quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Manual para elaborar projetos de Educomunicação: Passo a passo e orientações


Os projetos de Educomunicação têm como principal objetivo promover a formação para a produção e leitura crítica da mídia e suas tecnologias no ambiente educacional acesse. Além disso, esses projetos contribuem para a cultura de paz na escola, incentivando a participação dos estudantes e promovendo práticas como a comunicação não violenta, entre outras possibilidades.

O desenvolvimento de projetos de Educomunicação é previsto na portaria. acesse. Para apoiar educadores na criação e tramitação de projetos de Educomunicação, apresentamos abaixo um guia com orientações práticas e estratégias eficazes.

Aulão explica como criar projetos de Educomunicação

1. Estruturando o Projeto

Definição e Justificativa:
O projeto deve ser elaborado com uma linguagem acessível, que permita o entendimento de toda a comunidade escolar. Ele precisa apresentar:

  • As intenções pedagógicas.
  • A justificativa para sua realização (por exemplo, como ele contribui para a cultura de paz, a formação midiática ou o uso responsável das tecnologias) acesse a Projeto de Lei 293, de 2024, Aritgo 3º.
  • O cronograma de atividades ao longo do ano.

Dica: Use um gerador de projetos para facilitar a organização. A ferramenta clique para acessar  pode auxiliar na criação de projetos claros e bem estruturados.


2. Recursos necessários

Antes de iniciar o projeto, mapeie os recursos que serão utilizados acesse. Entre os mais comuns para Educomunicação estão:

  • Equipamentos audiovisuais: câmeras, celulares, gravadores.
  • Ambientes apropriados: salas para reuniões, laboratórios de informática ou espaços multimídia.
  • Materiais de apoio: acessórios para identificação dos estudantes (crachás, camisetas, etc.).
  • Infraestrutura digital: uma conta institucional ou plataforma para compartilhamento de conteúdos e formação.

Importante: Caso a proposta inclua o uso de celulares para produção de mídia, justifique a relevância pedagógica do uso, respeitando a legislação vigente.


3. Processos de tramitação

Após a elaboração, o projeto deverá seguir um fluxo de aprovação:

1. Apresente o projeto ao Conselho de Escola para análise inicial.
2. Encaminhe o documento à gestão escolar, que deverá submetê-lo à supervisão escolar para avaliação técnica.
3. Após a aprovação pela supervisão, o projeto estará autorizado a ser implementado.

Dica: Certifique-se de que o projeto está claro quanto aos recursos e objetivos, pois isso facilita o processo de aprovação.


4. Cuidados na execução

  • Flexibilidade: O projeto é uma projeção inicial. Durante o ano, ajuste as atividades conforme as necessidades e o contexto.
  • Atualização: Atualize o projeto sempre que houver mudanças significativas, especialmente no uso de recursos.
  • Documentação: Mantenha registros das atividades e resultados obtidos para justificar futuras ações.

5. Apoio e fontes de recursos

Se necessário, busque apoio com a escola. A escolha dispõe  de recursos para aquisição, manutenção e organização e equipagem dos espaços acesse. É necessário que a proposta de investimento seja aprovada pelo APM (Associação de País e Mestres). Neste sentido é importante estar em diálogo com esta entidade. Também é possível dialogar com o Grêmio para apoiar o projeto de Educomunicação na escola. São instâncias de Participação que tem força na escola para liderar diálogos. 

Este manual é um guia inicial para que educadores possam planejar e desenvolver projetos de Educomunicação de maneira eficiente. 

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem : Onezio Cruz

Consulte :  Site do Núcleo de Educomunicação acesse

Para conhecimento: Uso do celular na escola I Análise acesse

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Liberdade de expressão, regulação e Educação Midiática: O futuro das redes sociais

 


Recentemente, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou mudanças significativas para o Facebook, Instagram e WhatsApp acesse. A proposta central é resgatar a liberdade de expressão nas redes sociais, substituindo as agências de checagem profissionais por um sistema de notas da comunidade acesse. Em outras palavras, as plataformas dariam mais liberdade para os usuários postarem seus conteúdos, mas deixariam a responsabilidade sobre a veracidade e os impactos dessas postagens nas mãos de quem as compartilha.

