sob o rótulo da “liberdade de expressão” que, no fundo, escondem uma lógica de manipulação e intolerância. São como bombas prestes a explodir no coração da democracia. É preciso lembrar que democracia não se resume à liberdade; ela é também ética, cidadania, respeito e construção coletiva.

Esses valores estão presentes na BNCC como competências essenciais a serem desenvolvidas na escola. É nesse espaço que se aprende a viver a democracia, exercitando escuta, diálogo, respeito à diversidade e participação social. No entanto, propor práticas pedagógicas democráticas muitas vezes gera resistência: são acusadas de serem “progressistas demais”, enquanto posturas conservadoras acabam por restringir o potencial transformador da educação.

O Dia Internacional da Democracia não pode ser reduzido a uma data comemorativa. Deve ser encarado como um convite à reflexão crítica e, principalmente, como uma oportunidade para que as escolas promovam discussões pedagógicas que ajudem a formar cidadãos capazes de compreender, defender e reinventar a democracia em seus múltiplos sentidos.

Por Carlos Lima -Educomunicador e professor 

Foto : Unesco- Totens que conversam sobre histórias pela paz. Acervo pessoal.


sábado, 13 de setembro de 2025

Processo educomunicativo com IA no Imprensa Jovem

A produção jornalística é uma atividade complexa. Envolve desde a escolha de um assunto até a veiculação final da matéria. Independentemente da linguagem midiática utilizada, cada etapa exige planejamento, organização e conhecimento técnico. Para jornalistas profissionais, há toda uma bagagem acadêmica que sustenta esse processo. Mas e quando falamos de estudantes do Ensino Fundamental que estão aprendendo a fazer jornalismo dentro de um projeto de Educomunicação? O desafio se torna ainda mais interessante.

Nas agências de notícias Imprensa Jovem, os estudantes assumem a responsabilidade de produzir conteúdos que serão divulgados nas redes sociais da escola e consumidos pela comunidade. É uma oportunidade de aprendizado real, onde cada fase do trabalho aproxima os jovens do fazer jornalístico e, ao mesmo tempo, desperta o olhar crítico para questões sociais.

Um exemplo prático

Missão: o Imprensa Jovem foi convidado a realizar uma reportagem sobre abandono de animais, com a proposta de conscientizar a população sobre a importância do cuidado e da responsabilidade com os pets.

Planejamento inicial:

  • Pauta: abandono de animais

  • Fontes: Secretaria da Saúde e moradores da comunidade

  • Estratégia de comunicação: vídeo curto para stories no Instagram e Facebook

  • Modalidade: reportagem com depoimentos e orientações

  • Duração: 1min20s

  • Público-alvo: moradores da comunidade escolar

  • Prazo de veiculação: 1 mês

Os responsáveis por essa produção seriam estudantes de 13 a 15 anos, atuando como repórteres, câmeras, fotógrafos e editores.

Etapas do processo

  1. Apresentação da pauta

    • Levantamento do problema por meio de reclamações de moradores.

    • Exibição de reportagens já produzidas sobre o tema como referência.

  2. Pesquisa

    • Enquetes entre estudantes e famílias.

    • Consulta a fontes confiáveis na internet.

    • Definição dos recortes mais relevantes.

  3. Planejamento da reportagem

    • Eleger os assuntos prioritários.

    • Definir fontes de informação e formas de acesso.

    • Elaborar um plano de reportagem com pautas detalhadas.

    • Fazer a curadoria dos conteúdos a serem investigados.

    • Produzir um roteiro para orientar a gravação e a coleta de depoimentos.

  4. Produção e ajustes

    • Realização de entrevistas e registros audiovisuais.

    • Revisão rápida das falas dos repórteres.

    • Adequações no roteiro, se necessário.

  5. Edição

    • Montagem do material gravado.

    • Inclusão de trilha sonora, mixagem, ajustes e legendas.

  6. Publicação e divulgação

    • Criação de títulos e resumos que engajem o público.

    • Definição dos canais de veiculação.

    • Compartilhamento nas redes sociais da escola.

O papel da Inteligência Artificial

À primeira vista, produzir uma reportagem de interesse público parece simples. Mas, quando olhamos com atenção, percebemos quantas etapas estão envolvidas. É aqui que a Inteligência Artificial pode se tornar uma aliada.

A IA pode ser integrada a diferentes momentos do processo, ajudando a dar mais agilidade e acessibilidade:

  • Na pesquisa: organizando dados, sugerindo fontes confiáveis ou sistematizando enquetes.

  • No roteiro: auxiliando na estruturação de perguntas ou na organização de fal falas.

  • Na edição: oferecendo ferramentas de corte automático, legendagem ou ajustes de áudio.

