De um projeto de radioescola, com escuta atenta do estudante, criou-se uma agência de notícias de crianças e adolescentes
Com o avanço da internet, os meios de comunicação
tradicionais começaram a mudar. Saímos de uma realidade de consumo midiático de
1 canal, com imposição de um conteúdo em grades e horários fixos de
programação, para o modelo de muitos produtores independentes que produzem para
muitos seguidores.
Notícias jornalísticas com texto e imagem passaram a fazer
parte de sites de programas de rádio. Em algumas emissoras, eles também
ganharam a possibilidade de serem assistidos ao vivo em vídeo. Então, já era de
se esperar que os projetos de mídia na escola também adotassem essa tendência.
As radioescolas começaram a ter blogs e redes sociais. Com
esses espaços, a expressão dos estudantes ganhava mais terreno para prosperar e
se consolidar como um território de interação deles com os seus seguidores.
Com as escolas acessando internet banda larga, crianças e
adolescentes passaram a ter experiências de observação do mundo navegando pela
web. Interessados em produzir conteúdos em diversos formatos, os
estudantes viram seus interesses se integrando aos conteúdos que eles próprios
poderiam produzir. A radioescola, que antes era um espaço de entretenimento nos
intervalos, poderia ganhar relevância na comunidade com informações, notícias e
prestação de serviço.
Foi então que em 2005, numa reunião de pauta da
radioescola, um estudante da
EMEF Pedro Teixeira disse: “Professor, podemos chamar os tiozinhos da
noite para participar da Rádio?”. A pergunta se referia aos estudantes da EJA
(Educação de Jovens e Adultos) que aguardavam para entrar na aula.
Quando questionamos o motivo do convite, o menino
disse: “É que os tiozinhos da noite
sabem contar o que acontece na comunidade”. Então, concordamos com a ideia e
passamos a viabilizar a produção de programas de rádio entre estudantes
adolescentes e adultos que estudavam na escola no período noturno. A
experiência gerou o embrião de uma agência de notícias, que foi batizada meses
depois de Imprensa Jovem.
Um espaço de expressão na escola
A Imprensa Jovem integrou novas tecnologias na escola, e a
experiência de produção de conteúdos jornalísticos pelos estudantes ampliou
possibilidades. Laboratórios de informática de toda a cidade passaram a ser
ocupados com processos de educação para alfabetização midiática. As agências de
notícias passam a ser, ao mesmo tempo, espaço de expressão dos estudantes pelas
mídias e também de formação para leitores críticos da mídia.
O Imprensa Jovem se definiu a partir do diálogo de um grupo
de crianças da EMEF Tarsila do Amaral, que conceituou:
“A Imprensa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece vira notícia. Contamos os fatos e acontecimentos pelos nossos pontos de vista. Registramos, editamos, publicamos e compartilhamos. Somos alunos e alunas que produzem notícias.”
Dessa forma, como os próprios estudantes definiram, o
projeto Agência de Notícias Imprensa Jovem tem como proposta educativa formar
estudantes questionadores. É a
capacidade de criação de perguntas que torna
este projeto uma ferramenta para
promoção de aprendizagens. Quem
pergunta, investiga o assunto e, com as respostas, tem um grande potencial de
formar pessoas.
As diversas possibilidades de promover competências em um
agência de notícias estudantil
O Imprensa Jovem promove a experiência de colaboração entre
os estudantes, o protagonismo, a expressão da comunicação, o exercício da
criatividade, o uso das tecnologias, a liberdade responsável da expressão, a
inclusão, a autonomia, a produção multimídia em diversas linguagens, o
desenvolvimento de projetos de intervenção social na comunidade pelos
estudantes, a alfabetização midiática e a leitura crítica da mídias.
Mas como iniciar um projeto na escola?
As atividades do Imprensa Jovem são voltadas para a construção de notícias, reportagens e
entrevistas. Para o desenvolvimento do
projeto é necessário contar com o apoio
de um professor medidor, ter um grupo de estudantes e reservar uma carga
horária de 1 a 4 horas semanais.
Os recursos necessários para isso podem variar, incluindo
equipamentos de uso comum dos estudantes, dispositivos móveis, tripé para
celular, headphone, microfone e aplicativos, como por exemplo editores de vídeo
e áudio (Filmora Go, Lexis, Anchor, Simple Telemprompter, entre outros). Isso
pode ser produzido em um laboratório de informática educativa ou até mesmo em
um espaço definido pela escola.
No nosso site, disponibilizamos algumas informações para
apoiar educadores que desejam começar um trabalho como esse na sua escola e
comunidade.
Por Carlos Lima - Professor, educomunicador, radialista
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