Embora a liberdade de expressão seja um direito fundamental, ela traz consigo a necessidade de responsabilidade. Quando conteúdos prejudicam indivíduos ou grupos, a responsabilidade deve recair sobre quem os produziu ou disseminou. No entanto, a ausência de regulação adequada pode transformar as redes em um espaço onde notícias falsas, discursos de ódio e desinformação proliferam sem controle.

A regulação das redes sociais: cenários e debates

A regulação das plataformas é uma realidade em algumas regiões, como na Europa, onde medidas mais rígidas visam responsabilizar as empresas pelo conteúdo que circula em suas redes. No Brasil, essa questão está em discussão. Recentemente, o deputado Paulo Paim destacou na Câmara Federal a importância dessa regulamentação para promover respeito aos direitos humanos, combater o racismo, preconceitos e discriminações, e criar um ambiente digital seguro e inclusivo. acesse

Apesar disso, as grandes plataformas resistem à ideia, alegando desafios técnicos e financeiros, além de possíveis impactos na liberdade de expressão. Enquanto isso, jovens de regiões periféricas, que muitas vezes impulsionam o alcance das redes com criatividade e engajamento, sofrem os efeitos negativos de um ambiente desregulado. Eles enfrentam conteúdos nocivos, como fake news, discursos de ódio e até a exposição a jogos de azar, enquanto a sociedade responde com leis que muitas vezes restringem o acesso em vez de educar.

Educação: A chave para a navegação segura e crítica

Problemas complexos, como a desinformação, exigem soluções igualmente complexas. A educação, nesse contexto, é essencial. Ela forma usuários críticos e conscientes, capazes de navegar na internet com segurança e responsabilidade. Projetos de Educomunicação nas escolas têm como prioridade a formação de leitores críticos da mídia, oferecendo caminhos para o uso ético e seguro da tecnologia.

Formar cidadãos éticos e conscientes é também preparar produtores de conteúdo que promovam a paz e o diálogo, em vez do conflito. Assim, a regulação das plataformas precisa vir acompanhada de iniciativas educacionais que empoderem os cidadãos a lidar com os desafios do mundo digital de maneira emancipada.

Aulão - Criação de projeto de checagem de notícias na escola - Agência Fact Checking na escola

A regulação e a educação nas escolas

Nas salas de aula, a discussão sobre regulação das redes sociais e liberdade de expressão deve ser uma pauta constante. É importante abordar temas como o uso responsável da tecnologia, a navegação segura e a ética na produção e consumo de conteúdo. Essas discussões não apenas preparam os adolescentes para o mundo digital, mas também contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

A liberdade de expressão é um pilar da democracia, mas ela só pode florescer em um ambiente onde a responsabilidade, a ética e a educação caminham lado a lado. Regular as plataformas é um passo importante, mas é apenas parte da solução. A outra parte está em formar cidadãos críticos e conscientes, capazes de transformar o ambiente digital em um espaço de respeito e construção coletiva

Projetos inspiradores  

Projeto Agência de Checagem de Notícias  - Caçadores de Noticas Falsas acesse

Projeto Fake News to fora acesse

Projeto Henfil  para combate a Fake News acesse 


Por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Imagem: Imprensa Jovem - Preparando a pauta usando o celular para pesquisa 

Educomunicação: Um caminho para a inclusão e o desenvolvimento da leitura e escrita


Estudantes que enfrentam dificuldades de aprendizagem em Língua Portuguesa frequentemente se sentem excluídos no ambiente escolar. Essa exclusão assemelha-se à experiência de um estrangeiro em seu próprio país, incapaz de compreender textos básicos e participar plenamente da dinâmica social da escola. A leitura e a produção escrita, aspectos fundamentais no processo educacional, tornam-se barreiras que limitam a inclusão social e o aprendizado.

Historicamente, escrever bem era sinônimo de uma caligrafia impecável. Aulas de caligrafia e a obrigatoriedade de escrever em letras cursivas marcaram gerações. No entanto, com o avanço das tecnologias digitais, as práticas de leitura e escrita se transformaram radicalmente. Hoje, as pessoas têm acesso instantâneo a uma ampla gama de conteúdos por meio de dispositivos móveis, e a escrita à mão foi substituída por interações digitais rápidas e sintéticas, como mensagens no WhatsApp ou comentários em redes sociais.

A sociedade atual, movida pela velocidade da informação, exige textos curtos, objetivos e interativos. Essa dinâmica, embora facilite o acesso ao conhecimento, pode comprometer a profundidade da leitura e a qualidade da produção escrita. Nesse cenário, surge a Educomunicação como uma aliada no desenvolvimento de leitores críticos e escritores competentes.

