segunda-feira, 31 de março de 2025

Rádio Escola no Pátio: Interação e Sucesso Total

 

O horário de intervalo é um momento essencial para a socialização dos estudantes. Após a "hora do lanche", as crianças brincam e os adolescentes conversam animadamente. Desde a proibição do uso de celulares no recreio, a interação presencial tem aumentado, fortalecendo os laços entre os alunos. Esse cenário demonstra que a comunicação face a face é saudável e que uma rádio escolar pode potencializar ainda mais o convívio e o clima positivo na escola.

A Rádio Escola é uma iniciativa que atua no intervalo, proporcionando entretenimento e informação para os estudantes. No entanto, seu objetivo não é ser uma extensão do currículo escolar, pois esse é um momento em que os alunos desejam relaxar e se conectar com os colegas. A música e os conteúdos informativos de interesse da comunidade estudantil tornam esse projeto um investimento valioso para o ambiente escolar.

Aliás, a Lei Educom 13.941 foi criada em grande parte devido ao impacto positivo da Rádio Escola no combate à violência. Operando na frequência da Comunicação Não Violenta, a rádio se torna um serviço de comunicação e intervenção para promover a paz na escola.

Nesta crônica, vamos apresentar um passo a passo para criar e operar uma Rádio Escola


Projeto Radiofalante de Porto Velho da Escola Estadual Orlando Freire 

Estruturando o Projeto

Antes de pensar em recursos e equipamentos, é fundamental estabelecer um projeto com um propósito claro e detalhado sobre o funcionamento da rádio ao longo do ano.

Aulão de Educomunicação - Radio Escola

Síntese do Projeto

A Rádio Escola "Intervalo Legal" proporcionará aos estudantes momentos de diversão e informação sobre temas relevantes para a comunidade escolar. Além disso, ajudará a promover a cultura de paz e o convívio saudável, complementando ações voltadas para a redução do uso excessivo do celular. O projeto funcionará durante os intervalos e terá programas produzidos pelos próprios estudantes, incluindo música e notícias de interesse geral.

Estrutura do Projeto

Para garantir uma organização eficiente, o projeto deve conter:

Título do Projeto
Justificativa
Objetivo Principal
Objetivos Específicos
Metodologia
Carga Horária
Cronograma
Participantes do Projeto
Bibliografia

Modelo de projeto : Clique aqui

Ao longo do ano, o projeto deve incluir formações para os estudantes, encontros de planejamento, espaços para criação de conteúdos e, claro, a realização dos programas ao vivo ou gravados.

Metodologia

A Rádio Escola é uma ação educomunicativa que incentiva o protagonismo estudantil, a participação ativa, o diálogo e a pluralidade cultural. O projeto busca incluir todos os alunos, garantindo um espaço de expressão democrática e inclusiva.

Produção dos Programas

Os programas podem ser produzidos ao vivo ou gravados para reprodução posterior. Em ambos os casos, um roteiro bem estruturado é essencial.

Estruturando um Roteiro

Após a definição das pautas, o roteiro organiza o fluxo do programa, garantindo que todos os envolvidos saibam sua função. O roteiro deve seguir a lógica de uma conversa com início, meio e fim:

  1. Abertura: Saudação e apresentação dos temas do programa.

  2. Conteúdo: Desenvolvimento das pautas musicais e informativas.

  3. Encerramento: Agradecimentos e despedida.

Exemplo de Roteiro

Cabeçalho:

  • Projeto

  • Data

  • Horário

  • Responsável

  • Participantes

Estrutura do Programa:

  1. Abertura

  2. Música

  3. Informação

  4. Música

  5. Notícias

  6. Música

  7. Encerramento

Modelo de roteiro clique aqui

Recursos Necessários

Gravação de Programas

Após a elaboração do roteiro, os programas podem ser gravados no laboratório de informática utilizando softwares de edição, como o Audacity. Os equipamentos necessários incluem:

  • Microfones (headset ou de mesa)

  • Computador

  • Conteúdo musical para reprodução durante o intervalo

O uso de músicas em um contexto educativo, sem fins comerciais, não infringe direitos autorais. Para a organização da programação, o software ZaraRadio pode ser uma excelente ferramenta.


TUTORIAL AUDACITY (editor de audio)


Mais tutoriais clique aqui

TUTORIAL ZARA RADIO(programador de rádio)


Mais tutoriais clique aqui

Transmissão no Pátio

Para a veiculação do programa, é possível:

  • Conectar o computador ao sistema de som da escola.

  • Gravar o programa em MP3 e reproduzi-lo por meio de um pen drive conectado ao sistema de som disponível.

Rádio Escola ao Vivo

A transmissão ao vivo requer um espaço adequado no pátio, onde os estudantes podem se revezar nas funções de locução, sonoplastia e reportagem. Os equipamentos básicos para essa modalidade incluem:

  • Mesa de som

  • Caixas acústicas

  • Computador

  • Microfones

Os estudantes devem chegar cerca de 10 minutos antes do início do programa para preparar os equipamentos e organizar a transmissão.

Tutorial uso de mesa de som

Carlos Lima explica passo a passo como usar, regular, conectar a mesa de som aos equipamentos de som

Acesse recursos necessários para instalação de equipamentos no pátio da escola:
Clique aqui

Impactos e Benefícios

A Rádio Escola proporciona aprendizagens significativas, incentivando o trabalho em equipe, o desenvolvimento da comunicação, a pesquisa e a autonomia dos estudantes. Além disso, oferece uma nova maneira de aprender, reforçando a cultura de paz e a inclusão social dentro do ambiente escolar.

Com organização e dedicação, a Rádio Escola se torna um poderoso instrumento de transformação, promovendo interação, engajamento e aprendizado para todos os envolvidos.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem - Arquivo pessoal - projeto Radio Escola Nas Ondas do Rádio - 2003

sábado, 29 de março de 2025

Quando o Rio Levou Tudo - Uma História Oral a partir de um desastre ambiental



Era uma noite chuvosa em 1982, depois de um dia ensolarado em que passei a tarde com meu tio, soltando pipa e visitando uma represa perto da casa da minha avó. Voltamos ao entardecer para tomar banho, jantar e descansar.

Minha avó morava em um cortiço coletivo na Vila Jacuí, onde cinco casas dividiam o mesmo quintal. Atrás da parede dos quartos passava o Rio Jacu, um curso d’água sinuoso que vinha de São Mateus e seguia até desaguar no Tietê. A Vila Jacuí naquela época ainda tinha um ar bucólico, com sítios, áreas de mata, ruas de terra e casas simples. A viela onde ficava a casa da minha avó tinha acesso à Avenida Laranja da China e contava com cerca de dez residências, muitas delas também cortiços como o nosso.

As construções eram modestas, sem laje, erguidas com tijolos vindos das olarias da Vila União, região conhecida como Pantanal. O nome vinha das lagoas e do terreno alagadiço próximo ao Tietê. O Rio Jacu, que cortava nosso bairro, era mais um córrego do que um rio caudaloso, e eu costumava atravessá-lo a pé nas brincadeiras de infância.

Naquela noite, o céu se fechou de repente e a tempestade desabou. Minha avó havia acabado de chegar do trabalho no apartamento de um empresário norueguês no Centro da cidade. Sempre trazia alguma coisa gostosa que o patrão deixava levar. Eu adorava visitar minha avó. Gostava de soltar pipa, brincar na rua e dar "tibum" na represa nos dias de calor.

Quando a chuva começou a engrossar, minha avó e meu tio espalharam bacias e panelas pelos cômodos para aparar os pingos que caíam do telhado. Casas antigas sempre tinham goteiras, e o madeiramento, desgastado pelo tempo, fazia com que as telhas se deslocassem. Logo, todos adormeceram ao som da chuva.

O sono pesado de todos impediu que percebêssemos a tragédia iminente. Enquanto dormíamos, o rio avançava com força contra a parede do quarto. De repente, um estrondo. A parede desmoronou, e a água invadiu tudo. Só percebi o que estava acontecendo quando senti o colchão encharcado. Acordei assustado, confuso, vendo um rio nervoso diante dos meus olhos. Por um instante, achei que era um pesadelo. Mas era real.

