Entender crianças e adolescentes é, antes de tudo, um exercício de escuta, presença e empatia. Não se trata apenas de observá-los de fora, mas de mergulhar em seus mundos, decifrar seus silêncios, suas linguagens, seus sonhos e inquietações. É como aprender uma nova língua: exige atenção aos códigos, aos contextos e às entrelinhas.
O que são crianças e adolescentes?
Mais do que faixas etárias, crianças e adolescentes são sujeitos em formação, com direitos garantidos e vozes próprias. A infância e a adolescência são tempos de descobertas, conflitos e afirmações. São fases em que o ser humano experimenta intensamente o mundo, constrói significados e busca pertencimento.
Frequentemente, o adulto se aproxima desses sujeitos tentando ensinar, conduzir, corrigir. Mas talvez a primeira lição seja aprender com eles. As crianças ensinam sobre o encanto, a curiosidade e a liberdade de imaginar. Os adolescentes, sobre a coragem de se questionar e reinventar.
O que esperam da vida?
Crianças esperam afeto, segurança, espaço para brincar e se expressar. Desejam ser vistas, acolhidas, compreendidas. Adolescentes esperam oportunidades, liberdade com responsabilidade, respeito à sua identidade e lugar de fala. Querem participar do mundo, não apenas assisti-lo.
Ambos esperam que os adultos não sejam barreiras, mas pontes. Que saibam acolher seus sentimentos sem minimizar suas dores. Que reconheçam suas potências, e não apenas suas faltas.
O que esperam do adulto?
Esperam escuta genuína. Não apenas alguém que ouça com os ouvidos, mas que compreenda com o coração. Esperam presença — não no controle, mas no cuidado. Esperam coerência, exemplo, sensibilidade. O adulto, para eles, é referência de mundo. E quando esse mundo é aberto, sensível e justo, a confiança se fortalece.
Qual a gramática para entendê-los?
A gramática que nos permite entender crianças e adolescentes vai além da linguagem verbal. É uma gramática da escuta, da observação, da sensibilidade. Envolve:
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Escutar com atenção: o que dizem e o que não dizem.
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Observar contextos: o ambiente, os vínculos, as referências.
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Reconhecer linguagens: o corpo, os gestos, os símbolos, os silêncios.
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Dialogar com respeito: construindo pontes, não muros.
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Valorizar a expressão: oferecer meios para que se manifestem, criem, participem.
Educomunicação como meio potente
A Educomunicação surge como uma ponte poderosa nessa relação. Ao valorizar a comunicação como processo educativo e a educação como ato comunicativo, ela cria espaços para que crianças e adolescentes expressem suas ideias, sentimentos e visões de mundo.
Projetos de rádio escolar, podcasts, jornal estudantil, produções audiovisuais, rodas de conversa e blogs são estratégias educomunicativas que revelam o que muitas vezes não é dito em sala de aula. Quando uma criança entrevista um colega, quando um adolescente edita um vídeo sobre sua comunidade, estão não apenas aprendendo técnicas — estão traduzindo seu mundo com suas próprias gramáticas.
A Educomunicação reconhece que toda criança é autora de sentidos, e todo adolescente é produtor de narrativas. Escutar essas narrativas é fundamental para uma educação mais humanizada, mais justa, mais significativa.
Aprender a gramática da infância e da adolescência é um desafio contínuo — exige do adulto mais humildade do que autoridade. E talvez esse seja o maior aprendizado: não impor fórmulas, mas descobrir caminhos juntos.
A comunicação, quando feita com afeto, liberdade e escuta, se torna a linguagem comum entre gerações. E é nessa linguagem que podemos construir relações verdadeiramente educativas, transformadoras e inclusivas.
Por Carlos Lima : Educomunicador e professor
Imagem : Imprensa Jovem Josué de Castro
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