A contribuição da Educomunicação

A Educomunicação integra práticas pedagógicas e comunicacionais para transformar estudantes em produtores e consumidores conscientes de mídia. O jornalismo, em particular, oferece uma abordagem acessível e envolvente para estimular a leitura e a escrita. Ao trabalhar com gêneros textuais como notícias, crônicas e artigos de opinião, os estudantes desenvolvem habilidades fundamentais de linguagem em uma atmosfera multimídia.

Ferramentas como jornais murais, fanzines, revistas digitais e blogs tornam-se pontes entre os jovens e a escrita, incentivando a criatividade e a expressão. Além disso, essas atividades promovem o uso de uma linguagem simples e inclusiva, capaz de engajar diferentes perfis de leitores.

Imprensa Jovem: Educação midiática em ação

Um exemplo inspirador é o programa Imprensa Jovem, uma agência de notícias estudantil que há anos promove a educação midiática nas escolas. Por meio desse programa, estudantes têm a oportunidade de vivenciar o jornalismo como forma de expressão e investigação. A iniciativa não apenas fortalece as competências de leitura e escrita, mas também incentiva a colaboração, a pesquisa e o pensamento crítico.

Ao explorar diferentes suportes de leitura e escrita, como textos impressos, digitais e audiovisuais, o Imprensa Jovem potencializa o aprendizado interdisciplinar, conectando a Língua Portuguesa a outras áreas do conhecimento.

Leitura empática e inclusiva

Para engajar estudantes na leitura, é essencial oferecer conteúdos que despertem interesse e diálogo. A escolha de materiais deve considerar não apenas os critérios acadêmicos, mas também as preferências dos jovens. O jornalismo, com sua linguagem clara e temas relevantes, é uma ferramenta poderosa para tornar a leitura mais acessível e significativa.

A Educomunicação, ao integrar práticas comunicativas à educação, promove uma formação mais conectada às demandas da sociedade contemporânea. Nesse processo, ler e escrever deixam de ser apenas obrigações escolares e se tornam instrumentos de inclusão, expressão e transformação social.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Foto: Imprensa Jovem 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Educomunicação, Cinema e Educação: Reflexões sobre formação crítica nas escolas

O cinema tem o poder de trazer à tona memórias e debates sobre períodos marcantes da história, como a ditadura militar no Brasil, destacando sua repressão política e a luta pela liberdade de expressão. Essa abordagem vai além dos livros e documentos, ajudando a sociedade a refletir sobre temas sensíveis que ainda ecoam em nosso presente.

O filme "Ainda Estou Aqui", história do deputado Rubem Paiva, desaparecido durante a ditadura, e a busca incansável de sua companheira por respostas revelam as cicatrizes desse período. O cinema brasileiro, por sua vez, tem registrado essas narrativas, conquistando reconhecimento internacional, como no Globo de Ouro, e abrindo espaço para reflexões profundas.  que premio a atriz  Fernanda Torres demonstra a relevância dessa arte como uma ferramenta de intervenção cultural e social.

Trailler do filme "Ainda Estou Aqui"

Seja para documentar os horrores do passado ou para refletir sobre o presente, o cinema também pode ser usado de forma ideológica, como ocorreu na Alemanha nazista sob a liderança de Joseph Goebbels acesse. No entanto, essa mesma linguagem pode servir como um poderoso instrumento de educação crítica, contribuindo para debates e novas interpretações históricas.

Na perspectiva da Educomunicação, o cinema é uma ferramenta pedagógica que pode mobilizar a ação formativa sobre temas áridos, tabus ou pouco explorados no ambito educacional durante as aulas. Como destaca o professor Ismar Soares (USP), essa prática tem raízes históricas, desde as preocupações do Papa Pio XI acesse sobre o impacto do cinema na sociedade. No Brasil, a Lei 13.006/2014 reforça essa ideia ao prever a exibição de duas horas semanais de filmes nacionais nas escolas, uma ação que conecta a produção audiovisual às políticas públicas de educação.

Iniciativas como cineclubes ou a exibição de filmes em sala de aula podem promover uma educação de qualidade alinhada ao ODS 4 da ONU acesse, que busca garantir a formação integral dos estudantes. Com planejamento pedagógico, debates e conexão ao currículo, o cinema na educação transforma a experiência de aprender, estimulando o pensamento crítico e o engajamento social.