Minha avó e meu tio gritavam desesperados:
— Carlinhos! Sai rápido!

Corremos para a frente da casa e ficamos ilhados, até que vizinhos conseguiram nos resgatar. Foi por pouco. Minutos depois, vimos toda a casa ser levada pela correnteza. Perdemos tudo, mas saímos vivos. Com o amanhecer e o recuo das águas, o cenário era desolador. Toda a pequena vila de moradores havia sido destruída pela enchente. Minha avó, embora triste pela perda de tudo, agradeceu a Deus por ninguém da família ter morrido.

Jornal Mural criado pelos professores no curso Educomunicação Socioambiental


Anos depois, já morando em outra parte da Vila Jacuí, mais alta e aparentemente mais segura, uma grande obra foi realizada para ligar o ABC a São Paulo: a Estrada Jacu Pêssego. A construção da via transformou a paisagem, retificando o curso do Rio Jacu e melhorando a mobilidade urbana. Quando foi finalmente interligada à Rodovia dos Imigrantes, tornou-se um importante eixo de escoamento da produção para Guarulhos e o Porto de Santos. A canalização do rio ajudou a revitalizar os bairros cortados pela estrada.

Mas o progresso trouxe suas contradições. Com o crescimento urbano, as ruas foram asfaltadas, os quintais cimentados, e a "esponja natural" da região — antes formada por plantações e lagoas — perdeu sua função. A sinuosidade do rio, que antes ajudava a desacelerar a água, deu lugar a um canal reto, aumentando a força das correntezas e agravando os riscos de enchentes.

Minha avó participou de um movimento de luta por moradia e conseguiu um terreno exatamente do outro lado do rio, perto do local onde quase sofremos a tragédia anos antes. Quase vinte anos depois, uma nova tempestade atingiu a região. O Rio Jacu, com sua capacidade reduzida, não suportou o volume de água, e a Avenida Jacu Pêssego ficou completamente alagada. Como morávamos no final da avenida, fomos novamente atingidos. Mais uma vez, minha avó perdeu tudo.

As enchentes continuaram. No ano passado, outro grande alagamento atingiu moradores que vivem a 500 metros da avenida. A água subiu um metro e meio dentro das casas, deixando dezenas de famílias desabrigadas.

O que essa história nos ensina? Que o poder público ainda falha em pensar em todas as nuances do impacto de grandes projetos. O histórico da canalização do Rio Tamanduateí é um exemplo disso: a obra criou uma alternativa de mobilidade, mas, até hoje, a população sofre com enchentes. O progresso não pode ser apenas concreto e asfalto. Ele precisa considerar a vida das pessoas e o equilíbrio ambiental. Afinal, de que vale uma cidade moderna se ela continua alagada toda vez que chove?

Professoras produzem o Jornal Mural a partir da minha História Oral

Rachel Trajber realiza aula para professores da Rede Municipal de Ensino de SP

Esta crônica foi inspirada na atividade promovida pelos pesquisadores da CEMADEN Rachel Trajber e Felipe Santos,  no curso Educomunicação Socioambiental: Precisamos falar de emergência climática na escola. Durante a atividade, criamos um roteiro para entender o problema que vivi e realizamos uma entrevista onde pude contar minha história. O grupo produziu um jornal mural para ilustrar a situação que enfrentei.

Carlos Lima, Rachel Trajber e Felipe Santos Educomunicação e CEMADEN juntos

Essa é uma estratégia chamada História Oral, que consiste no relato de uma pessoa que sofreu um desastre ambiental. Esse relato pode se transformar em minidocumentário, podcast, jornal mural, texto para blog ou até mesmo uma história em quadrinhos. A proposta é utilizar a educomunicação para socializar as histórias das pessoas da comunidade e suas experiências de vida. Essas narrativas criam conexões emotivas e fazem as pessoas refletirem sobre os problemas ambientais e sociais que enfrentamos.

Por Carlos Lima - Professor e Educomunicador 

Imagem: Reprodução Wikipedia

Conheça mais sobre História Oral acesse

Baixe a publicação Educação em clima de risco de desastres - Programa  CEMADEN EDUCAÇÃO

Acesse



quinta-feira, 27 de março de 2025

Reflexões sobre a série Adolescência: um olhar educomunicativo

No Ponto de Encontro - Imprensa Jovem, tivemos uma discussão intensa sobre a série Adolescência, uma produção que retrata os desafios, dilemas e descobertas dessa fase da vida. Como educadores e educomunicadores, percebemos o potencial desse conteúdo para ampliar diálogos fundamentais com nossos estudantes e suas famílias. 

A série Adolescência mergulha no universo dos jovens em uma fase de intensas transformações. A trama acompanha um grupo de adolescentes em sua jornada de autoconhecimento, explorando temas como identidade, amizades, pressão social, saúde mental e o impacto das redes sociais em suas vidas. Com uma narrativa envolvente e realista, a série evidencia os desafios enfrentados pelos jovens dentro e fora da escola, destacando a importância do apoio familiar, da escuta ativa e do respeito às diferenças. A série foi discutida em um bate-papo virtual entre professores.

O papel da família e a aproximação da escola

Um dos pontos mais debatidos foi a importância da família nesse processo. A adolescência é um período de transição, e os jovens precisam do suporte não apenas da escola, mas também do ambiente familiar. Muitas vezes, os responsáveis encontram dificuldades para dialogar sobre os temas abordados na série, como bullying, redes sociais, saúde mental e relações interpessoais.

Diante disso,  a necessidade de a escola criar espaços de escuta e formação para as famílias, promovendo diálogos intergeracionais. Algumas iniciativas:

  • Círculos de Conversa: encontros entre estudantes, professores e famílias para refletirem sobre os episódios da série e suas conexões com a realidade dos jovens.

  • Cine-Debate: exibições de trechos da série seguidas de discussões mediadas por professores.

  • Oficinas de Comunicação Não Violenta: formações voltadas para famílias e professores sobre como dialogar com os adolescentes de forma empática e acolhedora.

  • Podcasts e Fanzines Criados pelos Estudantes: produções midiáticas que estimulem os jovens a expressarem suas vivências e convidem os responsáveis a participarem dessa construção.

Combate ao bullying e promoção do respeito

Outro tema que gerou forte engajamento no debate foi o bullying e suas consequências. A série mostra como as experiências escolares podem ser marcantes e, em alguns casos, traumáticas para os adolescentes. A escola tem um papel essencial na criação de uma cultura de respeito e acolhimento.

Entre as iniciativas para prevenir e combater o bullying, destacam-se:

  • Campanhas de Conscientização Produzidas pelos Estudantes: vídeos, podcasts e cartazes criados pelos próprios jovens para sensibilizar a comunidade escolar.

  • Monitoria Estudantil: criação de grupos de estudantes mediadores, treinados para identificar e intervir em situações de bullying.

  • Espaços de Escuta Ativa: disponibilização de canais (presenciais e online) para que os estudantes possam relatar casos de violência sem medo de represálias.

  • Projetos de Teatro e Expressão Corporal: atividades artísticas que permitam aos estudantes refletirem sobre empatia e respeito ao próximo.

A série Adolescência nos convida a pensar sobre essas questões e a buscar formas de integrar esse tipo de conteúdo às práticas pedagógicas e ao diálogo com as famílias. A partir dela, podemos fortalecer a parceria entre escola e comunidade, garantindo que os jovens tenham o suporte necessário para enfrentar os desafios dessa fase.


Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Reprodução: Netflix  


Colaboradores participantes do debate:

Stefhany Fonseca Abrahão 

Djanira de Souza Correia

Maria de Lourdes de Oliveira Silva 

Edijane Maria dos Santos Gonçalves 

Francisco A.C. Mendes


O papel da imprensa jovem como veículo de comunicação e participação democrática


Quando Brecht pensou no rádio como meio de comunicação de mão dupla, talvez estivesse vislumbrando as possibilidades democráticas que ele poderia oferecer. Mais de um século depois, uma escola da zona sul de São Paulo, na região da Capela do Socorro, a EMEF Doutor Afrânio de Mello Franco, aproveitou essa ideia e os recursos tecnológicos disponíveis para criar uma experiência única: transmitir para todos os estudantes, professores e a comunidade escolar um debate ao vivo entre os candidatos ao grêmio estudantil de 2025.

