A tecnologia corre. E avança cada vez mais rápido. Essa velocidade não chega com a mesma intensidade à escola. A formação de professores segue defasada em relação a integração tecnológica, e os processos formativos e com isto não acompanham o ritmo das mudanças. As relações entre educadores e educandos, os interesses dos estudantes, a preparação das juventudes para o mundo: tudo isso ganha outras camadas quando mediado pelas inovações digitais.
Medir a qualidade de uma escola apenas por poucas réguas é reduzir a potência da educação. A criatividade, o protagonismo e a participação dos estudantes não cabem em tabelas estreitas. É justamente no espaço de abertura que a Educomunicação encontra seu chão: criar caminhos para a aprendizagem em que o limite seja apenas a ética. E, com ela, a responsabilidade social como guia, garantindo ao trabalho pedagógico segurança para inovar.
Não é de hoje que redes sociais, celulares e softwares livres se tornaram aliados dos projetos educomunicativos. Lá atrás, em 2010, quando o Imprensa Jovem incorporava o uso de ferramentas abertas, o que estava em jogo era mais do que aprender tecnologia: era experimentar o conhecimento livre. Produzir mídia na escola não é apenas gerar informação; é potencializar criatividade, voz e participação.
As linguagens midiáticas sempre foram pontes poderosas. Elas conectam áreas do conhecimento, aproximam mundos, trazem para a sala de aula desejos, ideias e visões que, de outro modo, ficariam à margem. Imaginar aulas ancoradas nesse novo ordenamento social pode parecer radical, mas talvez radical seja justamente o que precisamos para re-humanizar os processos educativos.
Recentemente, no evento da UNESCO, participei de discussões sobre o papel da Inteligência Artificial na educação. Especialistas do mundo todo compartilharam impressões sobre esse fenômeno tecnológico que já não é futuro, é presente. Apresentei ali o Imprensa Jovem, programa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo que há anos dá voz a crianças e adolescentes em produções jornalísticas. E foi impossível não pensar: o que acontece quando esse mesmo estudante, que já consome e produz mídia, encontra a IA?
A resposta não é simples. A IA entra na vida escolar seja no trabalho acadêmico, na pesquisa rápida, na criação de conteúdos recreativos. Para nós, educadores, a tarefa não é barrar, mas escutar. A Educomunicação ensina que não há protagonismo sem diálogo. É preciso olhar para o que os jovens trazem, entender suas referências, negociar sentidos e construir acordos que façam sentido para todos. Não se trata de controle, mas de convivência.
Claro, não é fácil. Muitos professores ainda se sentem despreparados para enfrentar esse cenário. A formação docente é, portanto, condição fundamental: só ela pode ajudar a desconstruir preconceitos e abrir espaço para uma produção de conhecimento ética e responsável.
No campo educomunicativo, a IA pode ser ferramenta útil quando se integra de forma orgânica ao processo: nas lacunas, nos pontos em que o conhecimento do estudante ainda não alcança. Criar um produto midiático é complexo — envolve pauta, roteiro, entrevistas, edição, circulação e avaliação. Um simples exercício de entrevistar um professor sobre um projeto ambiental na escola já mobiliza competências de comunicação, organização e engajamento social. Agora, imagine: quanto a IA pode apoiar esse estudante a transformar a entrevista em uma reportagem de impacto, ajudando-o a traduzir informações sobre o descarte correto do lixo em uma intervenção para a comunidade?
Educomunicação é, antes de tudo, voz e escuta. No encontro entre juventude, mídia e tecnologia, a IA pode ser ameaça, mas também pode ser aliada. O desafio é justamente esse: encontrar o caminho do meio, onde ética e criatividade caminham juntas, sem apagar o humano que nos constitui.
Por Carlos Lima: Educomunicador e professor
Foto: Carlos Lima
Oi Carlos! Boa noite! O texto é mto necessário! A gente enquanto professor tá meio sem saber como pensar em relação a inteligência artificial… claro que a IA tem suas armadilhas… mas a gente tem que construir as ferramentas para ela ser nossa aliada na educação.. da gente se apropriar dela de forma inteligente… igual vc escreve no artigo… A Educomunicação é o caminho para isso … o da escuta e diálogo … o difícil é construir isso.. de acolhimento.. na sala de aula … no projeto com 15 alunos, isso acontece mais eu acho… mas nas turmas em geral que tá o desafio…
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