Saiba mais sobre a Lei 13.006/2014 e explore o potencial do cinema como aliado da educação: Grupo Cinema Paradiso.

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Imagem: Onezio Cruz

Sugestões de leitura

Artigo do professor Ismar de Oliveira Soares - Vertentes históricas de aproximação entre Comunicação e Educação  acesse

Cineclubismo - Organização e funcionamento acesse

domingo, 5 de janeiro de 2025

Imprensa Jovem e Finlândia: O que a Educação Midiática brasileira pode ensinar ao mundo


Os dados mais recentes do PISA (2024) revelam uma mudança no cenário educacional global: a Finlândia, por décadas um exemplo inquestionável de excelência, perdeu posições no ranking de qualidade educacional acesse. Fatores como mudanças na sociedade, maior integração tecnológica entre as juventudes, impactos econômicos nos investimentos em educação e o crescimento de populações imigrantes são apontados como desafios que dificultam a manutenção do país no topo.

Essas transformações são inevitáveis e refletem a necessidade de adaptação constante. Afinal, jovens de hoje – sejam crianças ou adolescentes – vivem contextos históricos e sociais diferentes dos de gerações anteriores. Para compreendê-los e educá-los de forma eficaz, é imprescindível escutá-los e permitir sua participação ativa na construção do conhecimento.

Embora o Brasil ainda esteja distante de alcançar o patamar de excelência educacional da Finlândia, seria um erro subestimar as iniciativas inspiradoras que emergem do cenário nacional. O Programa Imprensa Jovem, por exemplo, demonstra há duas décadas que, no campo da Alfabetização Midiática e Informacional (AMI), o Brasil não apenas acompanha tendências globais, mas frequentemente inova e se destaca.

Ao longo de 20 anos, o Programa Imprensa Jovem, idealizado pela Prefeitura de São Paulo, tem mostrado que é possível estar na vanguarda da AMI mesmo em um contexto de desafios estruturais. Inspirado por práticas como as da Finlândia – referência global na integração de AMI ao currículo escolar –, o programa brasileiro diferencia-se por sua abordagem prática, inclusiva e culturalmente adaptada.

Sua metodologia promove protagonismo juvenil, pensamento crítico, uso ético da tecnologia e um profundo compromisso com a formação cidadã. Isso coloca o Imprensa Jovem não apenas como um exemplo de política pública bem-sucedida, mas como uma iniciativa capaz de transformar o cenário educacional brasileiro e inspirar práticas globais.

Assim, enquanto a Finlândia enfrenta novos desafios, o Programa Imprensa Jovem reafirma que a educação no Brasil possui, sim, potencial para liderar inovações e redefinir os rumos da Alfabetização Midiática e Informacional no mundo. Afinal, o futuro da educação depende de iniciativas que não apenas acompanhem mudanças sociais, mas que as antecipem e as transformem em oportunidades de aprendizado e evolução.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Imagem : Arte desenvolvida por Onezio Cruz

Aulas conectadas com o mundo por meio do jornalismo

 


O jornalismo desempenha um papel essencial na sociedade: informar as pessoas sobre temas relevantes do dia a dia, de forma acessível e compreensível. No entanto, nem sempre os assuntos tratados são simples. Áreas como economia, ciência, tecnologia, geopolítica e cultura, por exemplo, frequentemente envolvem temas complexos e desafiadores. É justamente nesse cenário que o jornalismo se destaca ao traduzir esses tópicos em uma linguagem mais acessível para o público em geral.

Veículos como o Jornal Nacional, que ocupam horários nobres, exemplificam como o jornalismo consegue alcançar diferentes públicos – desde classes populares até segmentos mais elitizados – com uma abordagem democrática. A chave para esse alcance está na capacidade do jornalismo de decodificar, estruturar e apresentar informações de forma rápida e impactante. E é justamente essa característica que torna o texto jornalístico uma ferramenta poderosa para a educação de crianças e adolescentes.

Ao incorporar textos jornalísticos, reportagens televisivas, fotos e programas de rádio em sala de aula, os educadores conseguem abordar temas complexos com uma linguagem clara e direta, respeitando um dos princípios básicos do jornalismo: facilitar a compreensão. Esse processo não apenas torna o aprendizado mais dinâmico, mas também oferece aos estudantes a oportunidade de comparar informações de diferentes fontes. Essa prática estimula a análise crítica e amplia a compreensão sobre o tema, ao permitir que os alunos identifiquem os vieses dos veículos de comunicação.

