segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

O que é essencial para um gestor em Educomunicação



Quando falamos em Educomunicação, falamos de pessoas, processos e, principalmente, de olhares. Ismar de Oliveira Soares define o educomunicador como um profissional híbrido, um gestor de processos. E, ao longo da minha caminhada, percebi que gerir processos educomunicativos — especialmente na educação básica — exige muito mais do que técnica: exige sensibilidade, política e visão ampla.

Guardo comigo uma lembrança marcante. Em 2003, numa palestra do curso Educom.Radio, Serjão, da Oboré, nos trouxe uma metáfora tão simples quanto poderosa. Ele disse que o gestor pode olhar o mundo de duas formas: da rua ou do alto de um prédio.

O olhar da rua

Quando estamos na rua, enxergamos apenas o imediato. O próximo passo. O que está diante dos nossos olhos. É o famoso “só acredito no que vejo”. Esse olhar é importante, mas limitado. Ele nos prende ao agora.

O olhar do alto

Já do alto de um prédio, tudo muda. O horizonte se abre. Vemos a própria rua e todas as outras ao redor — as mais movimentadas, as vazias, as iluminadas, as confusas, as de mão dupla. Entendemos fluxos, tempos e possibilidades.

Para quem trabalha com política pública, essa visão 360 graus é mais valiosa do que qualquer relatório. É ela que permite avaliar caminhos, prever dificuldades, decidir rotas e compreender que nem todo caminho bom é o caminho certo naquele momento.

A caminhada do gestor educomunicativo

Gerir Educomunicação é caminhar entre diferentes itinerários com cuidado. No começo, a vontade de avançar rápido pode nos fazer tropeçar nas próprias pernas. Com o tempo, aprendemos que às vezes é preciso recuar dois passos para avançar um — e tudo bem. É estratégia, não retrocesso.

Ao longo de 20 anos à frente do mesmo projeto, sigo aprendendo que gestão é movimento, escuta e adaptação. E que o gestor precisa saber onde tem autoridade para decidir, mas também precisa estar aberto para enxergar oportunidades que aparecem no caminho.

Competências que fazem a diferença

Depois de tantas experiências, algumas habilidades se mostram indispensáveis:

  • Ser comunicador e ouvinte sensível;

  • Trabalhar de forma colaborativa e fugir da lógica da ilha;

  • Fortalecer o coletivo, diluindo protagonismos quando necessário;

  • Deixar sua marca sem sobrepor ninguém — sendo sal ou açúcar na medida certa;

  • Criar o essencial e reutilizar o que já foi construído;

  • Entender que o tempo político é diferente do tempo das pessoas;

  • Saber priorizar para avançar com consistência.

Olhar ampliado para transformar realidades

Um gestor educomunicador precisa ser ponte entre ideias e pessoas, bússola para orientar caminhos e terreno firme para quem confia no processo. Mas, acima de tudo, precisa manter o olhar lá de cima — amplo, curioso, atento aos movimentos do território.

Porque, no fim, Educomunicação é isso: gestão com humanidade, política com sensibilidade e visão com propósito.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Foto: Acervo pessoal - Recebendo a comitiva da TV Chinesa na aldeia guarani Tenondé 







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