  • Na divulgação: apoiando na criação de títulos atrativos ou resumos mais claros.

Entretanto, é fundamental reforçar: IA não substitui o humano. Ela é um suporte, uma ferramenta que facilita o processo. O coração da Educomunicação está na inteligência coletiva, na participação ativa de crianças e adolescentes e na construção de sentidos em grupo.

Se não for simples e acessível, não é Educomunicação. Por isso, a integração da IA deve sempre servir para empoderar os estudantes, nunca para retirar deles a experiência criativa, crítica e colaborativa de produzir jornalismo.

Por Carlos Lima: Educomunicador  e professor 
Foto :  Formação Imersão Imprensa Jovem para Professores

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Escutar os estudantes: muitas formas de avaliar uma escola democrática


A régua que mede uma escola democrática pode variar muito. Para os estudantes, ela tem um significado; para a própria instituição, outro; e para os órgãos gestores, ainda outro.

Uma rede de ensino submeteu seus alunos a uma pesquisa simples, mas reveladora: “Você sente que é ouvido na sua escola?” O resultado mostrou que 65% dos estudantes acreditam ter espaço de voz, enquanto 35% afirmaram não se sentir escutados. O dado foi considerado positivo, sendo associado às políticas de fortalecimento de instâncias formais de participação, como o grêmio estudantil.

Mas será que essa não seria uma régua estreita demais para medir a real participação?

A escola abriga múltiplas formas de expressão e escuta que vão muito além das estruturas institucionais. Projetos de Educomunicação, por exemplo, combinam comunicação criativa e protagonismo juvenil, permitindo que estudantes vocalizem temas de relevância comunitária dentro e fora do território escolar. Em contextos de maior vulnerabilidade social e de violência, não é raro que esses projetos sejam acionados justamente por seu potencial de diálogo e transformação.

A escuta também se manifesta em atividades culturais. O Slam, a poesia, o teatro, as artes visuais e audiovisuais são mídias que funcionam como pontes para compartilhar pontos de vista, visões e reflexões. Os eventos culturais, sociais e científicos, assim como as festas organizadas pelos próprios estudantes, abrem espaço para outras narrativas.

Há ainda os projetos de intervenção social desenvolvidos pelos alunos dos últimos anos do Ensino Fundamental. Neles, surgem propostas temáticas que muitas vezes não estão no currículo formal — debates sobre gênero, diversidade, mundo do trabalho ou sexualidade — e que podem gerar impactos reais na comunidade.

Agora, imagine se todas essas iniciativas estivessem organizadas em um sistema capaz de registrar e analisar os diferentes modos de participação estudantil. As perguntas ganhariam respostas mais amplas: A escola promove a participação dos estudantes? De que formas? Com quais impactos?

A régua da democracia escolar precisa ser alargada. Escutar os estudantes é mais do que abrir espaço formal de fala: é reconhecer que a participação também pulsa na cultura, na arte, na comunicação e na intervenção social.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Foto: Imprensa Jovem

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Educomunicação e SP Integral: Novos Caminhos para a Educação em Tempo Integral


A Instrução Normativa que regulamenta o Programa SP Integral abre espaço para que as escolas da Rede Municipal de São Paulo ampliem o protagonismo dos estudantes e diversifiquem suas práticas pedagógicas. Nesse contexto, os projetos de Educomunicação ganham ainda mais relevância, oferecendo meios criativos e inovadores para integrar currículo, territórios educativos e participação ativa da comunidade escolar.

Ao propor a reorganização da jornada escolar, o SP Integral estimula que cada unidade elabore um Plano de Ação Integrada, no qual os projetos e programas existentes podem dialogar entre si. É justamente aqui que a Educomunicação se insere como campo estratégico: rádio escolar, agências de notícias estudantis, produções audiovisuais, podcasts e jornal mural podem se articular com componentes curriculares e com os Itinerários Formativos, potencializando aprendizagens.

Entre os principais pontos em que a normativa oferece subsídios aos projetos de Educomunicação, destacam-se:

  • Integração Curricular – Os produtos midiáticos desenvolvidos pelos estudantes podem ser utilizados como instrumentos de avaliação, síntese de conteúdos e expressão criativa em diferentes áreas do conhecimento.

  • Protagonismo Estudantil – O SP Integral valoriza o papel ativo dos jovens, em sintonia com a proposta do Imprensa Jovem, no qual estudantes assumem funções de repórteres, editores, apresentadores e produtores.

  • Gestão Democrática e Territórios Educativos – A Educomunicação promove o diálogo com a comunidade e possibilita que o espaço escolar se conecte a temas locais, culturais e sociais, fortalecendo vínculos.