Como o Laboratório de Educação Digital (LED) conta com um projeto de Imprensa Jovem atuante e comprometido em dar voz aos alunos e à comunidade escolar, surgiu o desafio de organizar um debate estudantil para discutir as propostas das chapas concorrentes ao grêmio. A princípio, a primeira ideia debatida foi reunir todos os estudantes no pátio durante uma ou duas aulas. No entanto, logo nos deparamos com alguns desafios, sendo o principal deles a questão logística: como acomodar tanta gente no mesmo espaço, ao mesmo tempo, sem gerar confusão, garantindo a participação de todos nos dois turnos? Rapidamente percebemos que essa opção exigiria uma organização complexa e, com certeza, resultaria em algumas reclamações ao final do dia.

Assista ao debate clicando na imagem

As experiências nos ensinam muito. Talvez a maior de todas tenha sido a pandemia iniciada em 2020. Com ela, vieram muito sofrimento, mas também muitas aprendizagens, inclusive tecnológicas. Foi a partir desse contexto que pensamos em um formato virtual, pois todas as salas são conectadas à internet e possuem telões e caixas de som. Ainda assim, restava solucionar a questão da interatividade, garantindo voz e participação de toda a escola de forma síncrona, ou seja, ao mesmo tempo.

No ano passado, em 2024, a Imprensa Jovem participou de uma série de eventos, incluindo a Bienal do Livro. Durante esse evento, conhecemos a ferramenta StreamYard, apresentada pelo professor Carlos Lima. Esse programa permite a transmissão ao vivo de eventos e possibilita a interação dos participantes por meio do chat. Com essa referência em mente, decidimos realizar um teste para garantir que tudo ocorresse da melhor forma possível.

No dia 20 de março, pela manhã, todas as salas estavam preparadas, os representantes das chapas estavam dentro do estúdio (nosso LED). O link foi compartilhado no grupo de WhatsApp dos professores, para que eles pudessem projetar a transmissão diretamente pelo YouTube. Um silêncio absoluto tomou conta da escola. Tensão no ar. O professor Iranildo Ramos, mediador, a postos. Apenas um clique no botão "Transmitir ao vivo", e, em poucos segundos, toda a escola assistia à vinheta de abertura do evento, com olhares atentos e admirados diante das novas possibilidades que iam além do debate. Tudo ocorreu conforme planejado: vinhetas, banners, música, falas do mediador, participação dos debatedores, chat interativo. Alguns minutos depois, um clique no botão "Parar transmissão", e gritos eufóricos ecoaram pelos corredores da escola. Como educadores, raramente nos deparamos com momentos tão marcantes. O sentimento de união, comprometimento e envolvimento com uma ideia era evidente.

Na manhã seguinte, 21 de março, realizamos a mesma transmissão, seguindo o mesmo esquema. Que debate! O mediador ressaltou a importância histórica do momento. Ao vivo, estudantes de toda a escola, equipe gestora e professores acompanharam, em silêncio, as ideias dos candidatos ao grêmio. No clique final, a mesma sensação do dia anterior: euforia e senso de dever cumprido.

Após o debate, a Imprensa Jovem aproveitou o momento para realizar uma pesquisa sobre as chapas que melhor apresentaram suas propostas. Como professor, acompanhei à distância para garantir maior autonomia aos estudantes, que circulavam com seus coletes laranja entre os demais alunos, fazendo perguntas, anotando respostas em tablets e registrando tudo com uma câmera. No período vespertino, repetimos o debate, adicionando um diferencial: uma repórter ao vivo para interagir com os alunos mais novos nas salas.

Agora, a escola está preparada para as eleições do grêmio, que acontecerão nesta segunda-feira, 24 de março, aguardando ansiosamente os vencedores. Mas já sabemos que a primeira vitória foi de todos. E não se trata apenas de uma ferramenta tecnológica. Trata-se das portas que se abrem quando colocamos os estudantes no centro do protagonismo.

Talvez alguém questione o fato de um professor ter sido o mediador do debate. No entanto, essa escolha partiu dos próprios alunos, que estavam diretamente envolvidos nas chapas e optaram por um personagem neutro para conduzir o evento.

De qualquer forma, deixo o link do debate para que o leitor possa assistir e sentir um pouco do que vivenciamos nesses dias. Não dizem que uma imagem vale mais que mil palavras? Pois é... neste caso, a imagem complementa as palavras, e eu já não encontro palavras suficientes para expressar o orgulho de termos feito história.

Produzido por: Professor Marcelo PennaPOED Doutor Afrânio de Mello Franco
Imagem: Imprensa Jovem Afrânio de Mello



terça-feira, 25 de março de 2025

Formação de Professores: Para uma Mudança Educativa Reflexões a Formação Educomunicativa


A formação de professores é um dos pilares fundamentais para a transformação da educação. No livro Formação de Professores: Para uma Mudança Educativa, Carlos Marcelo García apresenta uma análise profunda sobre os processos formativos e seu impacto na prática docente. O primeiro capítulo, intitulado “Conceito de Formação”, é essencial para compreender como a formação de professores deve ir além da simples aquisição de conhecimentos técnicos, tornando-se um processo contínuo e reflexivo. Essa visão amplia a importância da formação educomunicativa, que integra o uso crítico das mídias e tecnologias à prática pedagógica.

O que é formação de professores?

Marcelo García define a formação de professores como um processo dinâmico e permanente, que se inicia na formação inicial, mas se estende ao longo de toda a trajetória profissional. Esse conceito vai além da capacitação técnica, pois envolve o desenvolvimento de competências pedagógicas, éticas e emocionais, essenciais para enfrentar os desafios da sala de aula e promover uma educação de qualidade.

Formação inicial e formação contínua

O autor diferencia dois momentos essenciais da formação docente:

  • Formação inicial: ocorre na universidade ou em instituições de ensino superior e tem o objetivo de preparar futuros professores para a docência. Embora essa etapa seja fundamental, ela não é suficiente para garantir uma prática reflexiva e transformadora.

  • Formação contínua: abrange o aperfeiçoamento constante por meio de cursos, reflexões sobre a prática e interações com outros educadores. A formação contínua é indispensável para que o professor se adapte às mudanças sociais, tecnológicas e pedagógicas que impactam o ensino.

A formação educomunicativa como processo reflexivo

Um dos pontos centrais do capítulo é a ideia de que a formação de professores deve ser um processo reflexivo. Esse conceito se alinha com a formação educomunicativa, que propõe a integração das mídias e das tecnologias digitais à educação de maneira crítica e participativa. O professor não deve apenas utilizar as mídias como ferramentas de ensino, mas também incentivar a leitura crítica da informação, a produção midiática e a participação ativa dos estudantes na construção do conhecimento.

A formação educomunicativa possibilita que os professores desenvolvam habilidades essenciais para o século XXI, como a análise de discursos midiáticos, a identificação de desinformação (fake news) e a criação de conteúdos multimidiáticos. Além disso, fortalece o protagonismo estudantil ao estimular a expressão e a comunicação dos alunos em diversos formatos, como podcasts, vídeos, jornais digitais e projetos de rádio escolar.

Desafios e perspectivas da formação docente e educomunicativa

Carlos Marcelo García destaca que, para que a formação de professores tenha impacto real na educação, é preciso superar desafios estruturais, como a falta de tempo para estudos e aprimoramento, a desvalorização da profissão e a ausência de políticas públicas eficazes de formação continuada. No contexto da educomunicação, esses desafios se ampliam, pois ainda há resistência na adoção de práticas midiáticas na sala de aula e carência de formação específica para o uso crítico das mídias.

Entretanto, há caminhos promissores, como a criação de políticas públicas que incentivem a educação midiática e informacional, a valorização da produção estudantil e a formação de redes colaborativas de professores que compartilhem boas práticas educomunicativas.

O primeiro capítulo do livro Formação de Professores: Para uma Mudança Educativa nos convida a repensar o conceito de formação docente e sua importância para a melhoria da educação. Mais do que um conjunto de cursos ou certificações, a formação precisa ser vista como um processo contínuo de aprendizagem, reflexão e transformação. Nesse sentido, a formação educomunicativa se apresenta como um caminho essencial para preparar professores e estudantes para uma sociedade conectada, crítica e participativa. Somente assim os educadores poderão exercer seu papel de agentes de mudança, promovendo uma educação mais inovadora, democrática e alinhada às demandas do século XXI.

