A educação de hoje está profundamente conectada ao mundo além dos muros escolares. Já foi o tempo em que a Enciclopédia Barsa era símbolo de prestígio no acesso à informação. Hoje, basta uma “googada” ou uma consulta a uma IA generativa e Chazan! A informação se revela de forma rápida, fluida e personalizada, guiada pelas perguntas curiosas dos estudantes.
Aliás, as perguntas têm muito mais poder na construção do conhecimento do que as respostas. Elas nascem das escolhas do estudante sobre o que ele quer, de fato, compreender.
Na perspectiva de uma cidade que educa, ou de uma cidade educadora, a conexão do estudante com seu território — e com a própria cidade — cria oportunidades de acesso a saberes que não cabem no currículo tradicional. Cada interação fora da escola traz novas referências para ler o mundo.
O mundo que está a poucos quilômetros de distância, por exemplo em uma Bienal do Livro, em uma Campus Party ou em qualquer outro grande evento, se converte em fonte viva de conhecimento. Nesses espaços há diversidade cultural, novas tecnologias sociais, modelos inovadores de leitura e… pessoas.
Pessoas conversam, explicam, contam histórias, revelam pontos de vista. São pequenas cidades educadoras ambulantes — assim como outros seres que também habitam esses territórios.
Sair para as ruas e voltar carregando experiências é como fazer uma viagem. Sempre trazemos algo que nos transforma e que, inevitavelmente, queremos compartilhar.
Sob uma perspectiva educomunicativa, viajar para além dos muros da escola significa usar o diálogo como ferramenta central, junto com a observação — que compreendo como escuta ativa — e com os registros selecionados daquilo que mais encantou quem viveu a experiência. E o encantamento nasce da linguagem: quanto mais acessível, criativa e expressiva for a narrativa, mais viva será a informação.
As produções criadas por estudantes para estudantes surgem desse encontro: uma ida às ruas guiada por um roteiro que orienta a caminhada em busca de conhecimento.
Explorar o mundo fora da escola é, sim, um projeto, e precisa ser planejado coletivamente, com divisão de missões dentro da equipe.
É aqui que a Agência de Notícias Imprensa Jovem transforma a experiência: ela prepara os estudantes para trilhar caminhos de investigação jornalística que formam, ao mesmo tempo, quem produz e quem consome o conteúdo.
Na preparação para essas incursões às “ruas do conhecimento”, logo ali depois do portão da escola, o roteiro orienta o que se pretende alcançar com a cobertura jornalística.
A entrevista é a engrenagem central da aprendizagem. Cada pergunta abre uma porta para um novo saber.
E o conjunto de registros — audiovisuais, sonoros, textuais, fotográficos — dá alma ao corpo da informação que mais tarde se tornará uma reportagem no canal escolar.
Ouvi a expressão “educação das ruas” de uma das mais renomadas consultoras de educação do Brasil, Cláudia Costin, por quem tenho profundo respeito. Ela apresentou a ideia como estratégia para dinamizar as ações com adolescentes, durante uma formação sobre os documentos de Adolescências, com a presença da secretária, coordenadores, diretores, supervisores e professores.
Nunca havia parado para pensar no termo, mas como o Imprensa Jovem sempre se sofisticou pela colaboração do outro, será mais um conceito que integraremos à nossa política pública.
Ainda cheguei a perguntar à Cláudia sobre como aproximar o tema da intergeracionalidade dos adolescentes — mas isso fica para outra crônica educomunicativa.
Finalizo lembrando do pequeno Andrezinho, de 10 anos. Criar uma Agência de Notícias Imprensa Jovem tem permitido às escolas interagir com sua comunidade, com seus estudantes e com a cidade. Uso a definição do aluno-repórter André, do 4º ano da EMEF Tarsila do Amaral, para compreender esse movimento estudantil de diálogo social pelas mídias dentro do território escolar:
“O Imprensa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece vira notícia. Contamos os fatos pelos nossos pontos de vista. Registramos, editamos, publicamos e compartilhamos. Somos alunos e alunas que produzem notícias.”
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