Certa vez, um coordenador pedagógico me contou sobre as dificuldades de compreensão que os alunos de sua escola enfrentavam com textos jornalísticos. Ele explicou que, embora esses textos sejam impessoais e objetivos, simplesmente trazê-los para a sala de aula não é suficiente. É necessário conectar os temas a assuntos que façam sentido para os estudantes. Diferente de uma história literária, que carrega uma conexão afetiva e linguagem subjetiva entre autor e leitor, o assunto jornalisticos é impessoal exige estratégias específicas para gerar engajamento.

É aqui que entra a mediação educomunicativa, que constrói pontes entre o texto, o contexto e o estudante. Essa abordagem promove discussões, leituras e diálogos significativos. O jornalismo oferece um terreno fértil para essas interações, seja por meio de leitura crítica ou da produção de conteúdos midiáticos.

Trazer o jornal para a sala de aula, portanto, pode ser uma ferramenta potente para desenvolver a competência leitora dos alunos. Quando bem planejadas, as aulas podem conectar conteúdos jornalísticos aos temas do currículo escolar, ampliando o repertório cultural e crítico dos estudantes. Estratégias como perguntar as impressões dos alunos sobre um tema, apresentar reportagens para contextualização, realizar leituras coletivas e explorar diferentes mídias tornam o processo de aprendizado mais construtivista.

Dessa forma, o jornalismo na educação não é apenas uma forma de transmitir conhecimento, mas também de formar cidadãos críticos, capazes de interpretar e questionar o mundo ao seu redor. Isso, sem dúvida, conecta as aulas à realidade e prepara os estudantes para os desafios do presente e do futuro.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor

Foto:  Pixabay

sábado, 4 de janeiro de 2025

Educomunicação e Design Thinking: Redesenhando a experiência de aula


Apesar de seguir um programa curricular, a aula deve ser planejada com empatia, considerando as intenções pedagógicas e as necessidades dos alunos. Afinal, de que adianta entregar conhecimento se ele não ressoa com quem está aprendendo?

A experiência em sala de aula frequentemente segue um “cerimonial” pré-definido: chamada, introdução do conteúdo, explicação, exercício e encerramento. Esses 45 minutos podem ser desmotivadores, especialmente quando o conteúdo é apresentado de forma árida ou distante da realidade do estudante. Não é incomum que muitos não enxerguem a relevância do que estão aprendendo, tornando a aula um momento de desconexão, em vez de inspiração.

E se redesenharmos a aula?
A proposta é adotar processos educomunicativos para transformar a aula em uma experiência mais envolvente. Isso significa comunicar não apenas de forma efetiva, mas também afetiva. O professor pode começar com um contexto significativo, como um brainstorming para mapear os interesses dos estudantes, e seguir por um caminho pedagógico que desperte a curiosidade e promova a apropriação do conteúdo.

Aqui entra o Design Thinking como um aliado poderoso. Essa abordagem centrada no ser humano ajuda a co-criar soluções educativas que tornam o aprendizado mais significativo. Em vez de apenas transmitir o conteúdo, o professor passa a desenvolver experiências que solucionem um problema: "Por que os estudantes não conseguem aprender ou se engajar com este conteúdo?"

O papel do Design Thinking na educação
A metodologia do Design Thinking propõe cinco etapas para criar aulas mais interessantes:

  1. Empatia: Entender os interesses, desafios e necessidades dos estudantes.
  2. Definir: Identificar o problema central da aprendizagem.
  3. Idear: Gerar soluções criativas e colaborativas para tornar o conteúdo mais acessível.
  4. Prototipar: Criar atividades ou estratégias pedagógicas inovadoras.
  5. Testar e Implementar: Avaliar as soluções em sala e ajustar conforme necessário.

Essas etapas podem ser aplicadas em colaboração com professores da mesma área do conhecimento ou diretamente com os estudantes. Por exemplo, ao preparar uma formação para avaliações institucionais ou ao desenvolver projetos de intervenção comunitária.