Texto criado inspirado pela obra Formação de Professores: Para uma Mudança Educativa de Carlos Marcelo Garcia 

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Foto: Imprensa Jovem - Orientação para produção do documentário 20 anos de Imprensa Jovem, experiência de produção de mídias por estudantes 

sábado, 22 de março de 2025

Projeto de Intervenção na Escola: O Papel do Estudante na Transformação do Meio




A escola não é apenas um espaço de ensino, mas um ambiente que deve inspirar a aprendizagem e o desenvolvimento do pensamento crítico. É nela que estudantes se deparam com conhecimentos culturais, históricos, científicos, tecnológicos, linguísticos e matemáticos. No entanto, a educação não se resume à absorção de informações – ela precisa ser transformadora, preparando meninos e meninas para compreender e interagir com os problemas do mundo real.

Mas qual é a maior dificuldade? Muitas vezes, o problema não é apenas o problema em si, mas a ausência de uma cultura escolar que capacite os estudantes a intervir. Uma intervenção social eficaz exige a construção de ações concretas para gerar impacto. Afinal, afetar o meio significa provocar mudanças reais, e isso exige estratégias eficientes.

Como o estudante pode afetar o meio ambiente?

Uma grande verdade é que quem deseja afetar precisa, primeiro, ser afetado. Isso significa que, para resolver um problema, é necessário entender profundamente suas causas e consequências. Para isso, algumas perguntas fundamentais precisam ser feitas:

  • O que o problema afeta?
  • Por que afeta?
  • Quem afeta?
  • Onde afeta?
  • Quando afeta?
  • Como afeta?

Um Exemplo Real: A Dengue na Escola

Vamos considerar um caso concreto: em uma escola, há um terreno baldio ao lado, onde ocorre descarte irregular de lixo. Esse acúmulo de resíduos cria um ambiente propício para a proliferação do mosquito da dengue, afetando diretamente a comunidade escolar.

  • Quem são os mais atingidos? As crianças, que contraem a doença com maior frequência.
  • Quais as consequências? Irmãos adolescentes precisam faltar às aulas para cuidar das crianças doentes.
  • O que agrava o problema? Apesar da existência de um ecoponto a apenas 1 km, a população continua descartando lixo no terreno.

O problema afeta diretamente os estudantes. Mas como encontrar uma solução viável para reduzir os casos de dengue?

Criando um Plano de Ação para a Intervenção

Discutir o problema significa pensar coletivamente sobre soluções possíveis. Diferentes ideias podem surgir, como:

  • Criar campanhas educativas para conscientizar sobre o descarte correto do lixo.
  • Mobilizar a comunidade escolar para solicitar à prefeitura a limpeza do local.
  • Instalar placas informativas alertando sobre os riscos do descarte irregular.

No entanto, uma proposta de intervenção vai além de sugestões isoladas. É necessário estruturar um objetivo claro, que oriente ações eficazes.

Projeto de Intervenção social desenvolvido pelos estudantes da EMEF Raimundo Correia

Definição de um Objetivo Estratégico

Uma abordagem estratégica começa com uma pergunta fundamental: Qual é o objetivo da intervenção?

Se o objetivo for apenas “conscientizar as pessoas para que não joguem lixo”, ele pode parecer idealista, mas não traz um plano concreto. Para ser eficaz, o objetivo deve ser ponderável e alcançar um plano de ação estruturado.

Proposta de Objetivo:

Criar mecanismos de comunicação para sensibilizar a comunidade sobre os impactos do descarte de lixo no terreno próximo à escola.

Efeito Esperado:

A população perceberá que o lixo acumulado está contribuindo para o aumento de casos de dengue e afetando diretamente seus filhos.

Resultados Esperados:

Redução do descarte de lixo no terreno e aumento do uso do ecoponto.

Atividades Planejadas:

  1. Campanha nas redes sociais sobre os riscos da dengue e o impacto do lixo no ambiente escolar.
  2. Criação de cartazes informativos sobre o descarte adequado de resíduos, incentivando o uso do ecoponto.
  3. Produção de um jornal comunitário abordando os perigos da dengue e as medidas preventivas.
  4. Ocupação e ação cultural do terreno, Organizar, junto a voluntários da comunidade, um mutirão de limpeza do espaço em um final de semana. Em seguida, promover uma ocupação cultural com eventos artísticos e recreativos, envolvendo moradores e fortalecendo o senso de pertencimento. A iniciativa também servirá para chamar a atenção do poder público, destacando a importância da revitalização e do uso comunitário do local.

A Importância do Engajamento Coletivo

Um plano de ação não pode ser apenas efetivo, mas também afetivo. Ele deve estar alinhado aos interesses da comunidade e estimular a participação ativa de todos. Além de buscar soluções imediatas, a intervenção precisa fortalecer um compromisso coletivo para a manutenção das mudanças a longo prazo.

No fim das contas, a escola não deve ser apenas um lugar onde os problemas são discutidos, mas um espaço onde estudantes aprendem a agir para resolvê-los. Afinal, transformar o mundo começa dentro da própria comunidade!

Inspiração da Crônica Educomunicativa

Este texto foi inspirado na aula do curso experimental Educomunicação Socioambiental, precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas,  que foram apresentadas propostas para construção de um plano de ação voltado à mitigação das mudanças climáticas. A abordagem desta crônica destaca a importância da educomunicação como ferramenta para mobilizar comunidades, ampliar a conscientização ambiental e incentivar ações concretas em prol da sustentabilidade.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Imagem : Professoras do curso Educomunicação Socioambiental produzindo proposta de intervenção para mitigar o desperdício de alimentos na escola - Acervo particular 


sexta-feira, 21 de março de 2025

Criar programa de podcast Podconversar passo a passo

O Podconversar nasceu no contexto do G20 Brasil, durante as coberturas jornalísticas realizadas pelo Imprensa Jovem em eventos na cidade de São Paulo. Durante essas coberturas, percebemos que os estudantes demonstravam um grande interesse em aprofundar os debates, entrevistando especialistas e discutindo temas relevantes para a juventude. Foi assim que surgiu a ideia de criar um podcast produzido pelos próprios jovens.

A estreia do Podconversar aconteceu com uma entrevista especial com Marcos Barão, Coordenador Nacional da Juventude, realizada em Brasília pelos estudantes da EMEF Josué de Castro, da Zona Oeste de São Paulo. A conversa abordou questões essenciais para o futuro da juventude no Brasil e no mundo.

Playlist do programa Podconversar  - clique na imagem

A iniciativa cresceu rapidamente e, em pouco tempo, o Podconversar tornou-se o canal oficial de podcast da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. A partir daí, escolas de diferentes regiões começaram a sediar novas entrevistas quinzenalmente, abordando temas como Internet Segura, LGPD, Vape e Narguilé entre jovens, entre outros assuntos de interesse dos estudantes.

O sucesso foi tanto que um estúdio móvel do Podconversar foi montado em grandes eventos, como a Bienal do Livro, o Congresso Municipal de Educação, a Mostra de Tecnologia e o Encontro Municipal do Grêmio, com estrutura profissional de equipamentos e transmissão ao vivo. Os estudantes deram conta do recado, produzindo quase 20 episódios entre meados de 2024 e o presente.

Como o Podconversar foi realizado por crianças e adolescentes sem experiência?

A fórmula para o sucesso foi uma estratégia de formação simples, descomplicada e objetiva. Para que o programa acontecesse, foi necessário:

  • Escolher um tema de interesse para o debate;
  • Selecionar um convidado com conhecimento sobre o assunto;
  • Realizar pesquisa e levantar pautas relevantes para a entrevista;
  • Criar um roteiro estruturado para conduzir o programa;
  • Utilizar notebooks ou celulares com fones de ouvido para gravação;
  • Contar com um recurso de transmissão (como StreamYard ou YouTube Live);
  • Ter um canal no YouTube ou Facebook para veicular o episódio.

