quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A linguagem simples no contexto da comunicação institucional



Quem nunca se deparou com uma informação que, em vez de esclarecer, gera ainda mais dúvidas? Isso acontece quando acessamos um site, consultamos um manual, lemos um cartaz, tentamos entender uma lei, deciframos um e-mail institucional ou simplesmente buscamos o significado da sigla de um órgão público. Muitas vezes, a comunicação parece ter sido feita não para o cidadão, mas para quem produz o próprio serviço. Costumo chamar isso de “comunicação para o umbigo”.

No serviço público, a transparência é um valor essencial. Por isso, a linguagem simples deveria ser mais que uma política de gestão — deveria ser uma política pública. Em 2022, o Programa Imprensa Jovem foi sistematizado pela Prefeitura de São Paulo como uma proposta de comunicação descentralizada nos órgãos públicos. Suas características — como a comunicação feita de estudantes para estudantes — trazem empatia e aproximam a informação da comunidade. Isso faz com que os canais das agências de notícias se tornem, em muitas escolas, os canais oficiais de comunicação. Informes, campanhas, ações e notícias ganham uma tradução feita pelos jovens, tornando o conteúdo acessível, seja pela linguagem, pelo design ou pela seleção do que é mais importante comunicar (em texto, imagem ou som).

As agências de notícias estudantis tornaram-se canais oficiais em muitas escolas, traduzindo informes, campanhas, notícias e orientações para uma linguagem mais acessível — seja pelo texto, pelo design ou pelo audiovisual. A escolha do que comunicar passa pelo olhar jovem, que reorganiza a informação para torná-la compreensível e relevante. Clique para acessar o documento

Se imaginarmos o Imprensa Jovem como uma estratégia mais ampla para a comunicação social nos órgãos públicos, veremos que ele antecipa soluções que hoje são diretrizes nacionais. Aliás, o documento produzido pela Prefeitura sobre comunicação descentralizada já apontava caminhos de melhoria para além da Educação, indicando como os órgãos públicos poderiam adotar práticas de Educomunicação para comunicar com mais eficiência e proximidade. Comunicar bem não é apenas estética — é melhorar o atendimento, fortalecer a relação com o munícipe e ampliar a confiança pública.

Entre as formas de aprimorar a comunicação estão princípios básicos do design, como alinhamento, proximidade, repetição e contraste, que ajudam a organizar a informação visual e a guiar o leitor. (saiba mais) Mas uma comunicação eficaz exige também o uso de linguagem simples, fundamentada em frases curtas, vocabulário acessível, organização lógica das ideias e foco direto na ação que o cidadão precisa realizar.

Essas práticas estão alinhadas com a Lei Federal nº 15.263/2025, que cria a Política Nacional de Linguagem Simples e determina que os órgãos públicos adotem padrões de comunicação claros, diretos e inclusivos. A lei reforça que todas as pessoas têm o direito de compreender plenamente as informações do Estado, sem barreiras linguísticas.

No fim das contas, linguagem simples não é simplificação — é democratização. Ela reafirma que o serviço público pertence às pessoas, e não o contrário. Quando comunicamos com clareza, garantimos que as pessoas se reconheçam, se orientem e se sintam parte das políticas que impactam suas vidas. Esse é o caminho para uma comunicação verdadeiramente pública e para um serviço público mais humano, acessível e eficiente.

Por Carlos Lima — Educomunicador e professor


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