domingo, 13 de abril de 2025

O desafio da Educomunicação nas escolas cívico-militares

A escola pública brasileira vive um momento de intensas transformações. De norte a sul, de leste a oeste, a relação entre professores e estudantes tem sido marcada por conflitos, tensões e desafios. A sala de aula, em muitos contextos, encontra-se em crise. Mesmo com medidas como a proibição do uso de celulares, a violência e a indisciplina persistem.

Diante desse cenário, cresce na sociedade o desejo por mais controle e disciplina nas escolas. Muitos acreditam que a ordem constante é o caminho para garantir um ambiente de aprendizagem mais seguro. Pais, professores, gestores e os próprios estudantes compartilham o mesmo anseio: uma escola acolhedora, organizada e livre de conflitos. Mas até que ponto uma pedagogia baseada exclusivamente na disciplina e na hierarquia é capaz de construir esse ambiente ideal?

As escolas cívico-militares surgem nesse contexto como uma proposta de organização mais rígida, centrada na autoridade e na obediência. No entanto, é preciso refletir: essas estruturas estão preparadas para lidar com a diversidade cultural, social e emocional dos estudantes? Como promover a inclusão, o pensamento crítico e a autonomia em ambientes que tendem à padronização do comportamento?

A escola deve ser um espaço de transformação do estudante para o mundo — e não de conformação do estudante a um modelo único de sociedade. Cada aluno carrega consigo uma bagagem cultural rica, desejos, criatividade, reflexões e inquietações. Reprimir essa pluralidade, negando o direito de questionar, expressar e trazer outras referências, é apagar a essência do ser criança, do ser adolescente, do ser jovem.

Educar é, antes de tudo, compreender. É construir pontes entre saberes curriculares — matemáticos, linguísticos, científicos, artísticos, históricos e tecnológicos — e os sujeitos reais que habitam a sala de aula. É preciso mais do que ensinar conteúdos: é necessário criar vínculos, promover a escuta ativa, mediar conflitos e valorizar o protagonismo juvenil.

É aí que a Educomunicação se apresenta como uma poderosa aliada das escolas, inclusive das cívico-militares. Presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como competência fundamental da Educação Básica, a Comunicação deve ser desenvolvida em suas múltiplas formas: escrita, oral, midiática, visual, corporal e digital. E, mais do que isso, deve ser um caminho para o diálogo, a expressão e a cultura de paz.

A Educomunicação propõe práticas que integram a escuta, o respeito às diferenças, a resolução pacífica de conflitos e o protagonismo estudantil por meio de projetos colaborativos, como rádio escolar, jornal estudantil, podcasts, vídeos, rodas de conversa, entre outros. Esses processos criam ambientes mais democráticos, onde a disciplina não é imposta, mas construída coletivamente a partir do diálogo e da corresponsabilidade.

Promover a participação dos estudantes na construção do conhecimento é fundamental para uma escola que pretende formar cidadãos críticos, éticos e atuantes. Uma escola pode, sim, ser organizada e disciplinada sem abrir mão da escuta, da criatividade e do afeto.

A Educomunicação não é o oposto da disciplina: ela é, justamente, o caminho para uma disciplina com sentido, construída junto com os estudantes e não contra eles.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem: Portal Aprendiz 

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