  • Formação para o Futuro – Projetos midiáticos desenvolvem competências alinhadas ao século XXI: comunicação, colaboração, pensamento crítico, criatividade e responsabilidade digital.

Assim, a implementação do SP Integral não apenas amplia o tempo de permanência dos estudantes na escola, mas também fortalece iniciativas que já fazem parte da Rede, como o Imprensa Jovem, reconhecido nacional e internacionalmente por seu impacto na formação crítica e cidadã.

A Educomunicação, integrada ao SP Integral, é caminho para que a escola se torne um espaço de voz, expressão e transformação social.

Acesse a IN SP Integral (clique aqui)

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Imagem : Projeto Jornal Fake News TCA EMEF Josué de Castro

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Educomunicação com IA


A tecnologia corre. E avança cada vez mais rápido. Essa velocidade não chega com a mesma intensidade à escola. A formação de professores segue defasada em relação a integração tecnológica, e os processos formativos e com isto  não acompanham o ritmo das mudanças.  As relações entre educadores e educandos, os interesses dos estudantes, a preparação das juventudes para o mundo: tudo isso ganha outras camadas quando mediado pelas inovações digitais.

Medir a qualidade de uma escola apenas por poucas réguas é reduzir a potência da educação. A criatividade, o protagonismo e a participação dos estudantes não cabem em tabelas estreitas. É justamente no espaço de abertura que a Educomunicação encontra seu chão: criar caminhos para a aprendizagem em que o limite seja apenas a ética. E, com ela, a responsabilidade social como guia, garantindo ao trabalho pedagógico segurança para inovar.

Não é de hoje que redes sociais, celulares e softwares livres se tornaram aliados dos projetos educomunicativos. Lá atrás, em 2010, quando o Imprensa Jovem incorporava o uso de ferramentas abertas, o que estava em jogo era mais do que aprender tecnologia: era experimentar o conhecimento livre. Produzir mídia na escola não é apenas gerar informação; é potencializar criatividade, voz e participação.

As linguagens midiáticas sempre foram pontes poderosas. Elas conectam áreas do conhecimento, aproximam mundos, trazem para a sala de aula desejos, ideias e visões que, de outro modo, ficariam à margem. Imaginar aulas ancoradas nesse novo ordenamento social pode parecer radical, mas talvez radical seja justamente o que precisamos para re-humanizar os processos educativos.

Recentemente, no evento da UNESCO, participei de discussões sobre o papel da Inteligência Artificial na educação. Especialistas do mundo todo compartilharam impressões sobre esse fenômeno tecnológico que já não é futuro, é presente. Apresentei ali o Imprensa Jovem, programa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo que há anos dá voz a crianças e adolescentes em produções jornalísticas. E foi impossível não pensar: o que acontece quando esse mesmo estudante, que já consome e produz mídia, encontra a IA?

A resposta não é simples. A IA entra na vida escolar seja no trabalho acadêmico, na pesquisa rápida, na criação de conteúdos recreativos. Para nós, educadores, a tarefa não é barrar, mas escutar. A Educomunicação ensina que não há protagonismo sem diálogo. É preciso olhar para o que os jovens trazem, entender suas referências, negociar sentidos e construir acordos que façam sentido para todos. Não se trata de controle, mas de convivência.

Claro, não é fácil. Muitos professores ainda se sentem despreparados para enfrentar esse cenário. A formação docente é, portanto, condição fundamental: só ela pode ajudar a desconstruir preconceitos e abrir espaço para uma produção de conhecimento ética e responsável.

No campo educomunicativo, a IA pode ser ferramenta útil quando se integra de forma orgânica ao processo: nas lacunas, nos pontos em que o conhecimento do estudante ainda não alcança. Criar um produto midiático é complexo — envolve pauta, roteiro, entrevistas, edição, circulação e avaliação. Um simples exercício de entrevistar um professor sobre um projeto ambiental na escola já mobiliza competências de comunicação, organização e engajamento social. Agora, imagine: quanto a IA pode apoiar esse estudante a transformar a entrevista em uma reportagem de impacto, ajudando-o a traduzir informações sobre o descarte correto do lixo em uma intervenção para a comunidade?

Educomunicação é, antes de tudo, voz e escuta. No encontro entre juventude, mídia e tecnologia, a IA pode ser ameaça, mas também pode ser aliada. O desafio é justamente esse: encontrar o caminho do meio, onde ética e criatividade caminham juntas, sem apagar o humano que nos constitui.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor 

Foto: Carlos Lima 

Educomunicação e Escuta Ativa: como ouvir os estudantes sobre as provas institucionais

A escola é um espaço de múltiplas vozes. Entre elas, a dos estudantes muitas vezes é a menos ouvida, especialmente quando o tema envolve pr...