Educomunicação e Design Thinking: um casamento possível
A combinação de Educomunicação com Design Thinking potencializa a criatividade, promove a interação e transforma a aula em um espaço mobilizador. Sai o ambiente rígido e entra um cenário agradável, estimulante e colaborativo. A co-criação não apenas aprimora o design da aula, mas também fortalece o ecossistema comunicativo, conectando o desejo de ensinar do professor ao interesse de aprender do estudante.

O resultado? Uma aula com movimento, que inspira, engaja e prepara o estudante para aplicar o aprendizado em sua vida e comunidade. Essa união de metodologias é um convite para sair da zona de conforto e revolucionar a prática docente.

Então, vamos redesenhar as aulas? Afinal, o desejo de aprender começa com um bom problema a ser resolvido, e o diálogo e a integração são as chaves para alcançá-lo

Por Carlos Lima : Educomunicador é professor 

Foto:  Pixabay 


O papel da Educomunicação no combate à polarização e à cultura do ódio nas escolas




A escola, longe de ser uma ilha isolada, é um reflexo das dinâmicas sociais e culturais que permeiam a comunidade ao seu redor. Ignorar os fenômenos culturais que chegam às salas de aula significa correr o risco de desconectar-se dos estudantes, comprometendo o seu papel educativo. A polarização crescente, que já define muitos aspectos da sociedade, tem se manifestado entre adolescentes de forma preocupante, criando divisões e "panelinhas" com base em crenças, ideologias ou até preferências culturais.

Nesse cenário, a Educomunicação emerge como uma abordagem poderosa para mediar conflitos e promover a convivência. Inspirada na filosofia do "Bem Viver" dos povos Maias, a Educomunicação aposta em práticas de diálogo, colaboração e escuta ativa, que desafiam os modelos tradicionais de ensino e criam pontes entre as diferenças.

A escola como espaço de diálogo

Os jovens chegam à escola carregando suas crenças, visões de mundo e, muitas vezes, as tensões do ambiente polarizado em que vivem. Ignorar essas características é perder a oportunidade de estabelecer uma relação significativa e transformadora com eles. Mais do que nunca, é essencial colocar o estudante no centro das atenções, promovendo um ambiente onde ele possa se expressar e se relacionar com colegas que são igualmente diversos.

A Educomunicação propõe transformar a sala de aula em um espaço de construção coletiva, onde o conhecimento não é apenas transmitido, mas construído em conjunto. Projetos que incentivam a produção de conteúdos como podcasts, documentários, histórias em quadrinhos ou jornais permitem que os estudantes debatam temas polêmicos, como política, religião ou esportes, de forma respeitosa e criativa.

Comunicação Não-Violenta e mediação

A abordagem educomunicativa se alinha aos princípios da Comunicação Não-Violenta (CNV), que valoriza o respeito às opiniões e promove mediações que garantem o diálogo produtivo. Sob essa perspectiva, todos os temas podem ser debatidos, desde que haja uma mediação estruturada que favoreça o respeito e a compreensão mútua.

Ao trabalhar em projetos colaborativos, os estudantes desenvolvem uma leitura crítica sobre os temas do mundo, compreendem diferentes pontos de vista e, mais importante, aprendem a construir juntos, ao invés de simplesmente combater opiniões divergentes. Esse processo não apenas combate a cultura do ódio, mas também previne episódios de violência escolar frequentemente motivados pela incompreensão do outro.

A força da Educomunicação para a transformação

A Educomunicação vai além de propor atividades; ela transforma a escola em um espaço onde o diálogo, o respeito e a diversidade são celebrados. Em um mundo polarizado, essa abordagem é essencial para preparar os jovens para o futuro, promovendo a convivência e o aprendizado em um ambiente plural.

Trazer a Educomunicação para o centro das práticas pedagógicas significa equipar os estudantes com ferramentas para dialogar, mediar conflitos e construir pontes, ao invés de muros. Afinal, é por meio do trabalho coletivo que encontramos soluções, compreendemos o outro e, juntos, construímos uma sociedade mais justa e inclusiva.

Que tal dar espaço para a Educomunicação e fazer da escola um território de transformação?

Por Carlos Lima: Educomunicador e professor
Foto : Imprensa Jovem 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Educomunicação : Qualidade dos processos para uma escola transformadora


A Educomunicação, como prática pedagógica, propõe a integração das linguagens midiáticas e comunicativas ao processo de ensino-aprendizagem, promovendo uma formação cidadã e crítica. No entanto, para garantir sua efetividade, é essencial priorizar a qualidade dos processos educomunicativos.

