Há sempre novidades na escola dos Caçadores de Notícias.Todo início de ano traz novos rostos, novos professores e também algumas despedidas. Desta vez, a notícia que mexeu com toda a comunidade escolar foi a aposentadoria do professor Jesse, o querido mestre de História.
Professor Jesse fez parte da história viva da escola. Estudou ali quando jovem e, anos depois, retornou como educador. Ensinou gerações de estudantes — inclusive os pais de muitos alunos atuais. Cinéfilo apaixonado, acreditava que o cinema era uma poderosa ferramenta de reflexão. Sempre trazia filmes e curtas para discutir temas sociais, políticos e culturais.
Foi ele quem fundou o cineclube da escola, espaço onde os estudantes aprendiam a olhar o mundo com criticidade e sensibilidade.
O professor era cadeirante, e isso nunca foi obstáculo para seu entusiasmo. Pelo contrário: sua presença inspirava todos a enxergarem a educação como um espaço de inclusão, respeito e transformação.
Quando sua aposentadoria foi anunciada, ninguém quis deixar passar em branco. Os professores, estudantes e ex-alunos organizaram uma grande surpresa.
Na manhã do dia marcado, tudo parecia normal. O professor chegou pontualmente, como sempre. Cumprimentou o porteiro, seguiu até a sala dos professores, ajeitou seu material e começou o trajeto até a sala de aula.
Mas algo estava estranho… Os corredores estavam silenciosos demais. Nenhum som de conversa, nenhum sinal de estudantes. Ainda assim, ele continuou, pensativo, acreditando que talvez tivesse se adiantado.
Ao chegar à sua sala, encontrou a porta entreaberta. Lá dentro, uma tela ligada exibia o clipe “Ao Mestre com Carinho”.
Ele sorriu, emocionado, sem entender direito o que estava acontecendo.
Saiu da sala, foi até a secretaria — vazia. Passou pela direção — também vazia.
“Mas onde foi parar todo mundo?”, pensou.
Decidiu ir embora. Ao se aproximar do portão, o guarda desligava as luzes.
— Oi, cadê todo mundo? — perguntou o professor.
— Todo mundo quem, professor? Hoje não tem aula.
— Como assim? Vim dar minha última aula.
O guarda, disfarçando o sorriso, respondeu:
— Ah, entendi. Mas venha comigo, por aqui não dá pra sair… por ali sim.
Empurrou a cadeira de rodas em direção à quadra. A porta estava fechada.
Quando o guarda abriu, o professor ficou imóvel.
Diante dele, uma multidão.
Estudantes, professores, ex-alunos e famílias enchiam a quadra, formando um grande corredor humano. Todos começaram a cantar, em coro, a mesma música do clipe que ainda ecoava: “Ao Mestre com Carinho”.
Ao final, uma banda formada por ex-estudantes assumiu o palco e deu continuidade à canção.
O professor, visivelmente emocionado, deixou as lágrimas escorrerem. Perto do palco, seus filhos e netos o aguardavam. Um telão projetava imagens antigas — ele, jovem, em sua primeira turma de História. Sorrisos, abraços, lembranças.
Um a um, estudantes e ex-alunos subiram ao microfone para compartilhar histórias e aprendizados vividos em suas aulas.
E, como não poderia deixar de ser, encerraram a homenagem com um cineclube — exibindo o filme do clipe que simbolizava toda a sua trajetória.
Naquele dia, o professor Jesse viveu algo raro: foi personagem da própria aula. E, mais do que nunca, entendeu que sua história continuaria na tela, nos olhos e nas memórias de cada estudante que ajudou a formar.
(Continua)
Por Carlos Lima
Foto: Reprodução O Globo