Gerador de Roteiro

O roteiro é essencial para organizar a conversa e garantir um fluxo natural. Ele deve conter introdução, desenvolvimento e encerramento, com espaço para apresentações, perguntas, diálogos e agradecimentos.

Para facilitar esse processo, um formulário Gerador de Podcast foi desenvolvido. Os participantes preenchem as informações e recebem automaticamente um protótipo de roteiro por e-mail, pronto para ser utilizado.

Clique para cadastrar o seu programa 

Aulão de Educomunicação : Criar programa Podconversar


Como organizar a transmissão?

Para transmitir um episódio do Podconversar, utilizamos a plataforma StreamYard, que permite a transmissão ao vivo pelo YouTube e Facebook. O processo é simples:

  1. Criar um canal no YouTube ou página no Facebook;
  2. Configurar uma transmissão ao vivo;
  3. Convidar os participantes (entrevistador, entrevistado, host);
  4. Ajustar microfone e câmera no computador ou celular;
  5. Garantir um enquadramento adequado, utilizando captação horizontal;
  6. Iniciar a transmissão;
  7. Editar o vídeo no YouTube, caso necessário.

Mais detalhes sobre a transmissão podem ser encontrados no Manual StreamYard para Podconversar. Clique para acessar . Assista os vídeos aulas do Streamyard Clique



Dicas para uma transmissão de qualidade

  • Teste o áudio e a imagem antes de começar;
  • Evite fundos com contraluz ou imagens distorcidas;
  • Escolha um ambiente silencioso para evitar ruídos externos;
  • Mantenha um enquadramento centralizado, com a cabeça próxima ao topo da imagem ("teto baixo");
  • Fique atento durante toda a transmissão, mesmo quando não estiver na tela;
  • Desative o microfone quando não estiver falando, para evitar interferências;
  • Mantenha um tom descontraído e natural, sempre atento às falas dos participantes;
  • Nunca desligue a câmera antes de sair da transmissão.

Como editar o episódio após a transmissão?

A edição do episódio pode ser feita diretamente no YouTube Studio, algumas horas após a transmissão. No menu Meus Vídeos, basta selecionar "Editar" para:

  • Cortar trechos indesejados;
  • Adicionar trilha sonora;
  • Incluir banners e legendas.

Essa experiência com o Podconversar não apenas fortaleceu a Educomunicação na Rede Municipal de Ensino, mas também permitiu que estudantes desenvolvessem habilidades de comunicação, pesquisa e produção de conteúdo, tornando-se protagonistas na criação de um podcast genuinamente jovem.

Por Carlos Lima – Educomunicador e Professor

Imagem - Acervo Núcleo de Educomunicação 

quarta-feira, 19 de março de 2025

Inteligência Artificial na Educação: Desafios e Possibilidades

 

A Inteligência Artificial (IA) está reformulando diversos setores, e a educação não é exceção. Com seu crescimento acelerado, precisamos compreender seus impactos e garantir um uso ético e eficaz nas escolas. Como podemos aproveitar seu potencial sem comprometer a aprendizagem e a autonomia , expressão e criatividade dos estudantes?

IA e a verdade: Devemos confiar?

Uma das principais questões sobre IA é que "ela não tem compromisso com a verdade". Os modelos de IA geram respostas com base em padrões de dados, sem garantir a veracidade dos fatos. Por isso, é fundamental ensinar estudantes e professores a desconfiar e cotejar, ou seja, a validar informações e questionar as respostas geradas.

O impacto da IA na aprendizagem

Embora a IA possa ser uma ferramenta poderosa, seu uso excessivo pode levar ao empobrecimento do processo de aprendizagem. A dependência dessas tecnologias pode reduzir o pensamento crítico e a capacidade de análise dos estudantes. É essencial que educadores compreendam os limites dessas ferramentas e garantam que a aprendizagem ativa continue sendo prioridade.

Quadro Imprensa Jovem no Ar apresenta a I.A. na Educação

Outro ponto de discussão é que a IA pode escrever melhor que humanos em alguns casos, o que levanta o desafio de preservar o desenvolvimento da criatividade e do pensamento original dos alunos. A recomendação é clara: usar com critério.


IA e a personalização da educação

A IA tem o potencial de tornar o acompanhamento do estudante mais fino, auxiliando professores a identificar dificuldades individuais e adaptar os conteúdos de acordo com as necessidades específicas de cada aluno. Porém, é necessário colocar limites para que o papel do professor não seja reduzido e a autonomia do estudante seja preservada.

Com o déficit de professores, a IA pode ajudar na criação de novos recursos educacionais, mas nunca substituir a relação humana na educação. Além disso, essa tecnologia modifica o jeito de oferecer aulas, abrindo espaço para novas dinâmicas e experiências de aprendizagem.

Encontro Ponto de Encontro - IA na Educação 

Novos modelos de aprendizagem

A IA desafia a educação tradicional, que normalmente trabalha com a média dos estudantes. Agora, podemos caminhar para uma educação personalizada, onde cada aluno aprende no seu próprio ritmo. Esse novo tipo de aprender possibilita a adaptação do ensino às necessidades individuais, tornando o aprendizado mais significativo.

O professor continua essencial nesse cenário, pois a IA não deve concorrer com o educador, mas sim personalizar o ensino. Para isso, é preciso conhecer o estudante e utilizar os dados de forma responsável para garantir um ensino realmente inclusivo e eficiente.

Desafios e regulação da IA na educação

A presença da IA na educação levanta questões urgentes, como:

  • Novas matérias escolares: Como preparar os estudantes para um mundo impulsionado pela IA?

  • Regulação e governança: Precisamos definir diretrizes para um uso responsável dessa tecnologia.

  • Saber perguntar: Desenvolver a habilidade de formular boas perguntas se torna essencial na era da IA.

  • Convivência com IA no cotidiano: Desde assistentes virtuais até algoritmos de recomendação, a IA já está presente na nossa rotina.

Além disso, é necessário discutir o impacto dos dados enviesados na IA. Como os sistemas aprendem a partir de dados históricos, podem reproduzir preconceitos e desigualdades. Isso reforça a importância de garantir diversidade e inclusão na educação digital. O letramento digital se torna essencial para que professores e estudantes façam um uso consciente dessas ferramentas.

A IA tem um imenso potencial para personalizar e melhorar a educação, mas também apresenta desafios que precisam ser debatidos e regulados. Seu uso deve ser criterioso, sempre respeitando a autonomia do estudante e fortalecendo o papel do professor. Para que isso aconteça, é essencial investir em transparência, letramento digital e governança, garantindo que a IA seja uma aliada na construção de um ensino mais inovador e inclusivo.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem -  Reprodução site newvoiceai

Cronicas sobre o tema

IA e quando chegar na Educação acesse

Reflexões sobre algoritmos e responsabilidade social   acesse

Educomunicação: Dominando o ChatGPT na Educação  acesse


segunda-feira, 17 de março de 2025

Matemática e Educomunicação: Transformando o Aprendizado com o Imprensa Jovem





A Matemática é frequentemente vista como uma disciplina desafiadora e abstrata pelos estudantes. No entanto, quando combinada com a Educomunicação, ela pode se tornar uma experiência mais envolvente e significativa. O uso de produção midiática, pesquisa científica e leitura crítica da mídia são estratégias que ajudam a conectar a matemática ao mundo real, despertando maior interesse nos alunos. Nesta crônica educomunicativa, vamos explorar como os professores de matemática podem utilizar a Educomunicação para transformar suas aulas e desenvolver projetos para engajar os estudantes na aprendizagem matemática.

O Papel da Educomunicação na Aprendizagem Matemática

A Educomunicação promove um ambiente interativo e participativo, no qual os estudantes deixam de ser apenas receptores de conhecimento e passam a atuar como produtores de conteúdo. Isso permite que eles investiguem temas matemáticos sob uma nova perspectiva, utilizando diferentes linguagens midiáticas, como podcasts, vídeos e reportagens.

Por que Integrar a Matemática com a Educomunicação?

  • Leitura Crítica da Mídia: Muitos dados estatísticos, gráficos e porcentagens são apresentados na mídia de forma manipulada. Ensinar os estudantes a analisar essas informações de maneira crítica desenvolve seu pensamento lógico e sua capacidade de interpretar números de forma mais consciente.