1. Planejamento Intencional

Todo projeto educomunicativo deve partir de um planejamento claro, que articule objetivos pedagógicos com os interesses dos estudantes. A definição de metas tangíveis, como o desenvolvimento do senso crítico ou a produção de conteúdos midiáticos, assegura que as atividades tenham propósito e relevância.

2. Formação continuada dos educadores

Educadores formados são a base para processos educomunicativos de qualidade. A formação deve incluir aspectos teóricos e práticos, abordando o uso ético das tecnologias, alfabetização midiática e a produção colaborativa. Além disso, é fundamental cultivar a escuta ativa, que valoriza as vozes dos estudantes.

3. Participação estudantil

A Educomunicação prioriza o protagonismo juvenil. Estudantes devem ser incentivados a participar ativamente da criação de conteúdos e decisões do projeto, fortalecendo sua autonomia e senso de pertencimento. Um bom exemplo é a produção de podcasts escolares, que permite aos jovens debaterem temas de interesse coletivo.

4. Parcerias e redes de colaboração

A qualidade dos processos também está vinculada à criação de parcerias com organizações, universidades e comunidades locais. Essa interação amplia os horizontes dos estudantes, conectando a escola ao mundo e promovendo aprendizagens mais significativas.

5. Avaliação e reflexão

O acompanhamento sistemático das atividades educomunicativas é crucial para garantir melhorias contínuas. A avaliação deve ser colaborativa, envolvendo educadores e estudantes, e considerar tanto os processos quanto os resultados. Perguntas como "O que aprendemos?" e "Como podemos melhorar?" devem guiar essa análise.

6. Conexão com os ODS

Vincular projetos educomunicativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) agrega valor às iniciativas, mostrando como a comunicação pode ser um instrumento para a transformação social e ambiental.

Um caminho transformador

Educar é mais do que transmitir conhecimento; é construir sentidos e transformar realidades. A Educomunicação, quando bem planejada e executada, cumpre esse papel ao conectar conteúdos escolares às vivências dos estudantes, promovendo uma educação significativa e transformadora.

Que tal começar a pensar em como você pode integrar esses princípios em sua sala de aula? Afinal, qualidade nos processos educomunicativos é o primeiro passo para formar cidadãos críticos e conscientes em um mundo cada vez mais conectado.

Por Carlos Lima: Professor e Educomunicador
Imagem: Professor Ismar com uma criança repórter do Imprensa Mirim







quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A Educomunicação luta pelo seu espaço na escola

 


Embora a Educomunicação esteja presente em escolas públicas paulistanas há mais de duas décadas, especialmente com iniciativas como o Educom.Rádio acesse, ela ainda enfrenta resistencia. Desde 1997, desenvolvo projetos como rádio escolar. Lembro que minha primeira experiência foi em aulas de Língua Portuguesa na EE Ataulpho Alves, onde utilizava o rádio para ensinar literatura. Mais tarde, em 1999, na EE Shinquichi Agari acesse, a rádio escolar tornou-se uma estratégia para enfrentar três grandes desafios no Ensino Médio noturno: a ausência de estudantes às sextas-feiras, o alto número de alunas grávidas e a depredação da escola.

Com a chegada do Educom.Rádio às escolas municipais, seu objetivo ampliou-se: apoiar escolas em regiões vulneráveis no combate à violência. Essas intervenções educomunicativas mostraram-se potentes, promovendo aprendizagens significativas, construindo uma cultura de paz e fortalecendo o vínculo entre estudantes e a escola.

Documentário institucional Educom.Rádio

A Comunicação e os desafios atuais

Vivemos em uma era marcada pela desinformação. As fake news e a manipulação da informação são desafios que exigem uma formação cidadã crítica. É nesse contexto que a Educomunicação se torna essencial, promovendo uma educação midiática que estimula a análise crítica e o uso responsável das tecnologias digitais.

