O cinema e o audiovisual ocupam hoje um lugar estratégico na escola contemporânea. Mais do que recursos didáticos ou instrumentos de apoio às aulas, eles se consolidam como linguagens formativas, capazes de promover diálogo, empatia, pensamento crítico e protagonismo estudantil. Quando trabalhados a partir da perspectiva da Educomunicação, tornam-se potentes ferramentas de transformação social e de enfrentamento às desigualdades e aos preconceitos.
A escola é, por excelência, um espaço de escuta, de fala e de construção coletiva de sentidos. O audiovisual possibilita que temas complexos — como racismo, direitos humanos, meio ambiente, diversidade cultural e justiça social — sejam abordados de forma sensível, contextualizada e conectada às vivências dos estudantes. O cinema cria pontes entre o currículo, o território e as experiências de vida, ampliando o repertório cultural e fortalecendo a aprendizagem interdisciplinar.
Nesse contexto, o cineclube escolar se apresenta como uma estratégia pedagógica fundamental. Diferente da simples exibição de filmes, o cineclube pressupõe curadoria intencional, planejamento e mediação pedagógica. Os filmes selecionados dialogam com documentos orientadores da Rede, como as Diretrizes de Educação Antirracista, e provocam debates que valorizam a diversidade de olhares. Quando os estudantes se reconhecem nas narrativas exibidas, suas vozes emergem, seus pontos de vista se expressam e o espaço escolar se torna mais democrático e participativo.
O audiovisual, enquanto prática educomunicativa, não se limita ao ato de assistir. Ele envolve também a produção de conteúdos pelos próprios estudantes. Aprender a fazer cinema é um processo colaborativo que desenvolve competências técnicas, comunicativas, sociais e emocionais. Na criação de roteiros, os estudantes exercitam a empatia ao pensar no público; na produção, aprendem a cooperar, dividir tarefas e reconhecer diferentes potencialidades; na edição, vivenciam o diálogo, a escuta e a tomada coletiva de decisões. Nesse percurso, o processo formativo é mais importante do que o produto final.
Trabalhar com cinema e audiovisual na escola também significa investir em alfabetização midiática e informacional. Ao analisar enquadramentos, narrativas, escolhas estéticas e recortes temáticos, os estudantes desenvolvem uma leitura crítica da mídia, tornando-se capazes de identificar intenções, discursos e vieses presentes nas produções audiovisuais. Essa competência é tão essencial quanto as alfabetizações da leitura, da escrita, da matemática, das ciências ou das artes, especialmente em um mundo atravessado pelas telas e pelas redes digitais.
Ao longo de mais de duas décadas de experiências na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, iniciativas como o Programa Imprensa Jovem, os projetos de cineclube, as formações docentes e as produções audiovisuais estudantis têm demonstrado que a Educomunicação emancipa, empodera e transforma vidas. O audiovisual cria espaços de protagonismo juvenil, fortalece a cultura de paz e amplia as possibilidades de participação cidadã.
Levar o cinema para a escola — e, sobretudo, para territórios historicamente marginalizados — é garantir o direito à comunicação e à expressão. É possibilitar que narrativas locais ganhem visibilidade, que vozes silenciadas sejam ouvidas e que novas formas de enxergar o mundo sejam construídas coletivamente. Quando estudantes produzem e compartilham suas histórias, a escola se torna um espaço de criação, pertencimento e transformação.
Diante de sua potência educativa, o audiovisual precisa ser reconhecido como política pública de educação. Festivais estudantis, mostras de cinema escolar, cineclubes e projetos de produção audiovisual são estratégias fundamentais para consolidar uma educação dialógica, democrática e criativa. O cinema, quando aliado à Educomunicação, não apenas forma espectadores, mas forma sujeitos críticos, autores de suas próprias narrativas e protagonistas de suas trajetórias.
Por Carlos Lima - Professor Educomunicador
Imagem : Pixabay

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