  • Pesquisa Científica: A matemática está presente em diversos aspectos do cotidiano, e os estudantes podem investigar como ela influencia diferentes áreas, desde economia até tecnologia e ciências ambientais.

  • Produção de Conteúdos Digitais: Criar podcasts, vídeos e reportagens investigativas permite que os alunos expressem seus aprendizados de forma dinâmica e criativa, fortalecendo a comunicação oral e escrita.

  • Uso de Ferramentas Digitais: Softwares como GeoGebra e Desmos auxiliam na modelagem matemática, enquanto planilhas e IA podem ser usadas para análise de dados.

Como Aplicar a Educomunicação na Aula de Matemática?

  1. Desafios Midiáticos: Proponha que os alunos analisem reportagens sobre estatísticas e criem materiais explicativos para corrigir distorções matemáticas.

  2. Produção de Podcasts: Os estudantes podem entrevistar especialistas ou criar episódios explicando conceitos matemáticos aplicados ao cotidiano.

  3. Gamificação e Stop Motion: Utilizar animações e desafios interativos pode tornar temas complexos mais acessíveis e divertidos.

  4. Investigação e Infográficos: Incentive os alunos a realizarem pesquisas matemáticas e apresentarem seus achados em gráficos e relatórios visuais.

Imprensa Jovem: A Matemática em Ação

O projeto Imprensa Jovem, já consolidado como um espaço de protagonismo estudantil na produção midiática, pode ser um grande aliado para os professores de matemática. Através dele, os alunos podem criar conteúdos jornalísticos que explorem temas matemáticos, como economia, estatísticas sociais e ciência de dados, desenvolvendo um olhar mais crítico e analítico.

Resultados Esperados

  • Aprimoramento da análise crítica e da interpretação de dados matemáticos na mídia.

  • Maior engajamento dos alunos por meio da produção de conteúdos midiáticos.

  • Desenvolvimento de habilidades de comunicação, argumentação e pensamento lógico.


A integração entre Matemática e Educomunicação permite que os estudantes compreendam a importância dos números no dia a dia e desenvolvam uma relação mais próxima e interessante com a disciplina. Professores que adotam essa abordagem criam oportunidades para que seus alunos se tornem mais críticos, criativos e preparados para os desafios do século XXI.

Se você é professor de matemática e quer inovar em suas aulas, que tal experimentar a Educomunicação? O Imprensa Jovem pode ser a ponte para transformar sua prática pedagógica!

Produzido por Carlos Lima: Educomunicador e professor

Foto: Site Núcleo de Educomunicação

sábado, 15 de março de 2025

Onde a Educomunicação se Aproxima da Ciência?



A Educomunicação, embora seja frequentemente associada à mídia na escola, tem um enorme potencial para dialogar com diversas áreas do conhecimento, incluindo as Ciências. Em programas educacionais que ampliam a jornada escolar, como o Programa Mais Educação, em São Paulo, a Educomunicação se manifesta por meio de projetos como Radioescola, produção audiovisual, Cinema, Jornal, Fotografia, HQ, Agência de Notícias Estudantis e Mídias Sociais. Esses formatos não apenas promovem a expressão comunicativa dos estudantes, mas também criam oportunidades para que a Ciência seja explorada e divulgada de forma acessível e envolvente.

As possibilidades são inúmeras: desde a criação de podcasts científicos, passando por vídeoaulas e animações, até a organização de cineclubes com debates sobre temas científicos. No entanto, um dos aspectos mais valiosos dessa conexão está no jornalismo estudantil, particularmente nos projetos Imprensa Jovem e Imprensa Mirim, que utilizam uma metodologia semelhante à do método científico para planejar e construir conteúdos.

Aula Educom&Clima discutindo interface da  Educomunincação e Ciências

A interface Educomunicação e Ciências  foi foco do sexto encontro da turma experimental do curso Educomunicação Socioambiental: precisamos conversar sobre emergência climática nas escolas”. Esta formação tem como o objetivo ampliar e melhorar a educação sobre mudanças climáticas nas escolas públicas. A proposta é usar a educomunicação para abordar o tema de forma mais engajadora e contextualizada, indo além de apenas repassar informações. A formação está alinhado com a Agenda 2030 da ONU, especialmente com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima), e busca integrar a educação climática às políticas públicas e práticas já existentes nas escolas. 

Educomunicação e Pesquisa Científica: Um Caminho em Comum

O processo educomunicativo parte do planejamento de uma pauta e segue até a publicação do conteúdo. Esse percurso tem um viés processual e participativo, muito parecido com o método científico. A investigação é uma etapa essencial, que começa com o levantamento de informações sobre o tema e culmina na construção de perguntas – fundamentais para entrevistas e reportagens.

Um exemplo claro dessa relação é o documentário. Essa forma de produção audiovisual se baseia na investigação e na apresentação de evidências dos fatos. Embora um documentário tenha um caráter narrativo e interpretativo, sua construção se aproxima do rigor científico, pois requer pesquisa, checagem de informações e organização lógica dos dados.


Rolê Científico - Projetos de visitas a Centro de Pesquisas e Museus Científicos na USP 

Assim, a Educomunicação apoia o desenvolvimento do senso crítico dos estudantes, incentivando a pesquisa e promovendo a criatividade e a expressão comunicativa. Essa abordagem permite que os jovens não apenas aprendam Ciências, mas também produzam conhecimento, transformando-se em protagonistas do próprio aprendizado.

Como Trabalhar a Educomunicação nas Aulas de Ciências?

A Educomunicação pode ser um mecanismo de iniciação científica, engajando jovens na pesquisa e na produção de conteúdos científicos para diferentes plataformas de mídia. Veja algumas possibilidades:

Integração entre Pesquisa Científica e Produção Midiática

A estrutura do jornalismo estudantil e do método científico compartilha etapas semelhantes:

  • Observar um fenômeno ou tema relevante.
  • Perguntar sobre o assunto, levantando hipóteses ou pontos de investigação.
  • Pesquisar e entrevistar especialistas para validar informações.
  • Analisar dados e fontes para garantir credibilidade.
  • Publicar os resultados em diferentes formatos (podcast, vídeo, reportagem, HQ, jornal estudantil).

Entrevistas Além do Tempo é um HQ que conta a história de 3 cientista americanas negras que são entrevista por estudantes do Imprensa Jovem 

Uso de Diferentes Meios de Comunicação

A Educomunicação permite que as Ciências sejam exploradas em múltiplas linguagens:

  • Podcast Científico: Entrevistas com especialistas, explicação de fenômenos científicos, debates sobre temas da atualidade.
  • Rádioescola/Web Rádio: Programas sobre curiosidades científicas, experimentos e descobertas.
  • Jornal Comunitário Estudantil: Reportagens sobre ciência na escola, pesquisas desenvolvidas pelos alunos, divulgação de eventos científicos.
  • Vídeos e Animações: Explicação de teorias científicas em formato acessível.
  • HQs Científicas: Uso da narrativa visual para abordar conceitos científicos de maneira lúdica.

Educação Científica e Tecnológica na Tomada de Decisão

A Alfabetização Científica e Midiática permite que os estudantes compreendam a importância da ciência na sociedade e tomem decisões embasadas. Quando Ciências e Educomunicação caminham juntas, os alunos passam a questionar, investigar e compartilhar descobertas, ampliando sua visão crítica e seu protagonismo na construção do conhecimento.

Clube de Ciências- YouTube Mirim - Projetos desenvolvido pelos estudantes para divulgação de experimentos científicos 

A Educomunicação não apenas facilita a aprendizagem de Ciências, mas também torna o processo mais dinâmico e interativo. Ao integrar a produção midiática à pesquisa científica, os estudantes desenvolvem curiosidade investigativa, pensamento crítico e habilidades comunicativas, elementos essenciais para a formação de cidadãos ativos e bem-informados no século XXI.