Em 2005, nasceu o Imprensa Jovem, uma agência de notícias estudantil. Nela, estudantes, mediados por professores, produzem conteúdos, dialogam com conhecimentos curriculares de forma interdisciplinar e desenvolvem uma postura crítica e responsável sobre o que consomem e produzem. Essa prática foi respaldada em uma pesquisa de 2016, durante a construção do currículo da cidade de São Paulo, na qual 40,2% dos 43.655 estudantes participantes destacaram a importância de projetos de comunicação em sua formação. Acesse

Avanços institucionais e reconhecimentos

Ao longo dos anos, a Educomunicação consolidou-se como política pública de educação, com marcos como:

  • Lei Educom (13.941/2004) acesse
  • Programa Nas Ondas do Rádio (5791/2009) acesse
  • Programa Imprensa Jovem (7991/2016) acesse

Além disso, iniciativas como os Programas Ampliar acesse Mais Educação São Paulo e São Paulo Integral com destaque ao Território Comunicação, Oralidade e Novas Linguagens, acesse inclui práticas educomunicativas como propostas a serem desenvolvidas nas escolas. A instrução normativa dos POEDs (Professores Orientadores de Educação Digital) acesse, gambém incentivam projetos educomunicativos, integrado ao uso de tecnologias digitais. 

Os resultados dos projetos de Educomunicação, em especial do programa Imprensa Jovem têm sido reconhecidos nacional e internacionalmente com prêmios desde 2008 (Veja outros reconhecimentos no final). Durante a pandemia, por exemplo, o prêmio da Aliança Global pela Mídia e Informação (2020) acesse destacou o protagonismo dos estudantes no desenvolvimento de ações educomunicativas focadas no ODS 3 - Saúde e Bem-Estar a partir da formação Estudante Mediador dos ODS. Acesse

A Educomunicação propõe um ambiente acolhedor e inclusivo, que valoriza o protagonismo estudantil e respeita os saberes e o tempo de cada aluno.

Superando barreiras

Para que a Educomunicação seja plenamente integrada ao ambiente escolar, alguns pontos são essenciais:

  1. Alinhamento ao Projeto Político Pedagógico (PPP): Os arranjos pedagógicos devem estar claros e explícitos no planejamento escolar. Mas vale informar que os projetos e iniciativas educomunicativa são customizáveis ao publico que participa;
  2. Formação Continuada: É indispensável para difundir a cultura educomunicativa e superar resistências. Esta deverá ser acompanha por investimentos em recursos, intercâmbio entre projetos entre professores da rede; 
  3. Integração as praticas educomunicativas de forma interdisciplinar: é importante trazer a Educomunicação para as jornadas formativas de professores na escola. Isto traz novas referências sobre o potencial do projetos e ações educativas o que diminui o preconceito pedagógico. 
  4. Valorização Institucional: O projeto deve ser encarado como parte integrante da escola, e não apenas como iniciativa de professores ou grupos específicos. A continuidade do projeto é importante para o fortalecimento da educação com a educomunicação.

Projetos educomunicativos representam uma riqueza pedagógica inquestionável. Eles fomentam aprendizagens significativas, promovem a expressão crítica e colaborativa, e conectam estudantes e escolas com as realidades de suas comunidades.

Entretanto, como mencionado por uma colega em uma discussão, "projetos requerem flexibilidades que não existem formalmente na rede; ficamos à mercê da gestão ou da boa vontade de cada um." Superar esses desafios exige um esforço coletivo para reconhecer e valorizar o potencial transformador da Educomunicação na formação de cidadãos críticos e participativos.

Nas palavras do mestre Ismar Soares vemos um sentido para continuar lutando pelo direito a Educomunicação na escola pública. 

Se essa resistência existe é sinal de que a estrutura educacional sente o impacto da transformação que vem das bases da escola. E nessa dialética, a síntese será o fortalecimento da prática educomunicativa.

Esperançar é preciso !

 

Por Carlos Lima – Professor e Educomunicador

Imagem acervo Núcleo de Educomunicação: Crianças criando programas de rádio em evento no Grupo Estadão em 2007

Reconhecimentos: 

Prêmio Marizinha Fusari - 2008

Prêmio ARede - Midias Sociais - 2009

Tour da Tocha Olimpica - 2016

Prêmio Desafio de Aprendizagem Criativa - 2019

Prêmio Aliança Global pela Mídia e Informação - 2020

Prêmio Prêmia Sampa - Política Pública - (Finalista)  -  2022

Prêmio LED Educação  - Semifinalista - 2022


Manual para elaborar projetos de Educomunicação: Passo a passo e orientações

Os projetos de Educomunicação têm como principal objetivo promover a formação para a produção e leitura crítica da mídia e suas tecnologias ...