sábado, 8 de junho de 2024

AI: Aí, Ai, Aí! E Quando Chegar à Educação?

 

O mundo avança rapidamente, especialmente na integração de tecnologias ao cotidiano. A palavra "tecnologia" deriva do grego tekhné (arte, indústria, habilidade) e logos (argumento, razão), representando o conjunto de conhecimentos e habilidades específicas. Simplificando, podemos entendê-la como uma forma de facilitar a vida.

No passado, lidar com tecnologia digital exigia uma orientação extensiva. Hoje, tornou-se tão intuitivo que basta dizer o que se deseja, fornecer comandos ou fazer uma pergunta, e tudo se desdobra diante de nós. Essa acessibilidade está tornando as pessoas mais confortáveis com a tecnologia, permitindo resolver problemas complexos com alguns cliques. Pedir para uma máquina criar um texto completo com base em poucos parâmetros é um exemplo claro dessa mudança de paradigma, que causa desconforto entre educadores, como visto com a plataforma ChatGPT.

Há pouco tempo, a principal preocupação era o "copiar e colar" de informações para trabalhos escolares, obtidas diretamente da Wikipedia ou de uma rápida pesquisa no Google. A inteligência artificial já estava presente desde então, aprendendo a resolver problemas com base nos parâmetros fornecidos pelos usuários da internet e criando soluções mais fáceis para a vida cotidiana.

Lembro-me de uma aula de Filosofia no curso de Comunicação Social, onde o professor nos disse que "o problema é a solução". Acredito que os desafios motivam as pessoas a saírem da zona de conforto, incentivando a investigação e a compreensão. A inteligência artificial está trazendo inovações espetaculares, e embora nem todas sejam encantadoras ou devam ser aceitas sem questionamento, é essencial observar criticamente e mediar sua integração na prática pedagógica.

No entanto, ainda há muito preconceito em relação à inteligência artificial, e esse preconceito só pode ser superado com formação adequada. Infelizmente, a gestão pública frequentemente falha em reconhecer a necessidade de estratégias para capacitar os professores a compreender esse novo mundo, com o qual as gerações mais jovens já estão familiarizadas. Ao invés disso, há uma tendência em restringir o uso de recursos que possam introduzir uma cultura escolar diferente da tradicional.

Refletindo sobre a origem da palavra "escola", que vem do grego scholé e significa "lugar do ócio", originalmente, esses eram locais para pensar e refletir. Hoje, a escola se transformou em uma máquina de consumo de conhecimento, muitas vezes sem espaço para que os alunos tenham tempo livre para pensar e refletir. Esta abordagem reducionista é evidenciada até na terminologia, ao chamarmos os estudantes de "alunos", do latim alumnus, que significa "sem luz".

Então, onde fica toda a bagagem que os alunos trazem para a escola? A geração atual traz consigo a inteligência artificial. A educação deve reconhecer que a sociedade ao redor da escola está imersa em exemplos de IA, seja nas relações interpessoais, principalmente nas mídias sociais, ou nos serviços diários, como automação de pedidos em restaurantes ou entregas de comida.

Devemos nos preocupar com o impacto da IA no mercado de trabalho, substituindo ocupações repetitivas. Muitas escolas relutam em abordar essa questão, temendo discutir empreendedorismo ou o mercado de trabalho, alegando que não faz parte do escopo educacional. Contudo, é crucial reconhecer que o trabalho é onde a influência da IA é mais evidente, e adiar essa discussão não beneficia os estudantes.

Conversando com colegas educadores, refletimos sobre como a formação dos estudantes nunca poderá prepará-los completamente para profissões em constante transformação, devido ao desenvolvimento dos processos produtivos e, agora, à influência da inteligência artificial. A escola oferece módulos formativos que só os prepararão para o mundo do trabalho em cerca de 20 anos, um tempo demasiadamente longo considerando a velocidade das mudanças.

A IA tem o potencial de acumular o conhecimento e o pensamento humano ao longo dos anos, adaptando-se às necessidades das pessoas. Em um futuro próximo, podemos ter humanoides realizando uma variedade de tarefas humanas, e é crucial que estejamos preparados para essa convivência inevitável. A escola deve ser o local onde a reflexão é fomentada, não apenas em relação aos indivíduos que a frequentam, mas também à comunidade ao seu redor e ao mundo que influencia tudo isso.


Por Carlos Alberto Mendes de Lima - Professor, radialista e Educomunicador

Imagem :Image by freepik




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