Por Carlos Lima - Educomunicador e professor

Imagem: Reprodução TV Cultura : Boas Práticas - Clube de Leitura - EMEF José Amadei

quinta-feira, 13 de março de 2025

O Grêmio Estudantil: Quando a Juventude Toma as Rédeas do Futuro


Em cada corredor, em cada sala de aula e nos encontros entre amigos no intervalo, algo muito maior acontece além das aulas e provas. Nossa escola não é apenas um espaço de aprendizado acadêmico, mas um terreno fértil para a formação de cidadãos críticos, ativos e protagonistas da própria história. E é nesse cenário que o Grêmio Estudantil se torna peça-chave na construção de uma escola verdadeiramente democrática.

Neste ano, testemunhamos um momento especial: duas chapas disputando a representação dos estudantes – a Revolução Jovem e a Periferia Tá On. Cada uma com sua identidade, propostas e sonhos, mas ambas com um propósito comum: fortalecer a voz estudantil e tornar a escola um espaço mais inclusivo, participativo e transformador.

Mas por que isso importa tanto? Porque participar do Grêmio Estudantil não é só assumir um cargo, organizar eventos ou representar os colegas. É uma revolução silenciosa na forma como enxergamos o mundo e nosso papel nele. Quem participa descobre que pode – e deve – ser agente de mudança. Aprende a argumentar, a liderar, a ouvir diferentes perspectivas e a construir soluções coletivas. E mais do que isso: desenvolve uma consciência de que democracia não é algo abstrato ou distante, mas uma construção diária que começa dentro da escola.

Para quem acha que a escola é um espaço apenas de repasse de conhecimento, o Grêmio Estudantil prova o contrário. Através dele, os alunos deixam de ser meros espectadores e tornam-se protagonistas, entendendo que sua voz tem peso e que sua participação pode redefinir rumos. Cada proposta apresentada, cada debate realizado e cada conquista obtida são sinais de que a juventude não está passiva – está atenta, atuante e disposta a fazer a diferença.

Independentemente de qual chapa tenha levado a eleição, o verdadeiro vencedor é o coletivo estudantil. Porque quando há disputa de ideias, engajamento e mobilização, há um fortalecimento da cultura democrática que transcende os muros da escola. E esse é o maior legado do Grêmio: formar jovens que compreendem seu papel na sociedade e que sabem que podem transformar o que for preciso.

Que essa eleição seja apenas um dos muitos passos rumo a uma escola mais democrática, diversa e potente. E que os estudantes nunca percam essa chama de protagonismo, pois é nela que reside a verdadeira revolução.

Texto produzido por Patty Fernandes 

Publicado no blog 

https://educomunicarse.blogspot.com

terça-feira, 11 de março de 2025

Casa da Educomunicação: Transformando a Escola em um Espaço de Aprendizagem Midiática

 


Quando falamos em casa, imediatamente nos vem à mente um espaço de acolhimento, de pertencimento, de trocas e aprendizados. É um lugar onde crescemos, compartilhamos histórias e construímos relações. No campo da educação, a ideia de casa também pode ser vista como um espaço de desenvolvimento humano e diálogo, onde o conhecimento se torna parte da vida cotidiana e da comunidade.

Uma iniciativa inspiradora nesse sentido é a Fundação Casa Grande, localizada no sertão brasileiro, que promove a formação de jovens pelo e com a comunicação. O projeto se tornou referência ao integrar a cultura, a memória e a educomunicação, fortalecendo o protagonismo juvenil. Iniciativas como essa mostram que é possível transformar espaços educativos em ambientes de aprendizagem ativa, colaborativa e comunitária, onde os estudantes são protagonistas da sua própria formação.

Inspirado nesse conceito, desenvolvi esta crônica educomunicativa para apresentar a Casa da Educomunicação, uma proposta que transforma a escola em um verdadeiro centro de produção de conhecimento, criatividade e participação social.

O que é a Casa da Educomunicação?

A Casa da Educomunicação é um espaço dentro da escola onde os estudantes podem explorar diferentes formas de comunicação e expressão midiática, por meio de projetos de Rádio Escola, Produção Audiovisual, Agência de Notícias Imprensa Jovem, Jornalismo Estudantil, Cineclube, Gibiteca, Laboratório de Fotografia e Jornal Impresso.

A proposta visa ampliar a jornada escolar e fortalecer a educação integral, utilizando os recursos já disponíveis na escola, como laboratório de informática, biblioteca, pátio e salas de aula. Dessa forma, o projeto não gera novas demandas estruturais, mas ressignifica o uso dos espaços e tecnologias, tornando o investimento mais acessível.

Além disso, o projeto pode ser desenvolvido de forma colaborativa por três a seis professores, atendendo até 20% dos estudantes da escola, garantindo uma experiência significativa e inovadora.

Por que transformar a escola em uma Casa da Educomunicação?

Assim como a Fundação Casa Grande transforma vidas por meio da comunicação, a Casa da Educomunicação propõe um modelo pedagógico baseado na participação ativa dos estudantes, incentivando o pensamento crítico, a criatividade e a apropriação das mídias como ferramentas de aprendizagem.

A educomunicação fortalece a relação da escola com a comunidade, promovendo um espaço onde os estudantes não apenas aprendem, mas também criam, comunicam e interagem com o mundo ao seu redor.

Como funciona a Casa da Educomunicação?

O projeto combina formação e prática, criando um ambiente onde os estudantes experimentam e produzem conteúdos midiáticos. Algumas das principais atividades incluem:

  • Jornalismo Estudantil – Leitura crítica da mídia, análise de jornais e revistas, produção de jornal comunitário, mural informativo e fanzines.
  • Rádio Escola – Produção de podcasts e programas ao vivo no pátio da escola.
  • Agência de Notícias Imprensa Jovem – Produção de reportagens, entrevistas e checagem de fake news no Laboratório de Educação Digital.
  • Gibiteca – Atividades de leitura e criação de histórias em quadrinhos e fanzines na sala de leitura ou biblioteca.
  • Produção Audiovisual – Criação de vídeos e documentários utilizando celulares e computadores da escola.
  • Laboratório de Fotografia – Aprendizado de técnicas fotográficas e realização de ensaios no pátio e em outros espaços escolares.
  • Cineclube – Exibição de filmes seguida de debates, promovendo a alfabetização audiovisual e o senso crítico.

Jornalismo Estudantil: A Escola Como Espaço de Leitura Crítica da Mídia

A Casa da Educomunicação também fortalece o Jornalismo Estudantil, promovendo práticas de leitura crítica da mídia e incentivando os estudantes a compreenderem como a informação circula na sociedade. As atividades incluem:

  1. Leitura e análise de jornais e revistas – Reflexão sobre a construção das notícias, imparcialidade e interesses midiáticos.
  2. Criação de um Jornal Comunitário – Produção de conteúdos escolares que podem ser impressos ou digitais.
  3. Mural Informativo – Atualizado pelos estudantes, trazendo notícias da escola e da comunidade.
  4. Produção de Fanzines – Uma abordagem lúdica para expressar ideias, reflexões e narrativas visuais.

Educomunicação e Desenvolvimento Humano

Assim como a Fundação Casa Grande, que inspira transformações educacionais por meio da cultura e da comunicação, a Casa da Educomunicação propõe uma escola mais conectada com os interesses e desafios do mundo contemporâneo.

A proposta está alinhada ao ODS 4 (Educação de Qualidade) e busca desenvolver uma educação que valoriza o diálogo, a criatividade e a participação dos estudantes na construção do conhecimento.

A escola pode – e deve – ser um espaço de acolhimento, troca e protagonismo juvenil. A Casa da Educomunicação é um convite para transformar esse ideal em realidade.

Que tal começar essa jornada na sua escola?

Por: Carlos Lima - Educomunicador e professor 

Foto: Reprodução Blog Fundação Casa Grande

Conheça Fundação Casa Grande [Acesse]

 

sexta-feira, 7 de março de 2025

Vamos falar sobre Bem Viver na escola?


Quando você pensa em Bem Viver, o que vem à sua mente? E na escola, como podemos aplicar essa filosofia no dia a dia?

O conceito de Bem Viver tem raízes nas comunidades indígenas andinas, em especial entre os Quéchuas, que há séculos vivem em harmonia com a natureza e entre si. Seu princípio fundamental é o equilíbrio: viver de forma respeitosa, solidária e dialógica, construindo relações baseadas na reciprocidade e no respeito mútuo.

