Quando falamos em Educomunicação, falamos de pessoas, processos e, principalmente, de olhares. Ismar de Oliveira Soares define o educomunicador como um profissional híbrido, um gestor de processos. E, ao longo da minha caminhada, percebi que gerir processos educomunicativos — especialmente na educação básica — exige muito mais do que técnica: exige sensibilidade, política e visão ampla.
Guardo comigo uma lembrança marcante. Em 2003, numa palestra do curso Educom.Radio, Serjão, da Oboré, nos trouxe uma metáfora tão simples quanto poderosa. Ele disse que o gestor pode olhar o mundo de duas formas: da rua ou do alto de um prédio.
O olhar da rua
Quando estamos na rua, enxergamos apenas o imediato. O próximo passo. O que está diante dos nossos olhos. É o famoso “só acredito no que vejo”. Esse olhar é importante, mas limitado. Ele nos prende ao agora.
O olhar do alto
Já do alto de um prédio, tudo muda. O horizonte se abre. Vemos a própria rua e todas as outras ao redor — as mais movimentadas, as vazias, as iluminadas, as confusas, as de mão dupla. Entendemos fluxos, tempos e possibilidades.
Para quem trabalha com política pública, essa visão 360 graus é mais valiosa do que qualquer relatório. É ela que permite avaliar caminhos, prever dificuldades, decidir rotas e compreender que nem todo caminho bom é o caminho certo naquele momento.
A caminhada do gestor educomunicativo
Gerir Educomunicação é caminhar entre diferentes itinerários com cuidado. No começo, a vontade de avançar rápido pode nos fazer tropeçar nas próprias pernas. Com o tempo, aprendemos que às vezes é preciso recuar dois passos para avançar um — e tudo bem. É estratégia, não retrocesso.
Ao longo de 20 anos à frente do mesmo projeto, sigo aprendendo que gestão é movimento, escuta e adaptação. E que o gestor precisa saber onde tem autoridade para decidir, mas também precisa estar aberto para enxergar oportunidades que aparecem no caminho.
Competências que fazem a diferença
Depois de tantas experiências, algumas habilidades se mostram indispensáveis:
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Ser comunicador e ouvinte sensível;
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Trabalhar de forma colaborativa e fugir da lógica da ilha;
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Fortalecer o coletivo, diluindo protagonismos quando necessário;
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Deixar sua marca sem sobrepor ninguém — sendo sal ou açúcar na medida certa;
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Criar o essencial e reutilizar o que já foi construído;
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Entender que o tempo político é diferente do tempo das pessoas;
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Saber priorizar para avançar com consistência.
Olhar ampliado para transformar realidades
Um gestor educomunicador precisa ser ponte entre ideias e pessoas, bússola para orientar caminhos e terreno firme para quem confia no processo. Mas, acima de tudo, precisa manter o olhar lá de cima — amplo, curioso, atento aos movimentos do território.
Porque, no fim, Educomunicação é isso: gestão com humanidade, política com sensibilidade e visão com propósito.
Por Carlos Lima - Educomunicador e professor
Foto: Acervo pessoal - Recebendo a comitiva da TV Chinesa na aldeia guarani Tenondé

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