Quem sistematizou e popularizou essa concepção foi Alberto Acosta, economista e pesquisador, que ajudou a incluir os Direitos da Natureza na Constituição do Equador. Para ele, o Bem Viver não é apenas uma filosofia, mas um modelo de organização social que propõe novas formas de convivência entre os seres humanos e a natureza.

Princípios do Bem Viver

Bem Viver orienta a vida em comunidade e pode ser traduzido em algumas práticas essenciais:

  • Valorizar a reciprocidade, a amizade fraterna e o respeito pela terra
  • Reconhecer e respeitar as diferentes identidades culturais
  • Promover uma economia solidária e sustentável
  • Repensar padrões de produção e consumo, buscando qualidade de vida para todos
  • Fortalecer a soberania com modelos de produção local
  • Estimular a participação ativa na política e na vida comunitária
  • Fomentar a economia interna e externa de forma complementar
  • Questionar e reinventar estruturas políticas tradicionais
  • Priorizar o crescimento com qualidade, não apenas com quantidade

O que o Bem Viver tem a ver com a escola?

A escola é um espaço de relações humanas. Professores, estudantes, famílias, funcionários, gestores e a comunidade formam um ecossistema vivo e dinâmico, onde os conflitos fazem parte do cotidiano. Mas será que a escola está preparada para lidar com esses conflitos de forma construtiva?

O estudante é o centro da escola, mas cada um é um sujeito único, com experiências e desafios distintos. Esses sujeitos não apenas vivem a escola, mas a transformam. Quando os conflitos surgem, muitas vezes vemos a escola presa em um ciclo contínuo de tensões e tentativas de mediação que nem sempre resolvem a raiz do problema.

Se, em vez de apenas remediar os conflitos, a escola adotasse uma cultura de Bem Viver, poderíamos ir além da mediação e investir na construção de uma Cultura de Paz. Isso significaria transformar as relações escolares, tornando-as mais colaborativas, respeitosas e dialógicas desde o princípio.

Educomunicação como ferramenta para o Bem Viver

Em 2001, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo adotou o projeto Educom.Rádio como estratégia para promover a paz em escolas localizadas em regiões de alta vulnerabilidade social. Por meio das ondas do rádio, estudantes e professores passaram a usar a comunicação para transformar a realidade escolar.

Educomunicação atua como um antídoto contra a violência escolar, pois fortalece a escuta ativa, o diálogo e o protagonismo juvenil. Quando os estudantes compreendem o ecossistema comunicativo da escola e têm voz ativa, tornam-se agentes de mudança, contribuindo para um ambiente mais colaborativo e respeitoso.

Se queremos romper com o ciclo de conflitos na escola, precisamos investir em práticas que fortaleçam a Cultura de Paz. O Bem Viver pode ser um caminho poderoso, e a Educomunicação pode ser a ferramenta essencial para construí-lo. Afinal, uma escola que valoriza a expressão, o diálogo e a participação ativa de todos é uma escola que verdadeiramente promove o Bem Viver.

Por Carlos Lima : Educomunicador e professor 

Foto: Yasmin Ribeiro - Imprensa Jovem EMEF Josué de Castro 



quinta-feira, 6 de março de 2025

Como Apresentar seu Projeto de Educomunicação no Conselho de Escola

 



O Conselho de Escola é uma instancia de participação formado por  representantes da gestão escolar, professores, pais e estudantes. Ele tem a função de deliberar sobre questões pedagógicas e validar projetos que ampliam a jornada escolar.

Para que seu projeto de Educomunicação seja aprovado, é fundamental apresentar de forma clara e objetiva sua finalidade, impacto na aprendizagem e viabilidade. Esse processo, que pode durar cerca de 30 minutos, exige um planejamento cuidadoso. Dois aspectos são essenciais:

  • Apresentação dos conteúdos do projeto (o que é, como funciona e por que é importante)
  • Comunicação do projeto (clareza, concisão e engajamento do público)

A seguir, um passo a passo para tornar sua apresentação mais eficiente.

Passo 1: Roteirizar sua Apresentação

O Conselho de Escola é composto por um público diverso. Portanto, sua explicação deve ser compreensível para todos. Antes de estruturar os slides, responda:

  1. O que os pais, professores e estudantes gostariam de saber sobre o projeto?
  2. Por que o projeto é importante para a educação dos participantes?
  3. Como ele será desenvolvido? (atividades práticas, saídas pedagógicas, parcerias externas, se houver)
  4. Quem participará do projeto? (estudantes, professores, comunidade escolar, especialistas convidados, etc.)

Com essas respostas organizadas, monte um roteiro objetivo no PowerPoint.

Passo 2: Estruturando os Slides

Uma boa apresentação segue uma lógica de do geral para o específico, semelhante a um pitch.

Sugestão de estrutura com até 5 slides:

  1. Slide 1 – Abertura

    • Nome do projeto
    • Imagem impactante ou pergunta mobilizadora
    • Frase curta que resuma a essência do projeto
  2. Slide 2 – Por que desenvolver o projeto?

    • Contexto e necessidade do projeto na escola

    • Benefícios para os estudantes e a comunidade escolar
  3. Slide 3 – O que é o projeto?

    • Objetivo principal
    • Breve explicação sobre o conceito do projeto
  4. Slide 4 – Como funciona?

    • Principais atividades (mínimo 5, máximo 10 itens)
    • Frequência e formato das ações (oficinas, produções midiáticas, entrevistas, etc.)
  5. Slide 5 – Quem participa e como será a rotina?

    • Envolvidos (estudantes, professores, convidados, etc.)
    • Possibilidades de ampliação e continuidade

Dicas para os slides:

Layout limpo (fundo claro, fonte Arial preta)
Títulos em tamanho 24, textos em tamanho 16
Poucas imagens (máximo 1 por slide)
Disponibilize a apresentação via QR Code ou link

Passo 3: Apresentação e Interação

Após a exposição do projeto, utilize 1/3 do tempo para responder perguntas e acolher sugestões. Seja objetivo e demonstre flexibilidade para ajustes, caso necessário.

Se o projeto for validado, ele segue para aprovação do supervisor de ensino. Esse é um momento importante para consolidar sua proposta na escola!

Exemplo de Apresentação: Projeto Imprensa Mirim

Slide 1 – Abertura

📌 Título: Imprensa Mirim – Pequenos Jornalistas, Grandes Vozes
📷 Imagem: Crianças segurando microfones e câmeras de brinquedo
🗨️ Frase de impacto: "Toda criança tem uma história para contar!"

Slide 2 – Por que desenvolver o projeto?

  • As crianças da Educação Infantil e do ciclo de alfabetização são naturalmente curiosas e comunicativas.
  • O projeto fortalece a oralidade, a criatividade e a escuta ativa.
  • Incentiva o protagonismo infantil e a produção midiática desde cedo.

Slide 3 – O que é o projeto?

  • Um projeto educomunicativo que transforma os alunos em pequenos repórteres.
  • As crianças produzem podcasts, vídeos curtos e fotos sobre temas do cotidiano escolar.

Slide 4 – Como funciona?

📌 Principais atividades:

  1. Oficinas lúdicas sobre comunicação e jornalismo
  2. Entrevistas com professores e funcionários da escola
  3. Produção de podcasts sobre temas infantis
  4. Fotografia e registro de momentos escolares
  5. Exposição e compartilhamento dos materiais produzidos

Slide 5 – Quem participa e como será a rotina?

  • Estudantes: crianças da Educação Infantil e do primeiro ciclo do Ensino Fundamental
  • Professor(a): mediador(a), facilitador(a) e reponsável pelo projeto
  • Parcerias: possibilidade de participação de outros professores ou parceiros de organizações ou voluntários

Apresentar um projeto no Conselho de Escola exige planejamento e objetividade. Ao seguir esses passos, você terá mais chances de aprovação e engajamento da comunidade escolar.

Lembre-se: quanto mais clara e envolvente sua apresentação, maior será a adesão ao projeto!


Por Carlos Lima: Educomunicador e professor
Imagem:  Acervo Imprensa Jovem

Educomunicação e Protagonismo Estudantil: Quando o Clima Entra em Pauta nas Escolas

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